As investigações da Operação Lava-Jato da Polícia Federal e as acusações que ameaçam a Petrobras geraram um ambiente incerto e trouxeram uma ameaça para o futuro da indústria naval de Niterói. Aumenta cada vez mais o número de dispensa de trabalhadores devido à estagnação de todos os negócios da empresa, conforme reportagem da Revista Veja.
De acordo com o secretário municipal de Indústria Naval, Milton Carlos Lopes, os atrasos constantes nos pagamentos aos estaleiros da cidade, devido às revisões contratuais, e as documentações rejeitadas por condições rígidas dos órgãos controladores, já acarretaram a demissão de aproximadamente 600 trabalhadores, o que significa 5% da força de trabalho da cidade, que possui 12 mil metalúrgicos.
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Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, as empresas mais atingidas pelos problemas da Petrobras e que realizam obras da estatal são os estaleiros Mauá, Eisa Petro-Um, Brasa, UTC e Enaval. “A maior parte dessas empresas não pagou a primeira parcela do 13º salário dos funcionários. Elas não têm dinheiro em caixa. O setor enfrenta hoje uma grande falta de liquidez em virtude das empresas que têm contrato com a Petrobras não receberem em dia. Existem atrasos de até de seis meses nesses pagamentos. Como consequência disso, também estão atrasados os salários dos trabalhadores. Alguns estaleiros já estão se socorrendo por meio de empréstimos de banco”, falou o secretário ao jornal Petronotícias.
Conforme o secretário, o estaleiro mais atingido é o Mauá, na Ponta D’Areia, que mandou embora 35 trabalhadores na semana passada. A empresa possui encomenda de um total de 15 navios de transporte de petróleo da Transpetro, porém mais da metade está com as obras atrasadas — o estaleiro entregou apenas quatro embarcações e outras três estão em fase de conclusão. A Transpetro, subsidiária da Petrobras, estaria negando pagamentos ao estaleiro devido aos casos recorrentes de falta de documentação.
Lopes declarou que a secretaria já comunicou oficialmente ao estaleiro e pediu explicações sobre os constantes atrasos salariais dos funcionários. Construído em 1846 pelo então Barão de Mauá, o estaleiro ainda possui dívidas trabalhistas da ordem de R$ 10 milhões, segundo apuração da Procuradoria do Trabalho de Niterói. O procurador Patrick Maia Merísio entrou com duas ações contra a empresa: Segundo Merísio, o pagamento atrasado de salários e a não contribuição para o FGTS prejudicam ao menos mil trabalhadores do estaleiro.
O secretário de Indústria Naval também está preocupado com a possibilidade de que a ação da Polícia Federal atinja outros estaleiros da cidade como o UTC, que atualmente sofre inquérito, e o Brasa, gerido pelo grupo Sinergy e pela holandesa SBM Offshore, que está sendo investigada por pagamento de suborno a funcionários da Petrobras. Os dois empregam 2.450 trabalhadores.
Conforme Edson Rocha, presidente do Sindicato dos metalúrgicos de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, o estaleiro Brasa, que concluirá até fevereiro a construção dos módulos para as plataformas Maricá e Saquarema, da SBM, já dispensou cerca de 560 trabalhadores desde julho, graças à falta de novas encomendas no Brasil. A SBM foi suspensa pela Petrobrás e não pode fazer parte de novos empreendimentos com a estatal.
“Isso é devido à falta de trabalho, de novas encomendas da Petrobras ao estaleiro. Isso causa preocupação porque o Brasa ainda tem 1.600 trabalhadores”, disse o presidente do sindicato, que assumiu temer que o estaleiro seja impedido de entrar em novas licitações da estatal por ter a SBM como sócia e que aconteçam mais demissões.
A presidente da Petrobras, Graça Foster, chegou a dizer que a SBM está proibida de fazer parte de licitações da Petrobras até que esclareça para quem pagou suborno na estatal. Entretanto, assegurou que os contratos vigentes com a SBM serão mantidos.
Rocha disse, além disso, que a unidade da UTC de Niterói corre o mesmo risco, sendo que a unidade conta com 850 funcionários. O sócio-proprietário da empresa, Ricardo Pessoa, foi preso na Lava-Jato, acusado de coordenar um “clube” de empreiteiras que teria envolvimento num monopólio de fornecedores da Petrobras.
“A UTC estará terminando a obra de dois módulos de plataformas de petróleo até fevereiro. Depois disso, não se sabe se o estaleiro conseguirá novas encomendas da Petrobras e possa assim manter os trabalhadores”, disse Rocha.
Em comunicado, a Transpetro afirmou que:
“A Transpetro informa que, dos estaleiros mencionados, tem contratos apenas com o Eisa Petro-Um. Todos os compromissos contratuais da Companhia com o estaleiro estão em dia.”