Crimes do ex-premiê chinês ofuscam sua arte

05/12/2013 11:01 Atualizado: 20/04/2014 21:06

O ex-vice-premiê do Conselho de Estado da China tem atraído alguma atenção que não faz jus, durante uma exposição de sua caligrafia e outros de seus trabalhos no Museu de Arte da Caligrafia em Seul, Coreia do Sul. Seu histórico de tortura, crimes contra a humanidade e genocídio tem sido exposto.

O Dr. Choi Woo-won, professor de filosofia na Universidade Nacional de Pusan, soou um alarme quando soube dessa exposição e publicou uma declaração dizendo: “Uma pessoa que tenha cometido crimes contra a humanidade tem uma exposição de arte no melhor local de arte na Coreia do Sul para mostrar suas chamadas obras de caligrafia e de corte do selo. Os sul-coreanos deveriam ficar indignados ao saber isso!”

“Os crimes de Li Lanqing são mais desumanos do que os cometidos por criminosos de guerra julgados nos vários tribunais de guerra internacionais. Quem organizou tal ‘exposição de arte’ e para que finalidade? Isso é ridículo! Todos devemos ir ao Centro de Artes de Seul para condenar esta exposição e impedi-la!”

A exposição de caligrafia de Li Lanqing e de seus trabalhos de corte de selo, que vai até 8 de dezembro, foi organizada pela embaixada da China, e o embaixador chinês na Coreia do Sul, Zhang Xinsen, participou da cerimônia de abertura.

O próprio Li Lanqing não compareceu. Ele é um dos mais de cem altos funcionários chineses que estão em listas de observação internacionais por abusos dos direitos humanos e crimes contra a humanidade. Alguns deles já foram processados em tribunais estrangeiros e não se atrevem a viajar ao exterior por medo de ser receberem documentos judiciais, terem de enfrentar grupos de manifestantes ou serem presos.

Apesar da ausência de Li, o evento chamou a atenção dos praticantes locais do Falun Gong (também conhecido como Falun Dafa), que disseram que Li tem muito sangue nas mãos.

“Li é um violador crasso dos direitos humanos que foi processado em vários países por crimes de tortura e genocídio, e ele receber destaque numa exposição de arte é totalmente inapropriado”, disse um representante da Associação do Falun Dafa da Coreia do Sul numa conferência de imprensa em frente à embaixada chinesa em 18 de novembro.

Agência 610

Li é o ex-chefe da Agência 610 do Partido Comunista Chinês, uma agência similar a Gestapo nazista e estabelecida em 10 de junho de 1999 pelo ex-líder chinês Jiang Zemin para liderar a perseguição ao Falun Gong.

A disciplina espiritual tradicional do Falun Gong foi introduzida pela primeira vez ao público chinês em 1992 e inclui exercícios de meditação e ensinamentos baseados nos princípios da verdade, compaixão e tolerância. O Falun Gong se tornou imensamente popular e, em 1999, entre 70 milhões e 100 milhões de pessoas o praticavam na China, o que despertou medos e inveja em Jiang Zemin que temia perder o controle das mentes do povo chinês.

Li foi o primeiro chefe da Agência 610, também conhecida como Agência de Controle do Falun Gong. De 1999 a 2003, ele foi encarregado da campanha nacional de supressão ao Falun Gong. Sob a direção de Li, a Agência 610 foi estabelecida em todos os níveis do Partido Comunista Chinês (PCC), bem como em órgãos estaduais, universidades e grandes empresas, segundo um relatório da ‘Organização Mundial para Investigar a Perseguição ao Falun Gong’ (WOIPFG).

Em público, Li Lanqing emitiu vários relatórios e fez outros tantos discursos incitando o ódio contra o Falun Gong, segundo o Centro de Informação do Falun Dafa. Nos bastidores, Li ajudou a pôr a máquina de perseguição do regime comunista chinês em movimento.

