A corrupção é um enorme problema para o Partido Comunista Chinês (PCC) e uma faca de dois gumes, como refletido na frase chinesa, “Oponha-se a corrupção e destrua o PCC, não se oponha e destrua a nação.”
Sem a legitimidade para governar conferida por eleições e instituições como o Estado de Direito, os comunistas chineses deve contar com um sistema extralegal de regalias e benefícios, também conhecido como corrupção, para manter seus camaradas no sistema incentivados e, pelo menos, minimamente obedientes. No entanto, o desequilíbrio no poder está ficando cada vez mais fora de controle e com o surgimento da internet e das mídias sociais, o público está aprendendo cada vez mais, para a fúria do regime.
Recentemente, um jornalista chinês postou algumas linhas concisas no Sina Weibo, um website de microblogue altamente censurado na China que é similar ao Twitter, relatando uma série de oficiais e os montantes por eles desviados, juntamente com o número de propriedades que possuem. Esses casos só foram conhecidos porque os envolvidos foram capturados, que na maioria das vezes acontece quando um rival político ganha vantagem numa luta de poder, mas a quantidade de dinheiro desviado é impressionante.
A maioria dos oficiais envolvidos operava geralmente a nível local, mas os casos abaixo, documentados em artigos da mídia online, representam bilhões de dólares roubados do povo. Os casos oferecem um vislumbre dos tipos de corrupção que acontecem diariamente em toda a China e dão uma ideia do roubo monumental que faz da China contemporânea, nas palavras frequentemente citadas de um observador, “uma cleptocracia numa escala jamais vista na história da humanidade”.
Concedendo favores no porto
Por 35 anos, Yang Guangliang foi funcionário do governo de Maoming, Guangdong, uma entrada portuária na fronteira sul da China que conecta o transporte de cargas para os principais destinos como Hong Kong e Macau. Sua carreira começou como secretário do PCC de um projeto de construção.
A partir dos anos de 1980, quando Yang se tornou o vice-chefe de um dos municípios de Maoming (Baidian), ele começou a aceitar pequenos subornos em dinheiro de pessoas que queriam favores. Yang confessou aos investigadores que ultimamente as propinas variavam de 30-50 mil yuanes (4.750 a 8 mil dólares) até centenas de milhares, segundo a Phoenix TV.
Yang se tornou vice-prefeito da cidade de Maoming na década de 1990, uma posição-chave que lhe permitiu conceder favores aos cidadãos mais ricos da cidade. Ele permitiu que indivíduos ricos realizassem negócios imobiliários em troca de subornos no valor de 500 mil a 1 milhão de yuanes (c. 80 a 160 mil dólares) por pessoa.
Para um dos favores mais lucrativos de Yang, ele renunciou aos impostos e taxas para o proprietário do Tribunal Felicidade, um conhecido restaurante de sucesso na cidade, em troca de 10% de participação.
Em dezembro de 2011, Yang foi condenado a 19 anos por corrupção. Suas 140 propriedades, incluindo casas dadas a ele por empresários ricos e milhões de dólares em subornos foram confiscados.
Total em dinheiro: 1,2 bilhão yuanes (c. 190 milhões de dólares).
‘Resolvendo’ problemas de drogas
Yang Hongwei foi governador da Prefeitura Autônoma de Chuxiong Yi na província de Yunnan, que é localizada próxima do “Triângulo Dourado”, uma região central da produção de heroína no mundo. Yunnan é a principal fonte chinesa de drogas ilegais. Yang usou seu cargo na área de “resolver problemas” para os empresários.
Enquanto servia em Chuxiong, Yang recebeu propinas no valor de 10 milhões de yuanes (1,3 milhão de dólares), segundo a Rádio Nacional da China. Num caso, ele aceitou suborno em troca de eliminar uma dívida de 60 milhões de yuanes (9,5 milhões de dólares) de um empresário. Depois que a história de corrupção de Yang foi revelada, ele foi destituído em abril de 2011.
Total em dinheiro: 1,7 bilhão de yuanes (267 milhões de dólares)
O homem dos ‘três muitos’
Xu Maiyong foi eleito para a prefeitura da cidade costeira chinesa de Hangzhou na década de 1980. Naquela época, ele era visto como um modesto professor. Quando Xu se tornou o vice-prefeito da cidade de Hangzhou, sua personalidade mudou.
