Cuba, como é de conhecimento geral, é um país socialista do Caribe, distante pouco mais de 150 kms de Miami, que antagonizou com os Estados Unidos em âmbito regional como satélite da União Soviética ao longo da Guerra Fria. Tal situação só foi possível graças ao grande aporte financeiro, militar e estrutural soviético na ilha dos irmãos Castro. Com o fim do regime comunista na Rússia e demais países que compunham o bloco, Cuba passou a ter sérios problemas econômicos, pois sem o apoio europeu e com uma economia planificada, centralizada, burocratizada e sem diversidade, simplesmente não havia como se produzir riqueza. Empreendedorismo era algo inexistente na ilha.
Em 1989, Fidel Castro abordou essas questões em um discurso famoso, onde ele denominou o período de escassez e recessão econômica cubana de “período especial em tempos de paz“. Enquanto que, para países normais, guerras são ruins e antieconômicas, para Cuba a Guerra Fria era essencial para manutenção da economia. Nesse período especial de paz, nunca o país foi tão pobre. A década do 90 foi uma das piores da história cubana.
Esse “período especial” foi sendo paulatinamente superado (embora nunca totalmente) por dois motivos. O primeiro foi alguma abertura de mercado no país, principalmente no setor de turismo, criando duas Cubas: a Cuba livre e empreendedora do turismo, e a Cuba atrasada, esfomeada e reprimida do comunismo castrista. Para esta segunda Cuba, o segundo motivo de superação, que foi a entrada de um novo player no cenário político mundial. Graças aos aportes financeiros da Venezuela de Chavez, dentro dos tratados da ALBA (Aliança Bolivariana para os povos da América) a partir de 2004, foi possível para o governo cubano dar suporte social e econômico para seus cidadãos oprimidos por ele mesmo, governo.
Só que os aportes da ALBA eram possíveis apenas em virtude do petróleo venezuelano. Há alguns dias atrás fizemos uma análise sobre a conjuntura do preço do petróleo, mostrando que o livre-mercado e o avanço tecnológico fizeram com que houvesse um aumento da produção no setor, bem como a redução da sua demanda, pressionando os preços do petróleo para baixo. Nessa nova realidade do setor, economias totalmente atreladas ao “ouro negro”, como a Venezuela, entraram em franca decadência, para não dizer colapso, como mostra reportagem de hoje do Estado de São Paulo. Segundo o jornal paulista, há escassez de todo o tipo de produto, incluindo os básicos, e filas para compra que lembra muito a situação da antiga União Soviética. Se não há recursos sequer para o povo venezuelano, certamente não há para os cubanos.
No momento em que se vê um progressivo, embora tímido, avanço na liberação econômica de Cuba, inclusive com uma inédita reaproximação com o Governo dos Estados Unidos, fica claro que os Castro estão tomando tais atitudes por total desespero, já que se encontram em um beco-sem-saída. Na tentativa de evitar um novo “período especial de tempos de paz”, já que a ALBA não terá mais poder sócio-econômico abastecido por petróleo para fazer “Guerra Fria Americana” com os EUA, Cuba faz o que fez na década de 90: cede alguma liberdade para não ruir.
Resta a esperança de que o povo cubano, vendo os benefícios da liberdade econômica, avancem na agenda para descobrirem outra liberdade fundamental: a liberdade política.