Cuidado Rachel Sheherazade, salário mínimo é controle

05/02/2014 15:00 Atualizado: 05/02/2014 15:00

A jornalista Rachel Sheherazade tem conquistado com muita competência a simpatia do público conservador, que tem estado durante anos extremamente carente de comunicadores de massa cuja voz os represente.

Não por acaso, com seu estilo firme, daquelas pessoas tão raras nos dias de hoje que têm a coragem de dizer sim para o sim e não para o não, tornou-se conhecida desde a sua terra natal, o pequeno estado da Paraíba, para se tornar a colunista mais preciosa da rede SBT, mesmo enfrentando a mais pura animosidade por conta dos seus jornalistas esquerdistas que vivem de declarar seu amor pela pluralidade, desde que seja a deles.

Admiro muito esta profissional, no tanto em que reconheço que poderia emprestar sua beleza a serviço do discurso politicamente correto e assim ter escalado sua posição com menos transtornos e muito mais apoio entre os da sua classe.

Todavia, meus amigos, hoje é dia do puxão de orelha. Refiro-me ao vídeo publicado no Youtube intitulado “O mínimo não é máximo”, no qual ela critica o valor do salário mínimo, por valer hoje muito menos do que valia na época em que foi criado pelo então presidente Getúlio Vargas.

Trata-se de uma fala equivocada, e compreendo, fruto antes de um desconhecimento sobre a matéria do que de maldade. Segundo meu juízo sobre esta notável jornalista, enxergo nela aquele tipo comum de cidadão conservador brasileiro que intuitivamente preza bons valores espirituais e morais enquanto simultaneamente adere à ideia do controle estatal como boa solução para os problemas econômicos e sociais.

Um bom polimento pode resolver isto. Como tenho dito, tenho tido mais satisfação em fazer media-watch em cima do trabalho de profissionais da informação que reputo como decentes e honestos.

Getúlio Vargas foi um estadista que ainda hoje angaria a simpatia de muitos brasileiros, sobretudo os mais idosos. No entanto, em que pese seu carisma, era um homem intimamente ligado ao fascismo.

Há quem diga que seu pior medo era o de ter de enfrentar homens destemidos que conheceram o horror dos regimes fascista a nazista, bem como o esplendor da liberdade da civilização americana, ao ter convivido com seus aliados desde os tempos de treinamento, nos Estados Unidos. Não por menos, dissolveu a Força Expedicionária Brasileira antes mesmo de os nossos heróis desembarcarem em solo pátrio, tendo lotado isoladamente cada um dos oficiais em unidades distantes uma das outras.

Getúlio Vargas foi o pai da CLT e do direito trabalhista, importado diretamente do modelo fascista italiano, tendo garantido aos trabalhadores inúmeros direitos, como a estabilidade no emprego e o dos estivadores decidirem como ofertar sua mão-de-obra nos portos.

Infelizmente, como nos ensinou o economista Frédéric Bastiat, com a expressão “O que se vê e o que não se vê”, as intervenções estatais sempre exibem ostensivamente a propaganda do lado mais facilmente vistoso, aquele que rende votos, enquanto guardam no porão os efeitos colaterais, quais sejam, os resultados que poderiam acontecer com os recursos privados se não tivessem sido confiscados dos cidadãos.

Assim o lúcido pensador francês se expressou: “O estado faz uma estrada, constrói um palácio, conserta uma rua, abre um canal e, com isso, dá trabalho a certos operários: é o que se vê. Mas ele priva de trabalho certos outros operários: é o que não se vê”.

A verdade não demorou a vir à tona: a estabilidade no emprego engessou de tal forma a economia que nenhum empreendedor queria mais contratar, uma vez que não podia demitir. A qualidade do trabalho, por sua vez, piorou sofrivelmente, porque a estabilidade privilegiava os maus trabalhadores em detrimento dos bons, e assim foi até que veio a lei do FGTS como uma forma de contornar o problema que foi por anos vendido como uma grande conquista da classe operária.

