Coreia do Norte ainda mais em risco depois da seca, diz ONU

09/08/2012 03:00 Atualizado: 09/08/2012 03:00

Agricultores norte-coreanos vistos da janela de um trem enquanto trabalham no campo ao longo da linha ferroviária entre Pyongyang e a província norte de Phyongan, na costa oeste, em 8 de abril. (Pedro Ugarte/AFP/Getty Images)A seca extrema na Coreia do Norte nos últimos meses e as inundações nas últimas semanas têm prejudicado o setor agrícola do isolado país comunista.

Claudia von Roehl, a diretora do Programa Alimentar Mundial (PAM) para a Coreia do Norte, visitou fazendas no país nas últimas semanas e disse que apenas 207 mil toneladas métricas de culturas foram colhidas, 40% abaixo do mesmo período do ano passado.

A recente seca no país agravou um setor agrícola já instável que se baseia principalmente na chuva. Algumas culturas, como trigo, cevada e batatas, foram gravemente afetadas.

O chefe da fazenda Sokdam mostrou a von Roehl batatas que não eram maiores do que cerejas que foram colhidas e eram impróprias para serem usadas como fonte de alimento.

“Embora a colheita precoce seja apenas 10% da produção nacional, isso ocorre num momento crucial, quando o período anual de escassez, em que o suprimento de alimentos é o mais baixo [na Coreia do Norte], começa a incomodar”, escreveu von Roehl. “E talvez mais preocupante é que há preocupações sobre a colheita principal de milho no final do ano.”

Numa fazenda em Ryongchon, cerca de 25 hectares de terra estão programados para o cultivo de milho, mas os campos ainda não foram irrigados, devido a praticamente nenhuma chuva na região.

“Os agricultores da área circundante foram mobilizados para ajudar a irrigar os canteiros e encorajar as mudas transplantadas de milho a crescerem, carregando água em qualquer recipiente que encontrassem, mas muitas das plantas secaram e morreram”, disse ela.

A Coreia do Norte desde a década de 1990 tem sido forçada a lidar com a fome, que já causou a morte de milhões de pessoas devido à inanição ou problemas relacionados, segundo algumas estimativas.

Nas últimas semanas, cheias afetaram grande parte da Coreia do Norte, com a mídia estatal no sábado dizendo que 169 pessoas morreram, 400 estavam desaparecidas, 8.600 casas foram danificadas e mais de 40.000 casas submergiram, deixando 22.000 desabrigados. Os números recentes representam um aumento acentuado em relação aos números anteriores relatados pela mídia estatal.

Ao mesmo tempo, 1.613 hectares de terras cultiváveis foram submersos, o que provavelmente afetará ainda mais a lânguida agricultura do país, relatou a mídia estatal.

O PAM disse em seu relatório de 2012 sobre a Coreia do Norte que dados do governo sobre as inundações podem estar distorcidos.

Este ano, a ONU estimou que mais de 3 milhões de pessoas precisariam de ajuda alimentar na Coreia do Norte e isso foi antes das cheias. O PAM informou em seu website que 16 milhões de pessoas de uma população de mais de 24 milhões sofrem de insegurança alimentar crônica que provavelmente piorará depois da colheita pobre deste ano provocada pela seca.

O PAM disse na semana passada estava enviando o primeiro lote de ajuda alimentar de emergência às vítimas das inundações.

No início de julho, Kim Young Hun, um pesquisador do Instituto de Economia Rural da Coreia, disse ao website Daily NK que o início das fortes chuvas não afetou o plantio de arroz, “apesar do cronograma atrasado”.

No entanto, depois de falar com os agricultores norte-coreanos, von Roehl disse que a safra de arroz do país provavelmente será prejudicada este ano.

“O arroz precisa de chuva, em seguida, de sol para a germinação. Este ano não houve chuva, mas sol permanente. Só recentemente as chuvas chegaram. Ninguém está realmente certo sobre se a colheita final ocorrerá no final do ano”, escreveu ela.

A mídia estatal na segunda-feira informou que o Vietnã, outro país comunista, doou 5.000 toneladas de arroz para a Coreia do Norte depois das inundações.