Cristãos chineses poderão enfrentar mais repressão em breve

04/01/2015 17:26 Atualizado: 04/01/2015 17:26

Os cristãos na China estão agora entrando em território perigoso: a religião está se tornando popular e, sob o regime ateu do Partido Comunista, isso significa problemas.

Estima-se que a China tenha hoje mais de 100 milhões de cristãos. Esse número é importante – o Falun Gong também era praticado por cerca de 100 milhões de pessoas quando o regime chinês lançou sua perseguição brutal a esta prática pacífica que se baseia na verdade, compaixão e tolerância.

O fato é que, como o Falun Gong quando a perseguição começou em 1999, o número de cristãos na China pode agora ultrapassar os 85 milhões de membros do Partido Comunista Chinês.

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E o regime chinês já está aumentando a sua supressão dos cristãos. O New York Daily News informou na véspera de Natal que, apenas na província de Zhejiang, o regime chinês arrancou as cruzes de mais de 400 igrejas.

Durante a semana de Natal na cidade de Wenzhou, em Zhejiang, o regime chinês proibiu todas as celebrações de Natal em jardins de infância e escolas primárias. “Fomos orientados no passado sobre férias no estrangeiro, como o Natal, mas este ano marca a primeira vez que recebemos instruções incisivas”, disse um funcionário da educação, conforme citado pelo Daily News.

Mas as notícias mais importantes são um tanto mais sutis.

O regime chinês forçou pastores cristãos e estudiosos religiosos a participarem de um seminário nacional em Pequim em agosto, segundo o Daily News. Neste seminário, eles foram educados sobre como manter a fé cristã livre da influência estrangeira e adaptá-la à China.

Manter o cristianismo na China “livre da influência estrangeira” é uma frase carregada. Este fragmento é importante e remete ao tempo quando o regime chinês estava destruindo as religiões tradicionais e criando suas próprias versões para substituir as religiões destruídas.

Novas religiões

Na década de 1950, o Partido Comunista Chinês (PCC) estava no processo de eliminar toda a cultura e crença tradicionais. Enquanto o PCC prendia e matava abades budistas e sacerdotes taoístas, ele criou duas organizações que inauguraram sua própria versão dessas religiões.

Para o budismo, o PCC criou a Associação Budista da China em 1952. Para o taoísmo, ele criou a Associação Taoísta da China em 1957. Essas novas associações começaram a promover formas alteradas das religiões tradicionais e dispensaram muitas das práticas fundamentais. Elas também declararam que estavam “sob o líder do governo popular”.

Aqueles que se recusaram a aderir a essas religiões alteradas foram perseguidos. O Epoch Times observou, em sua série editorial premiada ‘Nove Comentários sobre o Partido Comunista’, “que os budistas e taoístas que se dedicavam e respeitaram os preceitos foram rotulados como contrarrevolucionários ou membros de seitas supersticiosas e sociedades secretas.”

“Sob o slogan revolucionário de ‘purificar os budistas e taoístas’, eles foram presos, submetidos à ‘reforma por meio do trabalho forçado’ ou mesmo executados”, continua o texto.

Igreja dos Três Autos

Cristianismo e catolicismo também foram submetidos a alterações similares na China na época, e isto se refere novamente à linha política do regime de manter a “fé livre da influência estrangeira”.

A frase remonta à Igreja dos Três Autos, formada em 1950 por Wu Yaozong, que era membro do Comitê Permanente da Conferência Consultiva Política Popular do regime chinês.

A nova igreja foi baseada na ideia de independência da influência estrangeira, de acordo com as ideias de “autoadministração, autossustentação e autopropagação”.

Wu também rejeitou a crença nos milagres realizados por Jesus e, como observado pelo Epoch Times nos Nove Comentários, “não reconhecer os milagres de Jesus equivale a não reconhecer o céu de Jesus. Como alguém pode ser considerado cristão quando nem sequer reconhece o céu para onde Jesus ascendeu?”