No caso dos portos, igualmente o que se viu foi a criação da maior máfia legalmente instituída já vista neste país. Como servidor público federal na área aduaneira, então técnico do tesouro nacional, testemunhei, escandalizado, estivadores jogando caixas de produtos importados no chão com a finalidade de tomar para si, sob a justificativa de estarem estragados. Para quem não sabe, por lei os estivadores estão livres de qualquer responsabilização por quebras. A lei dos portos até hoje continua sendo um dos maiores gargalos para o desenvolvimento do país, que se tornou refém de uma doutrina funesta e inversa à lei natural do mercado segundo a qual os produtores devem decidir como oferecer seus produtos e serviços aos consumidores.

Então, cá estamos, a discorrer sobre qual deveria ser um valor ideal para o salário mínimo. Rachel Sheherazade indica que o valor decretado pelo presidente-ditador Getúlio Vargas, cerca de R$ 1.200,00 em valores atuais, já seria um bom começo. O que ela olvidou de dizer, porém, foi: quem recebia salário mínimo naquela época? Todos os trabalhadores?

Até Deus levou seis dias para criar nosso mundo, e no sétimo, descansou! Há um vício extremamente arraigado entre os brasileiros de acreditar que decretos fazem automaticamente plantinhas crescerem, peixes caírem na rede, e vaquinhas darem leite. Assim é que a esmagadora maioria das pessoas acredita que o trabalho deva ser valorado por um preço pré-definido, ou até mais absurdo, que mantenha um determinado poder de compra.

Imagine se você tivesse o poder de decretar o valor do seu carro usado! A questão é, você até tem este poder – afinal, o carro é seu… mas quem vai comprar?

Traduzindo: a lei que institui o salário mínimo, conforme a eficiência da fiscalização trabalhista, pode até garantir relativamente que, se você for empregado, receberá um salário mínimo… mas quem garantirá que você receberá um emprego?

O trabalho tem um valor, e como qualquer coisa considerada relativamente rara e necessária, tem seu preço! (Imaginem o quanto os esquerdistas estão babando de raiva por eu ter usado o termo “preço” para o trabalho).

Pois, fazendo uso da lei de Bastiat, os efeitos indesejados – o que não se vê – da lei do salário mínimo são pelo menos três: – a proibição de certas pessoas mais humildes de trabalhar por um valor inferior, para os empresários que se negarem a contratá-las; a proibição de certas pessoas que, tendo sido contratadas por empresários que assumam o risco, de usufruírem os benefícios sociais da carteira assinada; e enfim, da dificuldade de os empresários contratarem empregados de maior valor e de pagarem-lhes salários mais diferenciados porque precisam pagar outros funcionários por um valor maior do que eles merecem, segundo as leis naturais do mercado.

A livre negociação dos salários tem o condão de ajustar a demanda à oferta do emprego, segundo o valor real de produtividade de cada empregado. Agora, vamos raciocinar: imagine o que aconteceria se virtualmente quase todas as pessoas estivessem empregadas por uma regra geral de livre ajuste? Pois, acertou quem disse que os salários começariam a subir, e com vantagens claras: uma maior distribuição de renda por meio do trabalho e não por meio de políticas assistencialistas, bem como a engrenagem da economia estaria girando mais azeitada, pois as pessoas cujo trabalho tem menor valor estariam ajudando a produzir riqueza, num processo virtuoso de prosperidade capaz de receber novos empregados.

A política do salário mínimo nada mais é do que a aplicação da doutrina marxista do “mínimo vitalmente necessário”, uma das várias idiotices daquele furunculoso alemão que só sabia viver consumindo de forma predatória o dinheiro dos outros.

Só há um meio real de elevar salários: por meio do acúmulo de capital e das leis naturais de livre-mercado. Todo o resto são malabarismos que cedo ou tarde fracassam rotundamente, trazendo choro e ranger de dentes. Agora mesmo estamos diante de uma inflação crescente e de uma desvalorização cambial que já estão anulando todos os ganhos reais com que o salário mínimo foi sendo inchado de forma artificial.

Portanto, cara Rachel Sheherazade, lá vai meu “Kaol” (e não “caô”) para você: sai fora dessa! O salário mínimo, como qualquer outra intervenção estatal, é apenas uma proibição: não produz empregos, mas apenas impede que pessoas mais humildes e necessitadas possam prestar os serviços que podem executar, segundo suas capacidades. E isto não é bom nem justo.

Esse conteúdo foi originalmente publicado no site Mídia Sem Máscara