Cuidado com o ‘coelho branco’ dos militares da China

18/05/2014 13:20 Atualizado: 18/05/2014 13:20

Uma ordem para aumentar o sigilo militar foi emitida pelo Comitê Militar Central da China no mês passado. O jornal estatal chinês ‘Diário do Exército da Libertação Popular’ citou o documento oficial, dizendo que suas orientações sobre sigilo são para ajudar a luta militar da China e para ganhar guerras.

O documento foi acompanhado de artigos em serviços de notícias estatais chineses sobre o valor do segredo. Tudo isso veio na esteira da visita do Secretário de Defesa americano Chuck Hagel à China no início de abril, quando ele prometeu aos líderes chineses maior abertura e transparência nas ciberoperações dos EUA, esperando que a contraparte chinesa retribuísse o favor.

A questão do sigilo no exército chinês é regularmente citada como uma das principais preocupações em relatórios de Defesa do Congresso americano e em relatórios militares dos EUA. O orçamento de Defesa da China aumentou 12,2% este ano, para US$ 132 bilhões, seguindo um padrão semelhante de aumento nas últimas duas décadas. O Pentágono, no entanto, acredita que o orçamento de Defesa da China seja muito maior, estimado em 2012 como o dobro do valor divulgado.

Há muitos especialistas que questionam a ameaça apresentada pelo que a China mostra ao mundo sobre suas forças armadas – como navios e aviões da era soviética, o lento desenvolvimento de novas tecnologias e uma estrutura militar e de comunicação de confiabilidade duvidosa.

O que está frequentemente ausente da discussão, no entanto, é o que os militares chineses não mostram ao mundo – como seu exército de hackers e espiões e o uso da desinformação.

Dentro da China, as pessoas se referem ao regime governante do país como o “pequeno coelho branco”. O termo é muitas vezes acompanhado pelo termo “barriga preta”. Trata-se de alguém que sorri e parece amigável na superfície, mas cujo coração e mente estão cheios de ideias e planos viciosos.

Nenhuma analogia poderia ser mais precisa. A estratégia militar da China não é baseada na força. Ela se baseia na trapaça e os meios de se alcançar isso são a verdadeira ameaça militar da China.

Uma guerra não convencional

Em 12 de maio, a China testou uma de suas armas antissatélite, o míssil Dong Ning-2. A Academia Chinesa de Ciências disse que o lançamento do míssil era para uma missão científica.

Armas antissatélites são parte do que a China chama de “trunfo” ou “marreta assassina”. Estes são sistemas que permitiriam aos militares chineses desativar partes estratégicas do exército dos EUA que eles não podem enfrentar.

Os satélites são um alvo primário destes sistemas, uma vez que a força militar americana é fortemente dependente de satélites, seja para comunicações ou GPS. Ashley Tellis, associado sênior do Carnegie Endowment for International Peace, resumiu bem a questão numa audiência do Congresso americano em 28 de janeiro.

Ele disse: “Os planejadores militares chineses estão profundamente focados em neutralizar as capacidades espaciais dos EUA por causa de sua crença de que essa neutralização é essencial para acabar com o domínio de que os militares americanos dependem para seu sucesso.”

Mas as armas sombrias da China não param por aí. Estas incluem ciberataques, radiação de micro-ondas de alta potência e ogivas de pulso eletromagnético. Um relatório denso sobre as armas-trunfo e a marreta assassina da China, publicado em setembro de 2010 pelo ‘U.S. National Ground Intelligence Center’, disse que a China poderia usar essas armas como “uma medida de surpresa” contra Taiwan ou os Estados Unidos.

“Estas armas-trunfo e a marreta assassina permitirão que forças militares de baixa tecnologia da China prevaleçam num conflito localizado sobre as forças de alta tecnologia dos Estados Unidos”, afirma o documento.

Além das armas físicas, a China também emprega outras táticas militares que são ainda mais adequadas para sua caracterização de “coelhinho branco de barriga preta”.

Um relatório divulgado em abril, mas revelado pelo Pentágono um ano antes, explica que a China tem usado uma estratégia militar de engano que eles chamam de ‘Três Guerras’ para obter vantagem em disputas territoriais nos Mares do Sul e do Leste da China.

As Três Guerras, afirma o relatório, consistem na manipulação da mídia, na distorção do direito internacional e numa campanha de guerra psicológica. O documento afirma que a China usa esta estratégia na tentativa de minar a influência dos EUA em outros países.

Claro, também há as redes de espiões da China, incluindo agentes latentes, manipuladores e uma ampla rede de informantes. O uso frequente da ciberespionagem pela China também se encaixa nessa estrutura.

Chen Yonglin, um ex-diplomata chinês baseado na Austrália, disse em 2005 que a China tinha mil espiões na Austrália. A escala da espionagem chinesa, no entanto, permanece desconhecida.

Em tempos de paz, conforme pode ser visto ocasionalmente, os espiões chineses são regularmente flagrados roubando propriedade intelectual para promover a economia da China, obter vantagens de qualquer tipo e boicotar competidores. Em tempo de guerra, esse papel provavelmente mudaria.