Quando as autoridades chinesas anticorrupção derrubaram o diretor da Corporação Estatal de Ferro e Aço Jiuquan (JISCO), as despesas exorbitantes de recepção da empresa passaram a ser foco de investigação.
No dia 6 de maio, a agência anticorrupção do Partido Comunista na Província de Gansu anunciou que o diretor da JISCO e o vice-secretário do Partido Comunista, Feng Jie, foram colocados sob investigação acusados de “violar severamente a lei e a disciplina”.
Detalhes sobre o caso de Feng não foram liberados às mídias, mas as chamadas “despesas de recepção” da JISCO, pagas com dinheiro público, estão sob investigação. De acordo com o China Business News, em 2014 a companhia destinou mais de um bilhão de yuans (cerca de U$ 160 milhões) para cobrir custos recepções, o triplo do valor de 2011.
Para empresas estatais como a JISCO, “despesas de recepção”, assim como viagens de negócios e compra e manutenção de veículos, são custos cobertos por fundos estatais.
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Estas provisões permitem lacunas que podem facilmente ser aproveitadas pelos executivos. Em 2013, Feng Jie gastou 76 milhões de yuans (U$ 12 milhões) num luxuoso edifício em Pequim destinado a recepções, apesar da sua companhia sofrer perdas anuais de aproximadamente 3 bilhões de yuans, relatou a China Business News. O edifício supostamente serviria para receber oficiais e colaboradores da companhia que viajavam para Pequim a negócios.
Outra companhia estatal, a China Railway Construction Corporation, gastou 837 milhões de yuans (U$ 135 milhões) em “hospitalidade de negócios”, em 2012.
Entrevistado pela agência de notícias estatal Xinhua, Xu Baoli, um diretor de departamento da autoridade para o controle de ativos e passivos do governo, afirmou que as empresas do governo “se habituaram a consumir e desperdiçar fundos públicos”.
A alocação arbitrária de fundos de segurança social e reembolsos fraudulentos são outros aspectos significativos do problema, segundo Xu.
Refeições dispendiosas e exuberantes recepções de negócios tornaram-se a forma de obter vantagem junto a oficiais em projetos de segurança do estado. “Se as firmas estatais não o fizerem desta forma, elas não conseguirão o projeto”, afirmou Wang Mengshu, engenheiro e vice-chefe da China Railway Tunnel Group, ao jornal Chinês Time Weekly. “Oferecer uma refeição deve custar dezenas de milhares de yuans, caso contrário, a outra parte não ficará satisfeita”.
“Tornou-se um meio de fazer negócios. Ninguém está isento desta condição a nível nacional”, disse Wang.
Um chefe de projeto de uma grande companhia de construção estatal que preferiu ficar anônimo também confirmou que a situação é generalizada. Disse que a sua companhia não apenas precisava oferecer refeições e presentes para obter os direitos de executar o projeto, mas depois de o completar também, para se certificarem de que o projeto obedeceria os requisitos, publicou a Time Weekly.
Nos serviços de recepções oficiais da cidade de Tianshui, na Província de Gansu, em um grande slogan pintado na parede podia-se ler: “A recepção é uma força produtiva”. O jornal chinês Southern Daily relatou que as autoridades rapidamente removeram o slogan após condenação pública.