É uma tradição chinesa que os filhos cuidem dos pais na velhice. Mas e se o único filho morrer antes dos pais?
Desde 1980, tem sido ilegal na maioria dos casos que pais tenham mais de um filho, eis a política do filho único, uma tentativa radical de controle populacional originalmente baseada em teorias científicas de um punhado de engenheiros aeroespaciais chineses.
E agora milhões desses filhos únicos estão mortos, deixando casais idosos, ou mães e pais órfãos, tendo de se virar sozinhos.
De acordo com um artigo do Beijing Times de 27 de agosto, Yi Fuxian, um especialista em demografia atualmente cientista da Universidade de Wisconsin, prevê que mais de 10 milhões das 218 milhões de famílias de filho único na China perderão seu descendente. A estimativa foi baseada no censo nacional de 2000, que mostrou que 463 de 10.000 neste grupo morreram antes da idade de 25 anos.
Houve 218 milhões de famílias de filho único entre 1975 e 2010, disse o relatório. A estimativa de Yi Fuxian significa que mais de 10 milhões de filhos únicos podem morrer antes da idade de 25 anos, deixando 20 milhões de pais em luto em sua meia-idade.
Tendo atingido quase 50 anos, muito poucas dessas mães serão capazes de ter um segundo filho.
No relatório “Vivo: Um estudo do idoso desolado na China”, os autores chineses Wu Jiaxiang e Yu Weihua citam estatísticas do Anuário Estatístico de Saúde de 2010 da China publicado pelo Ministério da Saúde da China, que mostra que cerca de 76 mil crianças apenas entre 15 e 30 anos de idade morrem a cada ano.
Pais órfãos dizem que sem uma criança suas vidas não têm sentido. Não só eles têm de arcar com a dor de perder um ente querido, eles também são deixados sem apoio em sua velhice.
“Eu não tenho medo da morte”, disse um pai agora sem filho, conforme citado num artigo do Beijing Times. “Tenho medo do meu envelhecimento.”
Quando pais idosos começam a se candidatar para casas de repouso em seus últimos anos, casais sem filhos são geralmente rejeitados.
Isso aconteceu com um professor de 75 anos que só quis ser identificado por seu sobrenome Pan. Ele perdeu seu único filho de doença cardíaca. Após a morte do filho, Pan se candidatou em vários lares de idosos para si e sua esposa, apenas para ser recusado porque não tinha mais uma criança para assinar os papéis, segundo o relatório “Vivo”.
Cerca de 80 pais sem filhos se reuniram em junho no escritório da Comissão Nacional de População e Planejamento Familiar, esperando no escritório até 16h do dia seguinte, antes que as autoridades finalmente concordassem em se reunir com eles, disse o relatório.
Wang Peian, o vice-diretor da agência, reuniu-se com cinco representantes do grupo. Ele prometeu apresentar um quadro para o Conselho de Estado e manter contato, mas não há indicações de que a política mudará.
Nenhuma alteração será feita na política sem o acordo dos líderes superiores do Partido Comunista. Eles continuam a apoiar a política independente da objeção de advogados e ativistas, que dizem que isso produz infanticídio feminino e generaliza os abortos forçados realizados por autoridades locais do PCC, muitas vezes violentamente.