Quando Wu Yaozong entrou no Grande Salão do Povo, os Nove Comentários disseram: “Ele deve ter esquecido completamente as palavras de Jesus. ‘Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento.’ (Mateus, 22:37-38) ‘Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.’ (Mateus, 22:21)”

Basicamente, como o regime chinês fez com o budismo e o taoísmo, ele quis criar uma nova religião que estivesse “sob o líder do governo popular”. Da mesma forma, os católicos na China não estão autorizados a reconhecer o Papa.

Fonte diferente de autoridade

“Não é com a fração de religião per se que o ateu Partido Comunista se preocupa tanto”, observou o The Guardian num editorial recente sobre a supressão do regime chinês aos cristãos, “mas com o fato de que as pessoas religiosas reconhecem uma fonte diferente de autoridade e são, portanto, uma ameaça potencial para o Estado.”

“Isso, é claro, era o problema de Herodes também – e por que ele enviou seus soldados para tentar assassinar a criança nascida na cidade real de David”, afirmou o editorial. “De fato, quando os cristãos dizem que Jesus é Senhor e Rei, eles estão fazendo uma declaração política: César não é. É uma questão de lealdade superior. Não admira que as autoridades chinesas estejam preocupadas.”

Os recentes desenvolvimentos relativos à cristandade na China são importantes. Os grupos tradicionais cristãos perseguidos na China atualmente fazem parte do movimento cristão doméstico que não segue a religião carimbada pelo Estado.

A repressão mais dura do regime chinês em algumas igrejas permitidas, símbolos religiosos e feriados religiosos mostra que o regime está se tornando mais restritivo sobre a religião e suas tradições.

Sob o risco de mais perseguição

A questão será se o regime chinês pode manter seus cristãos praticando seu formato modificado do cristianismo ou se os cristãos chineses optarão por seguir a versão inalterada da religião e arriscar a intensificação da perseguição que já sofrem.

Como o The Guardian pergunta: “Se o cristianismo não tivesse amigos poderosos no estrangeiro, será que o Estado chinês o perseguiria como fez com o Falun Gong?”

A resposta não é tão simples. O Falun Gong, na verdade, tem muitos apoiadores no estrangeiro e estes têm crescido desde que a perseguição começou, mas mesmo isso não foi suficiente para deter o Partido Comunista Chinês.

A Câmara dos Representantes dos EUA aprovou sua primeira resolução condenando a perseguição do regime chinês contra o Falun Gong em 18 de novembro de 1999, pouco depois que o regime chinês lançou a perseguição em 20 de julho de 1999. A Câmara, desde então, passou três resoluções adicionais, em 2002, 2003 e 2010.

O Falun Gong recebeu apoio semelhante – e houve críticas semelhantes sobre a perseguição à prática na China – das Nações Unidas, dos governos de vários países, da Anistia Internacional e do Human Rights Watch.

O verdadeiro problema que o Falun Gong enfrenta em termos da pressão internacional contra a perseguição na China é que, quando a perseguição começou em 1999, o Partido Comunista Chinês produziu uma enorme campanha de propaganda que divulgou informações falsas sobre a prática quando esta ainda era pouco conhecida fora da China.

O regime chinês então avançou sua campanha de propaganda pressionando a mídia estrangeira que não reportasse sobre o Falun Gong – uma perseguição que tem afetado diretamente 1 em cada 12 chineses e que continua até hoje, sendo uma das maiores perseguições na história do país. Um dos exemplos mais recentes ocorreu em abril, quando o regime comunista forçou o Readers Digest a retirar uma história – numa publicação destinada ao público fora da China – porque ela mencionava a perseguição ao Falun Gong.

O importante a observar, em relação ao aumento da repressão do regime chinês sobre os cristãos, é se o regime tentará convencer o mundo que de alguma forma os movimentos cristãos independentes são um perigo para o país, e se o regime poderá enganar ou silenciar a imprensa no estrangeiro.