Desde 2008 o mundo assiste a uma sequência estarrecedora de escândalos envolvendo líderes de bancos que, através de decisões nada exemplares buscando unicamente o atingimento das metas de suas corporações e seus respectivos bônus salariais, têm levado ao desemprego e à miséria bilhões de pessoas no mundo inteiro. Esta não é uma crise de um sistema econômico, mas do padrão moral humano, e somente o surgimento de uma nova consciência será capaz de iluminar o fim do túnel.
Dessa vez é o poderoso banco britânico Barclays. Instituição fundada há mais de 300 anos, em 1690, e sempre tida como referência no mercado financeiro. Pois é exatamente em função dessa reputação que o escândalo da vez está pautado: o banco está sendo investigado pelas autoridades britânicas por manipulação da taxa básica de juros do Reino Unido, a Libor, que serve de referência para os juros cobrados no mundo inteiro. Seu principal executivo, Bob Diamond, pediu demissão no início de julho, atitude seguida também por toda a cúpula da instituição. Além de terem sido multados em quase 290 milhões de libras, equivalente a 1 bilhão de reais, os ex-executivos estão sob investigação da autoridade financeira britânica e podem ser acusados de crimes financeiros cuja repercussão é incalculável.
Diferente do Brasil, onde a taxa básica de juros (Selic) é determinada pelo Banco Central, no Reino Unido a Libor é a média das taxas de juros interbancárias praticadas pelos bancos privados ingleses. Devido à confiança construída há séculos, a taxa sempre foi informada sem nenhuma checagem posterior. Suspeita-se que os bancos combinavam os valores a serem informados, sem que fossem verdadeiros, da forma mais conveniente aos ganhos dos próprios bancos. Além de serem importante fonte de receita, essas taxas praticamente determinam os valores de uma infinidade de derivativos em mercados futuros. O posicionamento da carteira desses bancos nesses investimentos tem sido decisivo para esse jogo de cartas supostamente marcadas entre algumas das maiores instituições financeiras do mundo.
Os valores estimados dessa fraude são inacreditáveis. De acordo com o professor de Economia do Centro de Investigação de Mudança Sócio-Cultural (CRESC) da Universidade de Manchester, Michael Moran, o montante pode chegar a 300 trilhões de dólares, equivalente a 4 PIBs dos Estados Unidos da América. Depois dos créditos espúrios denominados subprime, que colocaram o mundo desenvolvido em uma recessão somente comparada à crise de 1929, passando pela pirâmide financeira de Wall Street promovida pelo banqueiro Bernard Madoff, todos nós, simples mortais, somos levados a nos perguntar se os colossais lucros desse mercado tão enigmático quanto invisível são justos, e há quanto tempo esses tipos de procedimentos lesivos à imensa maioria de trabalhadores está ocorrendo.
Estes alegados crimes são gerados pelos homens que estão na liderança dessas instituições. O mecanismo do capitalismo financeiro, embora sujeito a fraudes, parece adequado. Talvez não precisemos de um novo sistema econômico, até porque os demais existentes não conseguiram se sustentar nem mesmo em regimes totalitários. Precisamos é de novos homens.