Corrompendo o culto aos ancestrais na China moderna

05/04/2013 12:13 Atualizado: 05/04/2013 13:53
Para venda em pacote ou à la carte
O ‘dia de limpeza dos túmulos’ se aproxima e negócios visam pessoas que não podem ou não têm tempo de cultuar seus ancestrais. A foto mostra cemitério na cidade de Jingjiang, província de Fujian, China (AFP)

Durante o anual Festival Qingming, ou ‘dia de limpeza dos túmulos’, comemoração tradicional na China em lembrança àqueles que partiram, chineses costumam visitar o túmulo de seus entes queridos. Mas isso tem se tornado um negócio crescente para empresas que atendem pessoas muito ocupadas para visitar seus parentes mortos.

Qingming pode ser traduzido como “brilho puro” e destina-se a celebrar a lealdade, mas, no século 21, a China oferece uma abordagem diferente.

Todos os serviços tradicionalmente feitos por parentes em luto agora são vendidos como mercadorias: o choro pode ser cobrado por minuto ou incorporado num pacote.

Um pacote completo inclui a limpeza do local da sepultura, queimar incenso, acender velas, curvar-se, ler panegíricos, prostrar-se, colocar flores, chorar e lamentar. Sepulturas que estão fora da cidade têm um custo adicional.

Um negócio em Guangzhou cobra 500-800 yuanes (US$ 80-129) por visita. Preços sobem conforme a data oficial se aproxima. Um negócio em Pequim cobra 350-1.000 yuanes por visita (US$ 56-166). Lamentações custam 100 yuanes (US$ 16). Chorar em sofrimento por uma mãe ou um pai custa 100 yuanes e cada golpe de cabeça no chão custa 50 yuanes (oito dólares).

Um pranteador especialista pode cobrar mais. Em Tianjin, serviços de choro de um profissional experiente custam 20 mil yuanes (US$ 3.225). Algumas empresas fornecem gravações ou filmagem em tempo real do processo como documentação para suas faturas.

Muitos internautas consideram o uso de tais serviços como “mentir para a outra vida”.

Um usuário da internet postou: “Tudo é possível nesta sociedade. Estamos progredindo ou regredindo?”

Outro escreveu: “As pessoas estão tão acostumadas a mentir que agora estão se habituando a mentir para espíritos.”

Um terceiro comentou: “Num período em que o que se adora é o dinheiro, pessoas que contratam este serviço não têm mais nada, somente o dinheiro que lhes resta.”

O tráfego na Rodovia Daihuang na cidade de Wuhan, província de Hubei, estava lotado por 13 milhas com pessoas indo visitar os túmulos no último fim de semana antes do Festival Qingming. O preço dos crisântemos, tradicionalmente usados em funerais e cemitérios, subiu 50%. Os amarelos chegaram a 1 ou 1,50 yuan (16-24 centavos de dólar) cada e os brancos estavam por 1 a 2 yuanes (16-32 centavos de dólar) cada. O branco é a cor do luto na China, daí o preço ser mais elevado.

Além de alimentos e flores, as pessoas trazem oferendas feitas de papel para serem queimadas e assim enviadas ao outro lado para confortar o falecido. Queimar dinheiro de papel simbólico era uma prática tradicional. Mas recentemente, na cidade de Chongqing, província de Sichuan, os enlutados faziam oferendas de papel modeladas como mansões, carros, aparelhos de ar condicionado, geladeiras, aquecedores de água, laptops, telefones celulares e iPads. Há até mesmo bonecas de papel para representar amantes.

O festival é um dos 24 antigos períodos solares da China, que marcam as mudanças de estação. É um ponto de transição importante no calendário lunar e um dos oito feriados mais importantes no país. Tudo começou na Dinastia Zhou e tem sido comemorado por mais de 2.500 anos. Na China, 25 dos 56 grupos étnicos existentes reconhecem o dia.

O feriado honra um homem chamado Jie Zitui, que deu um pedaço de sua própria coxa para salvar seu senhor exilado da fome durante o Período da Primavera e Outono (770-476 a.C.), segundo a tradição chinesa. Com o tempo, honrar parentes mortos se tornou a forma de marcar o dia. As pessoas visitam os túmulos, limpam as ervas daninhas e asseiam o local, queimam incenso, choram e fazem oferendas a seus antepassados.

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