Autoridades de província chinesa dizem que as cruzes das igrejas devem ser retiradas

19/05/2015 20:30 Atualizado: 19/05/2015 20:30

Em uma província chinesa, onde as autoridades governamentais já vêm retirando à força cruzes do topo das igrejas, foi proposta lei que proíbe a colocação de qualquer símbolo religioso em cima dos santuários: igrejas protestantes ou católicas.

O projeto, se aprovado, dará às autoridades da província de Zhejiang fundamento legal para remover as cruzes instaladas no topo cume das igrejas.

Desde o início de 2014, funcionários de Zhejiang já arrancaram as cruzes de mais de 400 igrejas, frequentemente resultando em confrontos violentos com membros das congregações religiosas. Eles dizem que as cruzes violam o código de construção, mas as pessoas sabem que é porquê o rápido crescimento de grupos cristãos irritou o Partido Comunista Chinês.

“As autoridades chinesas exercem controle sobre esse símbolo religioso”, disse Zheng Leguo, um pastor da província, porque “isso significa não permitir uma manifestação mais proeminente do cristianismo na esfera pública”.

Divulgado esta semana, um projeto de regulamentação para a construção de edifícios religiosos estabelece que as cruzes devem ser afixada à fachada do edifício e não a mais que um décimo da altura da fachada. O símbolo também deve se adequar à fachada e aos arredores, conforme a proposta. O projeto não fornece as bases que levaram a estabelecer essa regulamentação.

Fang Shenglan, um engenheiro do Instituto Provincial de Arquitetura, Design e Pesquisa da província de Zhejiang, responsável pela pesquisa para o projeto da regulamentação, confirmou que cruzes no telhado não serão permitidas conforme as novas regras propostas, mas se recusou a explicar o porquê disso por telefone e não respondeu a um pedido por escrito.

“Este novo projeto de lei é apenas mais uma tentativa do governo para legitimar sua campanha ilegal para controlar as religiões”, disse Bob Fu da US China Aid, que documentou 448 igrejas que tiveram suas cruzes removidas ou foram derrubadas.

“Continuar a remover cruzes de forma forçada e proibi-las nos telhados de igrejas demonstra a determinação do regime chinês para conter o rápido crescimento do cristianismo na China”, disse ele em um e-mail.

Yang Fenggang, especialista da Universidade de Purdue, EUA, para questões religiosas na China  disse que a nova restrição é possivelmente um jogo de poder por parte das autoridades e não terá real efeito sobre a crença das pessoas. “Eu acho que é uma declaração formal [do governo] de que estamos no controle”, disse Yang em entrevista por telefone. “Significa: vocês terão que obedecer toda ordem que lhes dermos. Se nós não gostamos da cruz, vocês têm que mudar”.

O cristianismo vem se expandindo na China desde a década de 1980, quando Pequim afrouxou seus controles sobre a religião.

De acordo com estimativa oficial conservadora, na China, há aproximadamente 23 milhões de cristãos. No entanto, para estudiosos independente há cerca de 100 milhões de cristãos, o que leva os cristãos a rivalizarem em número os 85 milhões de membros do Partido Comunista Chinês. Paróquias religiosas coesas, sob o controle de civis e fieis a Deus, preocupam e irritam o regime chinês.

Em agosto de 2014, autoridades de Pequim chamaram pastores cristãos e teólogos para uma reunião onde entregaram um édito estabelecendo que a fé cristã tem de estar livre da influência estrangeira [inclusive do Vaticano] e “se adaptar à China”, um eufemismo para “obedecer ao Partido Comunista Chinês”.

A cidade de Wenzhou Zhejiang é conhecida como a Jerusalém da China porque é uma província com 4.000 igrejas. Cruzes no topo de igrejas dominam o alto da paisagem, e as igrejas locais – muitas vezes financiadas por empresários ricos – disputam para construir a maior igreja e a cruz mais alta como uma demonstração de agradecimento pelas bênçãos recebidas.

Em comparação com as campanhas anteriores de estilo militante do Partido Comunista que, ao longo de sua história, visaram a aniquilar a religião, essa mais recente campanha de repressão é bem mais suave e seu alvo principal é um símbolo religioso e não a própria crença, disse Zheng.

Ainda assim, ele chamou de “uma ingerência em um espaço público destinado à prática do Cristianismo”.

A campanha vem em meio à crescente imposição de restrições do regime chinês sobre a liberdade civil, disse Zheng. As autoridades intensificaram a perseguição a defensores da sociedade civil e advogados de direitos humanos; colocaram mais restrições sobre grupos não-governamentais.