Crise na China gera crescente preocupação

01/10/2012 11:53 Atualizado: 20/04/2014 21:42
Colheita forçada de órgãos de pessoas vivas discutida na Colina do Capitólio e nas Nações Unidas
Gordon Chang fala no evento ‘Respondendo à crise do regime na China’, realizado na Colina do Capitólio, EUA. (Lisa Fan/The Epoch Times)

WASHINGTON – A China enfrenta problemas muito mais profundos do que o mundo suspeita e países como os Estados Unidos e corpos internacionais precisam ajustar sua política em conformidade. Esta foi a mensagem apresentada recentemente por palestrantes no Capitólio dos EUA e nas Nações Unidas.

Gordon Chang, especialista em China e autor do livro de 2001 “The Coming Collapse of China”, diz que enquanto a transferência de poder, que ocorre uma vez em cada década, se próxima com o 18º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (PCC), o PCC está envolvido numa acirrada luta interna na liderança, a economia está esfriando e a insatisfação popular aumentando.

Significativamente, os militares chineses, agora a agência mais organizada, estão interferindo cada vez mais para preencher o vazio, alertou ele.

Após o 18º Congresso do PCC, o Exército da Liberação Popular pode se tornar a facção mais poderosa do PCC, disse Gordon Chang, comparando os “arrogantes” e “às vezes belicosos” jovens oficiais militares chineses de hoje com os do Japão de antes da 2ª Guerra Mundial. “Eles estão pensando sobre o que podem fazer e não sobre o que devem fazer”, disse ele. “Eles estão procurando por uma briga.”

Chang, que também escreve para a revista Forbes, argumenta que o boom econômico da China foi uma questão de tempo: as reformas iniciais do líder chinês Deng Xiaoping, além de uma mão de obra pronta e capaz, coincidiram com uma economia global faminta por produtos.

Essas condições não existem mais, disse ele, a economia chinesa está desacelerando e pode “já estar em recessão”. “As rodas estão saindo da China e não sabemos para onde esse país está caminhando”, disse ele.

Chang falava num fórum sobre o tema “Respondendo à crise do regime na China”, realizado numa sala de reuniões no Capitólio dos EUA e patrocinado pelo Epoch Times. Ele foi acompanhado por: Li Ding, Ph.D, diretor-executivo da Chinascope, uma revista que oferece traduções para o inglês e análises de importantes documentos do PCC, da mídia chinesa e relatórios acadêmicos; Matthew Robertson, editor de China do Epoch Times; e David Matas, um advogado de direitos humanos que é o autor (com David Kilgour) do texto investigativo sobre a colheita de órgãos de praticantes do Falun Gong, chamado “Colheita Sangrenta”.

Li Ding disse que os chineses não têm mais fé na liderança chinesa, com centenas de milhares de protestos em massa ocorrendo na China anualmente, segundo as melhores estatísticas.

A informação pode ser dividida em duas correntes: a linha oficial do Partido Comunista, que ninguém acredita; e os relatos pessoais, histórias, opiniões e rumores que circulam ao redor e online e com os quais o povo chinês estabelece seu próprio entendimento. “A máquina de propaganda não é mais eficaz”, disse Ding.

Política dos EUA

Ding disse que os Estados Unidos precisam se envolver mais com a sociedade civil, grupos de base e os cidadãos comuns na China, o Partido Comunista enfrenta desafios sem precedentes, muitos originados do próprio povo chinês, que quer um país mais justo, o que pode acabar com o regime do PCC.

Chang diz que engajamento pode não ser suficiente. Ele acredita que a política dos EUA ao longo dos últimos 40 anos de trazer a liderança comunista chinesa para o “sistema liberal” por meio do engajamento falhou.

Os Estados Unidos precisam de um novo quadro político que lide com a China da “maneira como realmente é e não do jeito que queremos que seja”, disse ele.

Isso envolverá estabelecer limites claros, aderir a princípios e admoestar a liderança chinesa publicamente sobre comportamentos inaceitáveis.

Sacrificando os valores ocidentais por causa do envolvimento, os Estados Unidos sem querer “reforçam a pior tendência de sistema autoritário do Partido Comunista”, disse ele, recompensando a “conduta irresponsável” com mais esforços diplomáticos por engajamento.

Falun Gong e a luta da liderança

Matthew Robertson abordou as lutas na liderança chinesa e as associou à perseguição ao Falun Gong como um fator crítico. Ele detalhou a história desta prática de meditação na China, a ascensão popular do Falun Gong, a ameaça ideológica que representava ao ex-líder chinês Jiang Zemin e a perseguição iniciada por Jiang Zemin.

As forças de segurança necessárias para implementar a perseguição foram a maior “mobilização da segurança desde a era Mao” e extremamente cara, disse ele. As forças também mudaram as dinâmicas de poder na hierarquia do PCC, aumentando a influência de Jiang Zemin e contribuindo para a instabilidade evidente de hoje.

A desgraça de Bo Xilai, um ex-membro do Politburo e secretário do PCC em Chongqing, e a tentativa de deserção de seu braço-direito Wang Lijun, ex-chefe da polícia de Chongqing, para o consulado dos EUA em Chengdu em fevereiro, foram resultados diretos dessa estrutura de poder.

