Crise bancária na China: Taxas interbancárias atingem níveis recordes

24/06/2013 13:20 Atualizado: 24/06/2013 15:28
O Banco da China é visto entre outros edifícios no distrito financeiro de Hong Kong (Philippe Lopez/AFP/Getty Images)

A taxa Libor subiu acentuadamente em 2008, antes e imediatamente após a falência do Lehman Brothers em 2008, no auge da crise financeira norte-americana e ocidental. Situação semelhante está ocorrendo atualmente na China.

A crise de crédito está aumentando na China, um possível precursor de uma grande crise bancária que pode prejudicar seriamente a segunda maior economia do mundo.

Isoladamente, cada evento econômico negativo pode ter sua razão. Considerados em conjunto, no entanto, a recente série de desenvolvimentos econômicos negativos sinaliza que algo muito pior pode estar ocorrendo na China.

Os sinais ameaçadores geralmente emergem do sistema bancário, assim como na crise de 2008, quando o sistema financeiro ocidental esteve à beira do colapso. Quando os bancos não confiam mais uns nos outros, eles cobram taxas mais altas para empréstimos interbancários, temendo que possam não obter seu dinheiro de volta. Como o sistema bancário chinês está abarrotado de empréstimos ruins, há amplas razões para desconfiança.

A intervenção do governo chinês tem mantido as coisas sob controle, pelo menos até agora. O atual aperto do financiamento começou no final de maio e, na sexta-feira, o Ministério das Finanças da China vendeu apenas 9,5 bilhões de yuanes em títulos do governo de uma oferta de 15 bilhões. Compradores exigiram taxas de juros maiores que a habitual nos títulos de 9 meses; o segundo leilão problemático na China em apenas duas semanas.

Outro detalhe preocupante nesse leilão falho: os leilões são projetados para drenar liquidez do sistema. Se os bancos não conseguem comprar os títulos, isso significa que eles estão acumulando dinheiro na mão, uma medida geralmente tomada apenas num ambiente de alto risco.

O melhor indicador da desconfiança entre os bancos é a taxa Shibor (Shanghai Interbank Offered Rate), versão chinesa da Libor britânica e que determina a taxa de empréstimo interbancário no mercado financeiro de Shanghai. A Shibor disparou ultimamente, começando em menos de 3% atualizada em abril, elevando-se acima de 7,6% em 19 de junho e saltando para mais de 13,4% até 20 de junho.

Este é um salto absurdamente alto no mercado monetário e em papéis comerciais. Como comparação, significa que os investidores estão mais preocupados em emprestar para os bancos chineses por 24 horas do que emprestar para o governo grego por 10 anos.

Por que essa súbita falta de liquidez? Há razões para o aperto do mercado monetário, incluindo as empresas que têm de pagar impostos e os bancos que necessitam de capital para atender às exigências de corte de capital em 30 de junho. As altas taxas que vemos atualmente, no entanto, apresentam valores inéditos.

Isto implica a crise atual não é tão cíclica por natureza. Aparentemente, o Banco Popular da China (BPC), o banco central do país, tem limitado a liquidez que ele bombeia no mercado como uma forma de conter o recente frenesi de empréstimos, recusando-se a sustentar a atividade de empréstimos dos bancos chineses como havia feito antes.

Na terça-feira, o BPC não injetou 2 bilhões de yuanes de liquidez no mercado como esperado e anunciou que retiraria mais dinheiro do mercado com a venda de 2 bilhões de yuanes de títulos de 91 dias, o que colocaria ainda mais pressão sobre os bancos chineses famintos por capital.

Em 6 de junho, o ‘China Everbright Bank’ ficou inadimplente num empréstimo interbancário no valor de 6 bilhões de yuanes. Há outros casos de bancos que não conseguem pagar os empréstimos interbancários, o que sem dúvida contribuiu para o aumento das taxas. No passado, o BPC financiou os bancos chineses por mecanismos oficiais, bem como por outros meios, mas devido à inadimplência bancária recente, o BPC pode realmente ter apertado a oferta de dinheiro, tanto oficial quanto extraoficialmente.

Empréstimos excessivos alimentam as bolhas de ativos

Nos últimos anos, o crescimento econômico da China ocorreu em grande parte apoiado por uma política monetária frouxa, projetos caros de infraestrutura sem uso produtivo, mercado imobiliário especulativo e aumento de outras atividades econômicas. Esses grandes empréstimos improdutivos sobrecarregaram o chamado “sistema bancário colateral”, uma rede de empréstimos fora do sistema bancário oficial.

Os bancos chineses frequentemente se envolvem na venda de produtos estruturados em caixa dois para pessoas físicas, produtos de gestão de riqueza de alto rendimento e outros esquemas que envolvem transações fraudulentas, corrupção política e faturamento falso. Por sua vez, os bancos chineses estão sentados numa montanha de dívidas ruins – seu próprio regulador estatal estima um montante de 526,5 bilhões de yuanes, o que é uma estimativa conservadora.

O Telegraph do Reino Unido informou na quarta-feira que a analista Charlene Chu, da Fitch Ratings, estima que a relação dívida-PIB da China ultrapasse 200% e que cada yuan adicional produza um valor econômico cada vez menor (0,17 yuan por yuan emprestado).

“Quanto mais cedo eles (o BPC) agirem, menor será o custo. Se eles esperarem mais, haverá mais empréstimos ruins para lidar”, disse Zhang Ziwei, chefe-economista para a China da Nomura, numa nota de pesquisa na semana passada.

Sem resposta fácil

Talvez a única constante no mundo das finanças seja que não há tendência que dure para sempre, incluindo o recente boom econômico da China subvencionado economicamente pelo governo, que criou enormes bolhas de ativos e só pode ser mantido por uma política monetária ainda mais frouxa.

Os dados econômicos da China de maio foram chocantemente ruins. As exportações aumentaram apenas 1% em relação ao ano passado, muito menos do que as estimativas consensuais de 7% de crescimento. Isso é extremamente baixo considerando a grande probabilidade de faturamento falso registrado por exportadores para aumentar seus números.

O Índice de Preços ao Produtor no mês passado diminuiu 2,9%, descendo pelo 15º mês consecutivo. Porque a economia da China é grandemente impulsionada pela fabricação para exportação, isso significa que o país está provavelmente sofrendo deflação.

O primeiro-ministro chinês Li Keqiang está numa posição indesejada. Ele pode continuar a estimular a economia para ganhar tempo, agravando o atual frenesi de empréstimos bancários, ou pode apertar a política monetária e arriscar uma crise de crédito e bancária explosiva. Mas, devido ao peso dos bancos chineses, mesmo aumentos nas taxas de juros podem ter consequências terríveis.

A China não pode se dar ao luxo de expandir sua oferta de dinheiro e também não pode restringir o crédito. O país está entre a espada e a parede e precisa ser verdadeiramente inovador para sair dessa posição terrível urgentemente.

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