As controvérsias da medicina

18/04/2014 11:20 Atualizado: 18/04/2014 11:12

Winston Churchill, o primeiro ministro da Grã-Bretanha em tempo de guerra, uma vez comentou: “Para toda pergunta existe uma resposta clara, concisa e coerente, mas que está errada”. Da mesma forma, na medicina, as respostas de especialistas são às vezes dadas como erradas anos depois, e em alguns casos com consequências devastadoras.

Um relatório encontrado nos ‘Arquivos da Medicina Interna’ (Archives of Internal Medicine) descobriu que 13% dos artigos científicos publicados no prestigiado ‘New England Journal of Medicine’ em 2009, relataram reversão em descobertas médicas envolvendo remédios, testes de triagem e procedimentos invasivos.

Por exemplo, durante anos, nos foi dito que o aumento do colesterol bom é uma atitude prudente. Porém, novas pesquisas mostram que não ajuda a prevenir ataques cardíacos, derrames e morte precoce.

Aqui está outra bomba. Os médicos indicam aos homens a fazerem regularmente exame antígeno prostático específico (PSA). Agora, relatam que é mais provável que o rastreamento do câncer de próstata feito em rotina cause mais danos, devido ao tratamento, do que salve vidas.

Você já se assustou quando estava com algum amigo que tem mania de estalar os ossos? Desde que foi dito que este hábito pode causar artrite, por que não dizer francamente ao seu amigo para parar? No entanto, uma pesquisa recente feita com 215 pessoas, com idade entre 50 e 59 ano, revelaram através de raios-X que a incidência de artrite era praticamente a mesma em pessoas que estalam ou não estalam os ossos.

Sem dúvida, muitos dos que estão lendo esta coluna irão à academia esta semana. Também não há dúvida de que se alongarão antes e depois dos exercícios. Afinal de contas, nos contaram que isso evita lesões. Mas será que evita mesmo?

Um estudo apresentado na Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos mostrou que se alongar antes de correr não tem nenhum efeito em prevenir lesões. No entanto, eles concluíram que fazer um leve aquecimento de 5 minutos para aumentar a amplitude do movimento torna o exercício mais fácil.

Aqui está o exemplo mais recente de controvérsia. Hoje em dia, milhões de norte-americanos estão tomando bisfosfonatos, como o Fosamax e o Aclasta, medicamentos designados para diminuir o risco de desenvolvimento de ossos frágeis. Médicos disseram aos consumidores que estes medicamentos são efetivos e seguros. Mas agora a Administração Americana de Alimentos e Medicamentos relatou que esses remédios não mostram nenhuma vantagem a muitas mulheres.

Isso foi acompanhado de um relatório nos Arquivos da Medicina Interna, de que mulheres tomando bisfosfonatos são mais propensas a desenvolver fraturas graves e incomuns no osso femoral. Esta é, reconhecidamente, uma rara ocorrência, mas se isso acontecer com você, será um golpe fatal.

O que é mais preocupante é que essas fraturas não são resultado de uma queda ou algum acidente. Em vez disso, o fêmur se rompe sem nenhum motivo aparente. Além disso, não se sabe ainda ao certo o porquê destes medicamentos estarem ligados à degeneração do osso maxilar.

Um professor uma vez começou seu discurso dizendo: “Tudo isso já foi falado anteriormente, mas deve ser dito novamente porque ninguém escutou”. Eu sempre destaco nessa coluna que não há almoço grátis quando se toma medicamentos de prescrição. Mas poucas pessoas escutam, então tenho que dizer tudo novamente.

Quantas mais controvérsias médicas vão aparecer nos próximos anos? Eu não tenho nenhuma bola de cristal para saber o número exato, mas a história mostra que ainda serão muitas.

Eu vou fazer uma previsão: mais cedo ou mais tarde haverá provas de que medicamentos que abaixam o colesterol causam mais danos do que ajudam, e talvez sejam um dos piores erros médicos dos tempos atuais.

Eu sei que é quase uma heresia fazer esta declaração. É como condenar a maternidade e a torta de maçã. Mas sou sábio o suficiente para saber que, ao fazer essa declaração precipitada, posso estar 100% errado. O tempo dirá.

Dr. Gifford-Jones é jornalista médico; ele tem um consultório particular em Toronto. Seu website é DocGiff.com. Ele também pode ser contactado por Info@docgiff.com