Os alemães disseram que estavam combatendo a resistência e os Aliados. As FARC disseram que estavam combatendo os “paramilitares”.
Um ex-soldado do exército alemão de 88 anos acaba de ser declarado culpado por haver participado do massacre de Oradour-sur-Glane (França), durante a Segunda Guerra Mundial. Com efeito, em 10 de junho de 1944, 642 civis, habitantes desse povoadinho, foram encarcerados e ultimados metodicamente pelo regimento Der Führer da Divisão Blindada SS Das Reich. Foi o maior massacre perpetrado pelos nazistas na França durante o período ominoso da Ocupação.
Ante as novas denúncias das vítimas sobreviventes, a justiça alemã investigou e deu com o paradeiro desse homem, Werner C., hoje aposentado de toda atividade, que no momento dos fatos tinha 19 anos de idade, e o acusou, por ora, de “assassinato coletivo de 25 pessoas” e de “cumplicidade da matança de várias centenas de outras pessoas”.
O homem admitiu que havia estado em Oradour-sur-Glane nesse dia e que não havia feito nada para impedir esse massacre, mas que não havia disparado contra ninguém nem tomado parte na realização material da matança. Em outras palavras, que era “inocente”. Entretanto, a investigação judicial tem provas de que ele participou nesse dia, com outro soldado, no metralhamento de 25 civis reunidos à força numa granja. E que depois de ultimar os feridos com uma bala na cabeça, Werner C. teria se dirigido à igreja do povoado onde a população, composta sobretudo por centenas de idosos, mulheres e crianças, havia sido concentrada. O acusado teria vigiado o edifício e ajudado a transportar a gasolina que serviu para incendiar o edifício.
Após o desembarque aliado na Normandia e da derrota alemã de Kursk, as tropas especiais SS, como a citada, haviam recebido a ordem de avançar para o norte da França e consolidar posições mediante a técnica da “guerra total”: matanças de militares inimigos, de resistentes e de civis, deportações em massa, etc. Em 9 de junho, essa mesma divisão havia chegado a Tulle e prendido todos os homens do lugar. Em seguida enforcou 99 deles e deportou os outros 149 que caíram em suas mãos. O que fariam dias depois em Oradour-sur-Glane superaria em horror desse dia.
Desde a Liberação, as ruínas da cidade mártir foram declaradas monumento histórico, após uma visita em abril de 1945 do general Charles de Gaulle. Hoje esse lugar é o maior símbolo da barbárie nazista na França. O primeiro processo contra os responsáveis dessa matança começou em janeiro de 1953, em Bordeaux, porém seus resultados foram ambíguos. Apenas 21 dos 65 acusados compareceram. O veredicto condenou dois alemães à pena capital (os quais seriam libertados em 1959) e 14 à prisão perpétua. Porém, como 13 destes eram alsacianos, quer dizer franceses recrutados à força pelo exército de Hitler, a população alsaciana expressou sua inconformidade, o que suscitou a cólera da população da região de Limousin, onde fica Oradour-sur-Glane, que pedia que a condenação fosse cumprida. Finalmente, para manter a unidade nacional, o parlamento francês votou, em 19 de fevereiro, a anistia para os alsacianos, o que provocou a ira da gente de Limousin que viu nisso a transformação injusta de uns verdugos em vítimas.
Quanto ao novo processo na Alemanha, os tribunais de Dortmund e Colonia dirão a última palavra sobre a responsabilidade completa de Werner C. no horrível episódio de Oradour-sur-Glane. Outros cinco ex-soldados desse regimento SS estão sendo investigados pela justiça alemã pelos mesmos fatos. Como trata-se de um crime de lesa-humanidade, crime imprescritível, investigável e punível acima do tempo, os tribunais anunciam que cumprirão com seu dever até que haja sentenças firmes.
No momento em que na Colômbia as FARC, mediante falsas negociações “de paz”, pretendem burlar a tudo e a todos e obter da justiça colombiana a impunidade para seus crimes de guerra, de lesa-humanidade e de agressão, todos imprescritíveis, dizendo que as violências que eles praticaram contra os colombianos são coisas “do passado” e que elas são simplesmente as “vítimas” do Governo, o exemplo da justiça alemã deve ser observado e seguido como exemplo.
Guardadas as devidas proporções, o ocorrido em Oradour-sur-Glane lembra a matança perpetrada pelas FARC em Bellavista-Bojayá, Colômbia, em 2 de maio de 2002, onde entre 74 e 119 civis inocentes, a maioria mulheres e crianças que se haviam refugiado na igreja guiados por um sacerdote, pereceram, e outros 98 ficaram feridos sob as bombas artesanais da guerrilha comunista. Decididas a consolidar sua posição nessa região do Chocó, as FARC aplicaram durante três dias contra essa pacífica localidade sua técnica de “guerra sem limites”, como os nazistas haviam utilizado na França seu esquema de “guerra total”. Em seguida, como os nazistas dessa época, as FARC trataram de justificar seu crime. Os alemães disseram que estavam combatendo a resistência e os Aliados. As FARC disseram que estavam combatendo os “paramilitares”. Isso era certo, porém isso não lhes retira um milímetro de culpa. O caráter anti-humano e antirreligioso desse ataque da narcoguerrilha é inocultável: uma quarta bomba foi lançada pelas FARC contra a casa das Missionárias Agustinas onde também se haviam refugiado civis. Por sorte, essa bomba não explodiu. O ataque contra Bojayá gerou, além disso, um violento deslocamento da população: mais de mil pessoas tiveram que fugir para Vigía del Fuerte para salvar suas vidas.
Assim como alguns dos esbirros hitlerianos chegam a ser presos e julgados 70 anos depois de haver cometido seus crimes, na Colômbia as atrocidades de todo tipo das FARC serão objeto de processos e de condenações cedo ou tarde, acima do tempo, e até acima da geografia nacional. De forma distinta ao que ocorreu em Bordeaux em 1953, nenhuma lei colombiana, nem internacional, autoriza o perdão ou a anistia para esses crimes, como não se cansam de explicar o procurador geral colombiano Alejandro Ordóñez, e Fatou Bensouda, a promotora da Corte Penal Internacional, e como o sabe muito bem o promotor colombiano Eduardo Montealegre, embora por estranhos cálculos políticos, diga nestes momentos outra coisa.
Tradução de Graça Salgueiro
Esta matéria foi originalmente publicada pela Mídia Sem Máscara