Os dois foram fortemente implicados tanto na perseguição ao Falun Gong como na colheita de órgãos de seus adeptos. O papel de Bo Xilai e os processos judiciais subsequentes contra ele em todo o mundo foram creditados por sua marginalização em Chongqing.

Robertson disse que a colheita forçada de órgãos de pessoas vivas ameaça a legitimidade do regime, que enfrentará dificuldades sem precedentes para sobreviver uma vez que tais atrocidades sejam amplamente conhecidas pelo povo chinês.

Colheita de órgãos

David Matas também vincula o atrito na liderança chinesa ao Falun Gong, dividindo os mais altos oficiais em três facções: os “reformistas”, como o premiê Wen Jiabao e o ex-primeiro-ministro Zhu Rongji, que deu a entender que gostaria de ver um fim à perseguição e às atrocidades contra o Falun Gong; os “harmonizadores”, como o líder chinês Hu Jintao e o indicado próximo líder Xi Jinping, que estão interessados em fazer o que for preciso para manter o status quo; e os “radicais”, como Jiang Zemin e Bo Xilai, que querem manter a história oculta, temendo represálias pelos crimes que cometeram na realização da perseguição.

Nesse contexto, os Estados Unidos devem pressionar por mudanças na prática da colheita de órgãos, disse Matas. Ele propôs que o Departamento de Estado libere informações sobre o que Wang Lijun teria fornecido acerca da colheita de órgãos, que o Congresso aprove uma legislação para combater o abuso de transplante, que notificação compulsória seja instituída amplamente sobre o turismo de transplante e que o seguro de saúde seja negado para transplantes de órgãos na China, uma medida que Israel já adoptou.

Em suma, Matas disse que os Estados Unidos devem fazer mais.

Crescente preocupação

Depois de 13 anos de perseguição e quase o mesmo tempo de colheita ilegal de órgãos de praticantes do Falun Gong, a liderança chinesa pode acreditar que consiga superar ser responsabilizada por seus crimes, mas o mundo está começando a prestar atenção ao crescente problema.

Relatórios anteriores, como o livro atual de Matas, se juntam a outros.

Numa audiência da Câmara sobre a perseguição ao Falun Gong no início deste mês, o deputado Dana Rohrabacher (R-Calif.) descreveu a colheita de órgãos de praticantes do Falun Gong como “o crime mais monstruoso” que ele poderia imaginar.

Testemunhando perante essa audiência estava o autor e pesquisador Ethan Gutman. Ele realizou extensas entrevistas com cirurgiões, enfermeiros e praticantes do Falun Gong anteriormente presos e concluiu que pelo menos 65 mil praticantes do Falun Gong foram mortos por seus órgãos na China em pouco mais de uma década, embora ele suspeite que os números sejam muito maiores.

Inicialmente, foi difícil para as pessoas compreenderem que tal atrocidade orquestrada pelo Estado pudesse ocorrer, mas isso mudou, disse ele. “Está se tornando um fato aceito agora, pode-se sentir isso.”

Uma coleção de artigos informativos sobre o tema publicado recentemente num livro intitulado “Órgãos do Estado” (State Organs) contribuiu para a coleção de relatórios e o Departamento de Estado dos EUA, pela primeira vez este ano, mencionou a colheita de órgãos de praticantes do Falun Gong como uma questão de preocupação em seu Relatório de Direitos Humanos de 2012.

A preocupação também está se estendendo internacionalmente. Guo Jun, a editora-chefe das edições chinesas do Epoch Times foi convidada para falar sobre a perseguição ao Falun Gong numa série de eventos em torno da 21ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU realizada entre 10 e 28 de setembro em Genebra, Suíça.

“Em nossa investigação, descobrimos que os prisioneiros, detidos em campos de trabalho e prisões, eram quase a única fonte de órgãos para transplante na China. A grande maioria era praticante do Falun Gong, uma prática espiritual chinesa”, disse ela.

Karen Parker, uma advogada de direitos humanos e representante-chefe do Desenvolvimento Educacional Internacional, uma ONG afiliada à ONU, disse que seu grupo estava preocupado com “a evidência contínua de que órgãos de muitos praticantes [do Falun Gong] são violentamente colhidos.”

“Estamos cientes de que o Conselho como um todo não resolverá qualquer problema na China devido a considerações políticas”, disse ela. “No entanto, pedimos que os Estados eliminem o mercado de órgãos da China e que os relatores especiais sobre execução sumária, direito à saúde e direito à liberdade de tortura, olhem para essa questão como algo de grande urgência.”

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Nota do Editor: Quando o ex-chefe de polícia de Chongqing, Wang Lijun, fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu em 6 de fevereiro, ele colocou em movimento uma tempestade política que não tem amenizado. A batalha nos bastidores gira em torno da postura tomada pelos oficiais em relação à perseguição ao Falun Gong. A facção das mãos ensanguentadas, composta pelos oficiais que o ex-líder chinês Jiang Zemin promoveu para realizarem a perseguição ao Falun Gong, tenta evitar ser responsabilizada por seus crimes e continuar a campanha genocida. Outros oficiais têm se recusado a continuar a participar da perseguição. Esses eventos apresentam uma escolha clara para os oficiais e cidadãos chineses, bem como para as pessoas em todo o mundo: apoiar ou opor-se à perseguição ao Falun Gong. A história registrará a escolha de cada pessoa.