O corpo humano tem limites? (Parte 1)

19/08/2013 07:30 Atualizado: 19/08/2013 09:06
Prender a respiração por 20 minutos ou ficar sem dormir por 11 dias pode parecer sobrenatural, porém, quais são os reais limites do corpo humano?
No início de 2008, o mágico David Blaine quebrou o recorde mundial de não respirar
No início de 2008, o mágico David Blaine quebrou o recorde mundial de não respirar (Scott Wintrow/Getty Images)

Comida, água, sono e respiração são pilares de sustentação da vida humana. Enquanto alguns organismos podem sobreviver na falta prolongada desses fatores essenciais à vida humana, a sobrevivência humana sem um desses quatro fatores é, de acordo com a ciência, impossível.

Mas quanto tempo um ser humano pode realmente ficar sem um desses elementos essenciais à vida? Qual o limite para isso? Ao que parece, sempre que alguém diz ter encontrado uma regra absoluta, uma exceção é logo encontrada.

Bigu: Viver sem comer

Alguns jejuam por motivo de saúde ou religioso. Os que jejuaram por dias ou até semanas relatam que essa prática, quando feita, melhora o vigor físico e a saúde geral. Outros, em protesto político, fazem “greve de fome” – fazem-no para chamar a atenção das pessoas para um problema ou uma questão.

O corpo humano, depois de um mês sem se alimentar, entra estado de inanição. Depois de dois meses, passa a consumir a si mesmo para se alimentar e isso leva rapidamente à morte.  A falta de água pode levar à morte num período ainda mais curto.

No entanto, registros antigos sugerem que os seres humanos têm a capacidade de ficar sem comer e beber água por mais tempo do que podemos imaginar. Em alguns antigos métodos de cultivo chineses, quando um monge decidia meditar numa montanha ou caverna remota, mais cedo ou mais tarde, surgia um problema: comida. Vivendo numa caverna e isolado da civilização, ele tinha pouco alimento para sustentá-lo em seu caminho para a iluminação.

De acordo com a tradição oral, para resolver o problema de carência de alimentos, os monges praticavam o bigu (literalmente traduzido como “sem grãos”). Isolado do mundo humano, o monge milagrosamente livrava-se da necessidade biológica de se alimentar e beber água, e assim, ele podia praticar por décadas – algo impossível de acordo com a biologia moderna.

Além de registros que dizem que alguns monges famosos meditaram sem parar por mais de nove anos, o que não é reconhecido pela ciência moderna, existe alguma outra evidência que indique que o corpo humano tem a capacidade de escapar do fardo de ter que alimentar?

A partir de 1926 (um caso negado pelos cientistas), uma mulher chamada Teresa Neumann começou a viver sem comer, viveu assim durante muitos anos, até o final de sua vida. Mais recentemente, pesquisadores relatam que, no ano de 2005, um jovem budista do Nepal, Ram Bahadur Bomjon, meditou à sombra de uma figueira por mais de oito meses sem comer ou beber qualquer tipo de líquido. Uma cerca o separava das centenas de pessoas que paravam lá para rezar e admirar esse ser humano milagroso. Isso inclusive foi filmado pelo canal Discovery Channel, dia e noite, durante quatro dias para provar a veracidade do caso.

Privação do sono

O que podemos dizer do sono? Existe alguém que conseguiu driblar a necessidade do sono restaurador, o qual todas as pessoas necessitam uma vez a cada 24 horas?

Algumas espécies de animais, como peixes e avestruzes, têm a capacidade de adormecer apenas um hemisfério do cérebro, deixando o outro hemisfério alerta para vigiar eventuais ameaças de predadores. De tempos em tempos, eles trocam, colocam a outra metade para repousar. É dessa forma que eles completam o ciclo de sono diário.

Os humanos não têm tal capacidade. Normalmente, uma noite sem dormir pode aumentar o estresse e reduzir visivelmente o tempo de nossas reações; duas noites sem dormir aumentam esses efeitos. Mas qual é o limite “oficial” de privação do sono?

Durante o século passado, muitos tentaram resistir ao sono. Suportando alucinações e a perda da memória de curto-prazo, Randy Gardner, de 17 anos de idade, em 1963, conseguiu ficar acordado durante 11 dias. Ainda que o Guinness registre mais recordes de privação do sono, outros estão se esforçado para quebrar a façanha de Gardner.

No entanto, não dormir durante 11 dias não se compara ao que o agricultor vietnamita, Ngoc Thai, de 66 anos de idade, pode fazer. Acometido de febre em 1973, Thai não voltou mais a dormir, e não porque não tentou. Medicamentos, remédios populares e álcool não conseguem dar um fim à sua existência sem sono.

Ngoc Thai é uma impossibilidade médica? Como pode o cérebro humano sobreviver sem dormir por mais de uma semana?

Cada respiração que fazemos

Enquanto alguns organismos, tais como as bactérias anaeróbias, podem viver perfeitamente num ambiente sem oxigênio, os seres humanos não se saem tão bem assim. As pessoas, depois de prenderem a respiração debaixo d’água por uns poucos minutos, são forçadas a vir à superfície para respirar o precioso oxigênio. Mas, no início deste ano, o mágico David Blaine surpreendeu o público ao quebrar o recorde mundial de prender a respiração; suportou mais de 17 minutos sem respirar. Mas será que ele atingiu o limite humano?

Alguns registros mostram que os iogues indianos ficam enterrados ou submersos na água durante dias, desafiando os atuais conhecimentos científicos sobre a oxigenação molecular.

Os seres humanos são naturalmente curiosos sobre os limites do corpo; as pessoas que superam limites ficam famosas, são admiradas. Mas quando isso vai muito além do que consideramos possível, os resultados tornam-se difíceis de compreender.

Quando alguém parece ter quebrado a dependência desses fatores vitais – não um simples truque de mágica – somos forçados a refletir sobre o que realmente sustenta o corpo.