Contemplando o colapso do Partido Comunista na China

06/04/2012 03:00 Atualizado: 06/04/2012 03:00

Um policial paramilitar faz guarda diante do emblema do Partido Comunista Chinês na Praça Tiananmen em 28 de junho de 2011 em Pequim, China. (Feng Li/Getty Images)O comentarista Gordon G. Chang fala das fraquezas do regime de partido único da China

Discussões sérias sobre a queda do Partido Comunista Chinês (PCCh), como isso pode acontecer, o que significaria, e que repercussões isso teria, estão ausentes a longo tempo dos discursos na China, tanto de acadêmicos quanto de políticos.

Gordon G. Chang é formado em advocacia e autor do livro de 2001, The Coming Collapse of China. Cerca de dez anos atrás, ele predisse que o Partido Comunista entraria em colapso, no entanto, isso não aconteceu.

Mas Chang ainda pode ter o seu dia ao sol, já que a presente crise política na China revela a fraqueza institucional do regime de partido único.

O Epoch Times aproveitou-se para perguntar a Chang sobre a atual estabilidade dos comunistas da China, e o que poderia acontecer se o poder do Partido falhasse. Chang, que passou sua carreira observando a China e pensando sobre as questões em jogo, diz que o mundo não deveria se surpreender caso mudanças rápidas ocorram na China.

A seguir está uma transcrição editada de uma sessão de perguntas e respostas entre Chang e o Epoch Times.

Epoch Times: Até que ponto o PCCh institucionalizou a sucessão da liderança?

Gordon G. Chang: No começo do mês passado, praticamente todos diziam que o PCCh tinha se institucionalizado com regras, diretrizes, e limites, mas nós viemos a saber através do incidente de Wang Lijun que isso não é verdade, que o Partido Comunista da China não resolveu o problema que tem atormentado os governos autoritários desde a origem dos tempos, e esse é o problema da sucessão.

Epoch Times: Por que a sucessão é um problema para os governos autoritários, e para o PCCh em particular?

Sr. Chang: Porque eles não têm um Estado de Direito, eles não têm Constituições que tenham significado, e a transferência de poder é meramente uma luta crua sem regras.

Epoch Times: Que forma de perturbação temos visto recentemente no regime do Partido?

Sr. Chang: Temos visto grandes perturbações, porque houve rumores de golpe de Estado, e a última séria deles foi a terceira que ouvimos este ano.

Nós ouvimos o primeiro-ministro avisar, não apenas à China, mas ao resto do mundo, que a China poderia cair em outra Revolução Cultural. É óbvio que há problemas reais no topo do sistema político chinês.

Epoch Times: O que pode acionar o colapso do Partido?

Sr. Chang: Você nunca sabe. Quando essas coisas ocorrem, elas ocorrem rápido e sem aviso. Se você fosse dizer, por exemplo, no começo de dezembro de 2010, que um vendedor de frutas numa cidade tranquila na Tunísia fosse pôr fogo em si mesmo e produzir não apenas uma mudança na Tunísia, mas também no Egito e na Líbia, e pôr a resto do mundo árabe em chamas, você poderia ser ridicularizado como louco. Mas de fato foi isso que aconteceu quando Mohamed Bouazizi pôs fogo em si mesmo.

Epoch Times: Que passos devem ser dados para haver mudança no sistema político?

Sr. Chang: Não há passos específicos que devam acontecer. Cientistas políticos vêm com listas de coisas que têm de acontecer para haver uma mudança revolucionária na sociedade, e o povo continua a prová-los errados. É simplesmente a natureza da mudança em nossa sociedade, e, desde 1989, temos visto governos caírem da noite para o dia. E todas as vezes, ficamos chocados pelo que acontece. […] Governos que parecem invulneráveis um dia, falham no próximo.

Epoch Times: Por que uma mudança deve ocorrer? Onde está a inevitabilidade?

Sr. Chang: A maioria dos cidadãos chineses acredita que um Estado com partido único não é mais apropriado para a sociedade chinesa em modernização. Você deve se lembrar de que neste momento a economia chinesa está vacilando, [e] o Partido Comunista está desmoronando. A autoridade do governo central está erodindo, os militares estão se libertando do controle central, e o povo chinês, de um lado a outro do país, está tomando as ruas em protestos violentos. O topo do Partido Comunista tem pessoas que são as mais inseguras na face da Terra. E isso deveria nos dizer algo.

Epoch Times: Quais são as questões a respeito do controle militar?

Sr. Chang: Hu Jintao, há poucas semanas, emitiu uma advertência pública aos generais e almirantes lembrando-os que eles são subservientes ao PCCh. Então, isso é algo que você faria se assumisse que a lealdade dos oficiais militares é garantida? Você não ouve rumores de golpe em governos estáveis. Quando foi a última vez que você ouviu alguma conversa sobre militares assumindo o controle no Canadá?

Epoch Times: Oficiais comunistas enriquecem imensamente em suas atuais posições de poder, por que eles renunciariam a isso?

Sr. Chang: Eles não irão renunciar voluntariamente, mas quando sentirem que o fim está próximo, essas pessoas irão pegar aviões e levar o dinheiro consigo. E isso é o que está acontecendo agora, há muito dinheiro saindo da China.

Epoch Times: Essa série de questões, o colapso do Partido, ou a China pós-PCCh, não parece parte do discurso acadêmico dominante sobre a China ou uma política norte-americana. Por quê?

Sr. Chang: Se você tivesse feito essas perguntas em agosto, muito poucas pessoas estariam pensando sobre o fracasso do Partido Comunista, mas agora as pessoas estão de fato falando sobre isso, porque os sinais de erosão no sistema são inequívocos. Por que isso não tem sido parte da discussão? Por que em 10 de setembro de 2001, as pessoas não pensavam sobre o al-Qaeda voaria aviões em prédios norte-americanos, ainda que o al-Qaeda estivesse há cinco anos atacando interesses norte-americanos ao redor do mundo, incluindo o World Trade Center. Diga-me por que os americanos são cegos.