Numa conferência da Agência 610, realizada em 30 de novembro de 1999, Li Lanqing verbalmente retransmitiu uma nova política de Jiang Zemin em relação aos praticantes do Falun Gong. Li disse na conferência que a Agência 610 deve “difamar suas reputações, arruiná-los financeiramente e destruí-los fisicamente”, segundo o Minghui.org, um site do Falun Gong que publica relatos em primeira mão de vítimas da perseguição, além de relatórios detalhados.

O regime começou a premiar funcionários que executassem a nova política, conforme documentado num relatório da WOIPFG sobre o Campo de Trabalho Forçado Masanjia. Foram realizados seminários sobre os métodos de tortura considerados especialmente eficazes em “transformar” os praticantes do Falun Gong, compelindo-os a renunciar a sua fé.

Por exemplo, segundo um relatório da WOIPFG: “Um documento secreto emitido pela Agência 610 Central e pelo Ministério da Justiça” dizia que, “em novembro de 2000, 31 grupos, ou um total de 500 pessoas, de 25 províncias foram ao Campo de Trabalho Masanjia para visitas de estudo” com a finalidade de aprender métodos de tortura.

A Agência 610 sob Li também orientou as forças de segurança chinesas sobre a política de que “mortes seriam contadas como suicídio”, segundo o Minghui.

Com uma política de garantia de imunidade contra processos por maltratar praticantes, com outra política instando as autoridades a “destruí-los fisicamente”, incluindo treinamentos sobre como causar dores e sofrimentos insuportáveis e degradantes, e com recompensas por “transformar” os praticantes, um regime de torturas e abusos tomou forma em toda a China.

Mortes

A perseguição resultante afetou dezenas de milhões de praticantes e suas famílias.

De acordo com Minghui, 3.733 praticantes do Falun Gong tiveram suas mortes confirmadas até 2 de dezembro vítimas de tortura e perseguição. O Minghui ressalta que devido à dificuldade de se obter informações da China, o número real de mortes é certamente muito maior.

Investigadores independentes estimam que dezenas de milhares de praticantes foram mortos durante a remoção de seus órgãos para venda no lucrativo comércio de órgãos da China. O escritor e pesquisador Ethan Gutmann, no livro “Órgãos do Estado” de 2012, estima que cerca de 65 mil praticantes do Falun Gong tenham sido mortos por seus órgãos entre 2000-2008, selecionados a partir de cerca de 1,2 milhão deles presos no sistema de campos de trabalho forçado da China.

O ex-parlamentar canadense David Kilgour e o advogado de direitos humanos David Matas chegaram a conclusões semelhantes em seu relatório de investigação “Colheita Sangrenta“, afirmando que 41.500 prisioneiros de consciência do Falun Gong tiveram seus órgãos vendidos entre 2001-2005. Este comércio hediondo continua até hoje, afirmam eles.

Ações judiciais foram apresentadas contra Li Lanqing nos Estados Unidos, França, Bélgica, Taiwan, Alemanha, Canadá, Nova Zelândia, Chile, Holanda, Japão e Suíça por crimes contra a humanidade, tortura e genocídio contra o Falun Gong.

A Polícia Real Montada Canadense (PRMC) colocou Li Lanqing em sua “lista de observação”, junto com Jiang Zemin, Luo Gan, Liu Jing e o político desgraçado Bo Xilai, que está cumprindo uma sentença de prisão perpétua na China por outros crimes. A PRMC diz que investigará os crimes desses indivíduos caso eles pisem em solo canadense.

Amador

Li tem tentado exibir sua obra em locais de destaque pelo mundo com resultados variados. Em 2012, ele tentou exibir seus trabalhos com selos no Museu Metropolitan de Nova York.

Segundo a revista Investigate de Hong Kong, as autoridades chinesas contataram um gerente de arte asiática no museu e ofereceram “condições favoráveis” em troca de uma exposição de obras de Li. O museu recusou a oferta, porque um grupo de especialistas avaliou as obras de Li como de qualidade amadora.