O Diário da Procuradoria, uma mídia estatal publicada pelo Supremo Tribunal da China, publicou um artigo contendo informações sobre a confissão de Xu para prender oficiais. Xu explicou por que ele começou a aceitar propina, “Em 1989 [quando Xu era um oficial do governo da cidade], fui a uma conferência com vários oficiais do PCC que estavam à frente do desenvolvimento econômico. Eles ficaram nos melhores hotéis e cada refeição custava cerca de 5 mil yuanes (c. 790 dólares)”, disse Xua, segundo o iFeng.com. “Eu não podia aceitar isso. Meu salário anual não era suficiente para uma de suas refeições.”
Desde então, Xu quis mudar sua carreira, por isso, ele se conectou com as pessoas mais ricas da cidade. De 1995 a 2009, Xu aceitou subornos que totalizam mais de 145 milhões de yuanes (23 milhões de dólares). Ele também desviou mais de 50 milhões de yuanes (7,9 milhões de dólares) em bens do Estado.
Investigações posteriores revelaram que Xu teve 99 amantes, muitas das quais eram ricas mulheres de negócios, oficiais do governo e estudantes universitárias, segundo a revista Outlook Oriental, uma publicação semanal da mídia porta-voz do regime Xinhua. Xu foi chamado de “homem dos ‘três muitos’”, o que significa muito dinheiro, muitas propriedades e muitas mulheres. Xu foi condenado à morte e executado em 18 de julho de 2011.
Total em dinheiro: 1,4 bilhão de yuanes (220 milhões de dólares).
Barão do carvão
Hao Pengjun era chefe do Departamento de Terras e Recursos do PCC na pequena cidade de Pu na província de Shanxi. Localizada num planalto e rodeada por montanhas, a província de Shanxi é famosa por sua abundância de carvão.
Hao usou seu cargo para administrar os campos de mineração de carvão como se fossem propriedade privada dele e cobriu os custos de compras ilegais com fundos públicos. Ele aceitou suborno de empresários que ansiavam por lucrarem com os campos de mineração e ampliarem os perigosos campos para áreas residenciais, assim aumentando os lucros.
Durante seu mandato como chefe do PCC, Hao ganhou cerca de 800 milhões de yuanes (127 milhões de dólares) por meio da corrupção. Ele também possuía 35 propriedades em todo o país, de Pequim à Ilha de Henan, segundo o Sina News. Embora Hao fosse um oficial municipal menor, sua corrupção superava muitos que estavam acima dele. Ele foi condenado a 20 anos em abril de 2010. Em 2009, muitos outros oficiais corruptos que se aproveitaram da indústria de mineração de Shanxi também foram removidos.
Total em dinheiro: 3 bilhões de yuanes (472 milhões de dólares).
Vendedor de cargos
Como vice-governador da província de Shandong, Huang Sheng encontrou uma maneira de ganhar dinheiro: vender cargos do PCC. Huang vendeu o cargo de chefe municipal do PCC por 500 mil yuanes (79 mil dólares) e o de chefe do escritório local do PCC por 100 mil yuanes (15 mil dólares).
Ele também usou seu poder para conceder descontos às empresas que ansiavam por comprar terras na província de Shandong. Em junho de 2012, Huang foi forçado a deixar seu cargo e aguarda sentença.
Total em dinheiro: de 100 milhões a 9 bilhões de yuanes (não confirmado).
Coletor de propina
Huang Meng serviu em cargos diferentes na cidade de Huzhou, província de Zhejiang, por duas décadas, antes de se tornar o prefeito da cidade. Enquanto em Huzhou, Huang usou sua posição para obter lucros enormes, aprovando um projeto de conservação de água que filtrava a água em lagos da cidade e rios, segundo o Sina News. A água filtrada era então vendida aos moradores como água de torneira potável. Mais tarde, Huang aprovou projetos semelhantes para redes de eletricidade e aquecimento, recebendo imensas propinas no processo.
Uma postagem recente no Diário do Povo revelou que Huang aceitou subornos de todos os tipos, incluindo dinheiro, carros, colecionáveis e materiais de renovação habitacional, totalizando mais de 10 milhões de yuanes (1,53 milhão de dólares). Huang está aguardando sentença.
Total em dinheiro: 200 milhões de yuanes (31 milhões de dólares).