Crescimento baseado apenas no crédito é insustentável

29/06/2012 17:49 Atualizado: 29/06/2012 17:49

Pilha de cartões de crédito. Segundo pesquisa da Fecomércio-SP, mais da metade das famílias brasileiras está individada. (Nicholas Rigg/Getty Images)Analistas defendem investimentos em infraestrutura, saúde e educação

Como outros países emergentes, o Brasil tem apostado na estimulação do consumo através de altas ofertas de crédito para o crescimento da economia. Entretanto, a alta taxa de inadimplência do consumidor não só ameaça o consumo das famílias brasileiras, mas denuncia o esgotamento de um modelo de crescimento baseado apenas no crédito.

De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência realizada pela Federação do Comércio de Bens e Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP),  em maio o endividamento do consumidor atingiu o maior nível desde 2009, auge da crise global: 53,2% das famílias brasileiras. O principal tipo de dívida continua sendo de cartão de crédito (77,2%), seguido por crédito pessoal (19,3%), carnês (17,6%), cheque especial (9,8%), financiamento de carro (8,9%) e outros.

A pesquisa mostra que a alta taxa de inadimplência registrada no mês de maio contribuiu para a queda na intenção de consumo das famílias brasileiras no mês de junho. Mesmo com todos os incentivos oferecidos pelo Governo, como redução de impostos e queda da taxa de juros praticada pelos bancos, o consumidor preferiu optar por não adquirir novas dívidas, principalmente de longo prazo.

O Banco de Compensação Internacional (BIS), espécie de banco central mundial, em seu relatório anual, divulgado no último fim de semana, expressou preocupação em relação ao volume de crédito e ao elevado nível de endividamento das famílias brasileiras. O BIS também alertou que a atual supervalorização do mercado imobiliário, principalmente em São Paulo e Rio de janeiro, pode colocar em risco o crescimento do Brasil nos próximos anos.

Além disso, as sucessivas reduções da perspectiva de crescimento do PIB brasileiro, bem como de outros países do BRICS, incluindo a China, também evidenciam os efeitos nos países em desenvolvimento da grave crise econômica que assola hoje a Europa e os Estados Unidos, o que já é admitido pela presidente Dilma.

O fato é que o incentivo ao crescimento do PIB baseado somente na oferta de crédito encontra limites. Para muitos analistas, um crescimento sustentável deve ter como base investimentos em infraestrutura, saúde e educação, de forma a assegurar um círculo continuado de incremento da produtividade e inovação, ainda que gradual. O estímulo artificial, que vem sendo feito em países em desenvolvimento, além de maléfico em médio prazo, pode ser uma estratégia irresponsável e insustentável.

Nos próximos meses, a conjunção de um modelo de crescimento econômico baseado apenas no estímulo ao consumo nos países em desenvolvimento com as consequências de um capitalismo financeiro irresponsável em países centrais pouco preocupados com equilíbrios fiscais poderá representar grave ameaça ao equilíbrio político global, com consequências imprevisíveis.

Por outro lado, está na hora do nascimento de uma nova ordem econômica mais interessada no desenvolvimento de todos em longo prazo. É uma pena que a humanidade somente possa aprender com graves crises globais como a que o mundo atualmente atravessa.

Normal 0 21 false false false PT-BR ZH-CN X-NONE investimentos em infraestrutura, saúde e educação,