Ostensivamente, Bo Xilai, o ex-membro do Politburo chinês que enfrenta julgamento, é apenas culpado de “suborno, corrupção e abuso de poder”, segundo o anúncio de sua indiciação. Mas editoriais em mídias porta-vozes do Partido Comunista Chinês (PCC) têm insinuado que Bo Xilai é na verdade culpado de coisas muito mais graves, a saber: desvio político e tentativa de usurpar o poder da liderança central.
Estas acusações não são explicitadas, mas observadores políticos do PCC e de suas misteriosas indiretas políticas concluíram esta leitura de declarações publicadas logo após o anúncio de sua indiciação em 25 de julho.
“Salvaguardar um governo central unificado e seus decretos e seguir a liderança central… continuam sendo os aspectos principais de nosso tempo”, escreveu a mídia estatal Xinhua, num comentário intitulado “Lealdade ao governo central é a chave para a estabilidade”, segundo uma tradução do Chinascope, um grupo baseado em Washington DC que analisa a doutrina do PCC. O artigo era especificamente sobre Bo Xilai e seu julgamento.
Duowei, uma mídia online de língua chinesa no estrangeiro, disse que a razão para a queda de Bo Xilai foi um “erro de alinhamento”. O termo refere-se a um desvio da doutrina estabelecida pela liderança central e é um rótulo político altamente carregado que foi aplicado à Gangue dos Quatro, um grupo de oficiais responsabilizado pelo tumulto e a violência da Revolução Cultural.
O termo também foi usado contra vários ex-oficiais de alto escalão do PCC que estavam num momento ou outro muito perto da liderança. Estes incluem: Li Lisan, o líder do PCC de 1928-1930, que foi acusado de “aventureirismo de esquerda” (um erro de alinhamento); Wang Ming, num ponto considerado um rival de Mao Tsé-tung, que foi acusado de “dogmatismo” (um erro de alinhamento) e Chen Duxiu, membro fundador do PCC, que foi culpado de “oportunismo de direita” (outro erro de alinhamento).
Bo Xilai, pelo menos, ainda não foi rotulado com um erro ideológico similar. Na superfície, ele só está sendo acusado de crimes legais, ao invés de crimes políticos. E o PCC agora não emprega tais termos banais como “erro de alinhamento” em sua propaganda.
“O código penal chinês não dez nada sobre erros de alinhamento político”, diz Wen Zhao, um comentador de assuntos políticos chineses da emissora NTDTV. “Então, eles usaram a execução judicial para lidar com ele, enquanto usam a Xinhua para dizer aos oficiais a situação real. A questão básica é que ele desafiou a autoridade do PCC. Eles não podem dizer tais coisas num tribunal, obviamente.”
De acordo com Duowei: “Em Chongqing, [Bo Xilai] estabeleceu-se como um rival da Central do PCC. Este tipo de erro de alinhamento de alto nível é o verdadeiro ato imperdoável, mas algo que está fora do âmbito da lei.”
O artigo da Xinhua comparou Bo Xilai a Qin Shihuang, o primeiro imperador da Dinastia Qin, conhecido na história como um tirano, e disse que Bo Xilai tinha “fundado um reino independente, opondo-se à Central do PCC”.
“A experiência histórica da China tem mostrado repetidamente que apenas salvaguardando a autoridade central pode-se assegurar a estabilidade do nosso país em longo prazo. O governo central faz política e muda o pessoal a partir da perspectiva de todo o país. Suas decisões são baseadas no interesse nacional”, disse a Xinhua. “As políticas e mudanças de pessoal podem tocar interesses locais, mas questões menores precisam ser subordinadas a questões maiores para que a reforma, o desenvolvimento e a estabilidade do país sejam beneficiados.”
A propaganda do PCC sobre o assunto contentou-se a assobiar sem entrar em detalhes sobre como Bo Xilai havia conspirado para desafiar a liderança central. Artigos do ano passado, no entanto, indicam que Bo Xilai havia infiltrado algumas das funções de segurança mais sensíveis do PCC e foi capaz de espionar os líderes do regime.
Fontes bem colocadas na China também disseram ao Epoch Times, numa série de vazamentos, que Bo Xilai era parte de uma conspiração com o ex-líder chinês Jiang Zemin e o ex-chefe da segurança pública Zhou Yongkang para usurpar o poder do atual líder chinês Xi Jinping. Os três haviam se unido numa camarilha para ganhar o controle do PCC por causa de seu envolvimento na perseguição ao Falun Gong, incluindo atividades relacionadas com a colheita forçada de órgãos de prisioneiros da consciência. Wang Lijun, o braço direito de Bo Xilai, admitiu presenciar a realização de “milhares” de transplantes de órgãos, levando especialistas a suspeitarem de que, com base numa série de fatores circunstanciais, as principais vítimas foram praticantes do Falun Gong.
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