Uma das principais companhias empreiteiras da defesa norte-americana vendeu tecnologia que ajudaria a China a desenvolver seu primeiro helicóptero militar de ataque violando leis de exportação que foram impostas sobre Pequim depois do Massacre da Praça da Paz Celestial (Tiananmen) de 1989 e num momento em que os Estados Unidos estão cada vez mais preocupados com a crescente presença militar da China na região da Ásia-Pacífico.
A United Technologies e duas de suas subsidiárias concordaram em pagar mais de 75 milhões de dólares ao Departamento de Justiça dos EUA e ao Departamento de Estado pela venda de software militar sensível à China, que foi usado por Pequim para desenvolver um moderno helicóptero de ataque.
O Departamento de Justiça dos EUA aplicou a multa contra a contratante de Hartford, Connecticut, porque a posse da China de modernos helicópteros de ataque ameaça a segurança das tropas norte-americanas no exterior e de seus aliados. Ele disse que enquanto a empresa tentava penetrar no mercado chinês de helicóptero civil, uma subsidiária da United Technologies contornou as leis de exportação, incluindo a Lei de Controle de Exportação de Armas de 1976.
Em junho de 1989, os Estados Unidos impuseram uma proibição de armas à China depois que sua força militar reprimiu e matou, segundo algumas estimativas, milhares de manifestantes na Praça Tiananmen. Especificamente, quando o Congresso votou a legislação de proibição de armas sobre os chineses em 1990, ele proibiu que helicópteros e a tecnologia fossem vendidos.
Os procuradores federais disseram que a United Technologies sabia que a venda do software para a China permitiria que Pequim desenvolvesse um helicóptero militar, o Z-10.
A subsidiária da United, Pratt & Whitney Canada (P&WC) “assumiu o que foi descrito internamente como um ‘risco calculado’, porque queria se tornar o fornecedor exclusivo de um mercado de helicópteros civis na China, com receita prevista de até dois bilhões de dólares”, afirmou David Fein, o procurador dos EUA para o distrito de Connecticut, e acrescentou que “por vários anos as violações eram conhecidas” antes que qualquer coisa fosse feita a respeito.
A United Technologies, uma empresa com mais de 58 bilhões de dólares em vendas líquidas no ano passado e a fabricante dos helicópteros militares ‘Black Hawk’ dos EUA, declarou-se culpada de duas acusações de violação da Lei de Controle de Exportação de Armas e de fazer declarações falsas para encobrir seus crimes.
Documentos judiciais mostram que a P&WC sabia que o projeto do Z-10 seria usado por oficiais chineses para produzir um moderno helicóptero de ataque e que fornecê-los com componentes feitos nos EUA violaria as leis de exportação.
Os documentos mostram oficiais chineses dizendo que a versão comercial do helicóptero seria desenvolvida em conjunto, levando o pessoal de marketing da P&WC a expressar ceticismo internamente sobre o “aparecimento súbito” do helicóptero civil. Eles também questionaram se é “real ou imaginário” ter sido dito posteriormente que a China “não mais faria referência ao programa militar”, segundo os documentos.
O Departamento de Justiça disse que a subsidiária não notificou a United Technologies até anos mais tarde e ignoraram o potencial helicóptero militar. Resumindo, a P&WC procurou monopolizar o mercado de helicópteros civis na China, que potencialmente valeria cerca de 2 bilhões de dólares para a empresa.
As acusações somam-se a preocupação dos Estados Unidos com a modernização das forças armadas da China e seus movimentos cada vez mais agressivos na região da Ásia-Pacífico, incluindo a disputa de Pequim com as Filipinas sobre a Ilha Scarborough no Mar da China Meridional e a discussão com o Vietnã sobre as Ilhas Spratly e Paracel, que se considera serem ricas em petróleo e minerais.
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos acusaram a China de espionar e invadir as empresas contratantes de defesa norte-americanas para roubar propriedade intelectual. Num relatório do Congresso de março, os militares chineses fizeram avanços significativos em suas capacidades de guerra cibernética que poderiam ser usadas contra os Estados Unidos para causar dano em sua rede de computadores.