Muitos já devem ter perguntado a si mesmo por que vivemos? Qual o significado da vida? Da efemeridade de nossa existência. Que coisas são realmente importantes? O que determina o nosso futuro? Em meio a tantas pressões e incertezas, nossa vida segue o fluxo e as tendências do nosso meio. Parece faltar tempo para pensarmos sobre nossa existência e, se há tempo, as reflexões e respostas parecem vazias e insubstanciais.
A imagem acima ilustra um conto budista sobre a impermanência da vida e expressa a realidade em que o sofrimento é a principal verdade de nossa dimensão ilusória.
Na imagem podemos ver um homem fugindo de um tigre, segurando-se num cipó que é roído por dois ratos, um branco e outro preto. Na água vemos dragões esperando sua queda. Mas em meio a toda essa cena difícil, goteja mel de uma pequena cachopa de abelhas. O tigre representa o passado e as ações da qual o homem tenta fugir, mas não consegue distanciar-se. Os dragões representam a retribuição pelas obras passadas, ficam aguardando a inevitabilidade do homem em colher os frutos das suas ações. Os dois ratos, um branco e o outro preto representam o passar dos dias e noites, contando assim a vida e o tempo do homem.
Mesmo em uma situação difícil o homem que mal suporta seu peso agarrando-se ao cipó, desfruta do mel que goteja em sua boca. Parece esquecer-se de seu passado e negligencia seu futuro. A maioria da sociedade encontra-se nesse estado, distraída com o mel dos desejos e apegos da sociedade comum, procura mediante a tentativa de saciedade não pensar na inevitabilidade da colheita das próprias ações, negligenciando seu próprio futuro. Como se não bastassem essas dificuldades, os valores morais da sociedade mudam a cada dia, iludindo ainda mais o homem em seu sofrimento. Dessa forma, o homem erra achando que está fazendo o que é certo e, mesmo errando inconscientemente, colherá de igual maneira os frutos de sua inconsciência.
Todas as religiões ortodoxas falam discretamente sobre os níveis que compõe a existência em nosso universo. Sabemos que existem níveis superiores e inferiores, que existem seres iluminados e seres degenerados, e entre essas duas classes vive o homem, entre o Céu e a Terra. Assim o homem tem algo de natureza celeste em si, revestido pela natureza carnal e transitória, fonte de seu sofrimento.
Na imagem que analisamos, como pode o homem sair dessa situação desalentadora? Por misericórdia, alguns seres iluminados baixaram a esse mundo para relembrar à humanidade de sua origem, de seu verdadeiro lar. Jesus Cristo, Sakyamuni, Lao Tsé deixaram ensinamentos verdadeiros e tocaram profundamente a humanidade. Seus ensinamentos até hoje conduzem a muitas pessoas em suas respectivas religiões, embora as religiões tenham sido sistematizadas pelos seus seguidores e nunca foram criadas por esses mestres. O que verdadeiramente deixaram foi o seu exemplo e a forma de elevar a consciência de seus seguidores de acordo com seus ensinamentos e preceitos.
O homem por si só não é capaz de regressar ao seu ser original e verdadeiro, iludido e tentado por todo tipo de benefícios nessa sociedade ilusória, se perde e sofre indefinidamente as consequências de sua própria ignorância.
Para regressar necessita cultivar seu próprio coração com sinceridade, perseverança, retidão e acima de tudo, atender aos requisitos da via para o qual se cultiva. A prática depende do discípulo, a graça e a salvação dependem do mestre.
Embora não sejamos perfeitos, devemos nos mover em direção à perfeição. Alguns dizem ser impossível. Se partirmos acreditando nessa premissa, tenderemos ao pessimismo e ao sentimento de incapacidade e resignação. A perfeição é a meta, se vamos conseguir ou não depende do quanto nos esforçamos para atingi-la. Mesmo com todo o esforço, talvez alguns se perguntem, mas se faltar pouco? Se faltar pouco, acredito na compaixão e na capacidade desses grandes mestres, mas se por falta de vontade e de decisão não nos esforçarmos e desejarmos apenas a salvação sem a elevação do nosso coração, creio que faltará o essencial para pertencermos a esse nível, e não fará nenhum sentido sermos totalmente recriados pelos grandes seres iluminados.
O simples desejar ir a um paraíso celeste não nos capacita para realmente nos elevarmos até ele. Somente lidando com nossas imperfeições, esforçando-nos conscientemente para elevar o reino de pensamento, estando atentos aos nossos pensamentos, intenções e ações, evitando todo o mal e fazendo o bem é que podemos verdadeiramente nos aproximar dos reinos elevados. Porém a busca deve ser diligente e ao mesmo tempo não intencional. Dessa forma o cultivo será puro e desinteressado. Jesus, Sakyamuni e Lao Tsé nunca tiveram pressa para regressar aos seus reinos, antes com um coração de grande misericórdia buscavam transmitir a verdade na sociedade humana, vivendo para os outros, despreocupados com suas próprias vidas no ambiente humano.
Por natureza, o ser humano é egoísta e esse fator por si só é gerador de divisão e de diversos estados mentais negativos como a inveja, cobiça, ódio, luxúria, preguiça, astúcia, entre outros.
Quando vivemos com um estado mental altruísta e desinteressado, valorizamos ao próximo como a si próprio, valorizamos nossos semelhantes, cuidamos de todos ao nosso redor, inclusive das pessoas que tenham intenção de nos prejudicar. Pois quando a compaixão dirige nossos pensamentos e ações, uma pessoa em um estado negativo será neutralizada por nosso campo positivo.
A vida humana é curta, por mais que possamos adquirir títulos, posses, reconhecimento, fama, nossa vida um dia termina e tudo o que adquirimos nessa vida será deixado e não poderá ser levado conosco. As únicas coisas que levamos conosco são as virtudes de nossas boas obras e os pecados das nossas más ações. A contabilidade cármica é infalível, justa e imparcial.
Desejo que independentemente do caminho escolhido, possamos despertar genuinamente, buscando compreender com profundidade o caminho que escolhemos e também o nosso interior, nossos desejos, projeções e apegos ocultos, para que, dessa forma, possamos nos elevar com retidão, compreensão, racionalidade e compaixão.