Crise paira sobre economia chinesa

03/07/2013 15:56 Atualizado: 04/07/2013 16:32
Investidores observam painel eletrônico na bolsa de valores em Jiujiang, China (ChinaFotoPress/Getty Images)

A atual situação econômica da China me lembra do comentário: “Eventos futuros repetirão os das crises financeiras de 2007 e 2008 ou da crise financeira asiática de 1997. Todas as evidências mostram que desta vez a China terá o papel principal no palco”, com o qual concluí meu livro intitulado “The Big Turning Point”, publicado em 2011.

Naquela época, a especulação de que a China provavelmente seria o epicentro da próxima crise econômica global foi considerado pessimista pela esmagadora maioria das pessoas, mas isso está se desenrolando diante dos nossos olhos.

Estímulo não é uma “arma infalível”

O Estado chinês implementou um enorme pacote de estímulos e adotou uma política monetária expansionista após a crise financeira global de 2008. A economia rapidamente saiu do fundo do poço e o resultado foi uma recuperação considerável.

Essa recuperação não só sustentou o milagre econômico chinês, mas também provocou debates sobre o “modelo chinês” entre teóricos da economia. Eles se perguntavam que tipo de sistema e códigos culturais estariam escondidos por trás dos mitos do aparentemente interminável crescimento econômico chinês.

No entanto, a economia chinesa deve obedecer a certas leis básicas da natureza, assim como estamos sujeitos à gravidade da Terra. Como esperado, um rápido declínio começou após o governo central reduzir gradualmente o estímulo. A queda foi de fato muito rápida para o conforto dos formuladores de políticas. Por sua vez, no primeiro trimestre de 2012, macroeconomistas chineses propuseram a política de “crescimento estável”.

Transformar a política de “crescimento” em “crescimento estável” reflete a necessidade de maior cautela por parte do Estado. Mas a única ferramenta com que podiam contar era a política tradicional de estímulo monetário que, como uma “arma infalível”, atingiu o alvo com grande precisão no passado.

Após mais de seis meses de estímulos, a economia estabilizou-se e mostrou alguma melhora no quarto trimestre de 2012. O mercado de ações da China também se recuperou rapidamente depois de mergulhar abaixo do nível de 2.000 pontos. No entanto, essa ilusão de estabilidade só durou um trimestre.

No primeiro trimestre de 2013, o crescimento do PIB da China foi de apenas 7,7%, mais fraco do que o consenso pesquisado pela Reuters, que previa uma expansão de 8,0%, e também inferior ao crescimento de 7,9% do quarto trimestre de 2012. Se a tendência continuasse, o crescimento anual provavelmente cairia abaixo de 6% ou menos. Essa queda da taxa de crescimento é provavelmente profética de um momento crucial para a economia da China.

Dependência externa

A crise das hipotecas subprime nos EUA em 2008 não foi apenas uma crise para os EUA, mas para o sistema global de mercado centrado nos EUA, que existe desde a 2ª Guerra Mundial. É uma crise sistêmica, em vez de uma crise periódica.

Porque o crescimento econômico da China e de outros países emergentes são um componente significativo atrelado a esse sistema de mercado global, as perspectivas para seu crescimento dependerão da evolução do sistema. Essas entidades econômicas serão profundamente afetadas por qualquer mudança fundamental no sistema.

A China foi capaz de resolver sua situação econômica no final de 1990 e fazer impressionantes conquistas econômicas por causa de uma série de fatores favoráveis internos e externos. Os fatores internos incluem: vantagens competitivas da China de mão de obra barata, baixos custos de produção impulsionados pelos governos locais e baixos custos ambientais e de recursos. Além disso, há uma condição externa indispensável, uma expansão agressiva no sistema econômico global.

Em outras palavras, a China não poderia ter se beneficiado de sua vantagem de baixo custo competitivo sem uma grande expansão nos mercados externos.

Desde o fim de 2008, tem havido grandes mudanças no sistema econômico global, pré-requisito necessário para o crescimento econômico sustentável no século 21. A economia da China já não vive no contexto de oportunidades que experimentou na década de 1990.

Muitos acreditam erroneamente que a China possui sólidas vantagens institucionais que lhe conferem força competitiva permanente. Na verdade, essa vantagem competitiva institucional não era sólida nem permanente. Pelo contrário, seguindo as expansões econômicas passadas, as consequências negativas significativas acumuladas inconscientemente ao longo dos anos já se tornaram claras.

Hoje, a chamada vantagem competitiva institucional já não é a força motriz da expansão econômica. Em vez disso, ela tem criado constantes e crescentes problemas sociais e econômicos.

Dilema da dívida

Depois da crise financeira, as entidades econômicas globais em nível microeconômico começaram simultaneamente um processo de desincentivo urgente. No entanto, a China intensificou o incentivo no Estado – corporativo e em setores específicos -, mantendo a aparência atrativa de uma economia saudável.

Apesar dos ajustes e mudanças frequentes nas políticas econômica e monetária, a China, na realidade, fez apenas uma coisa: injetou ainda mais incentivo em toda a estrutura econômica.

As ações da China, em tal escala e num período tão longo, são raras na história econômica das economias alavancadas. Isto levou a resultados sem precedentes – a nova dívida chinesa acrescentada durante os anos de 2009-2012 foi cerca de 110% do PIB e a dívida total chega a 205% do PIB.

Estudos mostram que a taxa de retorno de capital na China caiu de forma rápida e incessantemente nos últimos anos. “Havia pouco espaço para a política de estímulo monetário e fiscal”, disse recentemente o primeiro-ministro Li Keqiang.

A crise da dívida ocorreu e ainda continua. Desde o colapso do mercado colateral no setor da dívida privada até o resgate de US$ 482 bilhões de governos locais por bancos chineses devido ao esquema de prorrogação da dívida, o país enfrenta riscos elevados caracterizados por dívidas acumuladas de governos locais e empresas estatais.

Se a tendência (expansão rápida do crédito, crescimento da dívida, lento crescimento econômico) continuar, podemos perguntar se a China atingiu o ponto crítico e está diante de seu próprio “momento Minsky” (termo originalmente cunhado para descrever a rápida deflação dos ativos russos em 1998), ou seja, um colapso repentino do valor dos ativos devido à enorme dívida.

Essa é uma crise silenciosa, mas suficiente para desencadear mudanças históricas e tremendas.

Yuan Jian escreve sobre política e economia chinesa e é autor do livro “The Big Turning Point”. Esse artigo foi publicado primeiramente no site da Rádio Som da Esperança.

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