Se os desmandos, erros e roubalheiras envolvendo a Petrobras afetam a empresa, derrubando suas cotações, desvalorizando-a e mexendo com o imaginário nacionalista em torno da petroleira, as besteiras no setor elétrico (incluindo o despreparo no planejamento para ligar com previsíveis problemas climáticos) prejudicam diretamente os bolsos dos consumidores. Como a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) definiu que o país está em “bandeira vermelha” em termos energéticos, a partir de 1º de janeiro cada um de nós pagará R$ 3 reais pelo custo extra a cada 100 Kw.
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A Aneel aproveita para aprovar a tungada no bolso dos consumidores, eletrizando a inflação das famílias, em função da situação de baixa reserva de água nos reservatórios das hidrelétricas. A tal bandeirinha vermelha permitirá que as distribuidoras arrecadem R$ 800 milhões extras em janeiro. Foi a maneira criativa que o governo Dilma Rousseff encontrou para “socializar” as perdas com a falta de chuva e, indiretamente, para cobrir os rombos dos gastos com as termoelétricas mantidas por aliados. Foi a maneira picareta de reajustar a energia, sem permitir que isto impacte nos índices oficiais de “inflação”.
No final das contas, o cidadão é penalizado. Só o pessoal do Amazonas, Amapá e Roraima não entrarão na dança, embora sobre água por lá. Eles serão poupados por um motivo técnico-burocrático. Os três estados ainda não integram o Sistema Interligado Nacional (SIN) – por falta dos históricos investimentos no setor de distribuição (que segue o perverso modelinho de monopólios por regiões). O esquema de bandeiras foi testado no ano reeleitoral de 2014, sem haver cobranças. Isto ficou para 2015, o ano da crise e do salve-se quem puder.
A bandeira tarifária vermelha indica condição desfavorável de geração de energia, implicando o pagamento adicional de R$ 3 reais por custo extra a cada 100 Kw consumidos. Se o quadro fica amarelo (com condições menos favoráveis de energia), paga-se R$ 1,50 a cada 100 Kw consumidos – o que pode produzir uma receita extra estimada de R$ 400 milhões. Só se a bandeira estiver verde, indicando condições favoráveis para gerar energia, deixam de ocorrer acréscimos. Como a previsão é de um 2015 seco, na maioria dos reservatórios, o consumidor que prepare o bolso. A Aneel divulgará as bandeiras em vigor ao final de cada mês. E nós que nos danemos.
O Brasil é um improviso ambulante. Nosso suposto planejamento governamental é viciado. Ora peca por incompetência ou prima pela mais refinada safadeza. Não foca em soluções para os problemas reais. Apenas promove um ilusório enxugamento de gelo. O caso energético é de uma estupidez eletrizante. Sequer investimos fortemente em geração energética a partir de fontes alternativas. Insistimos no modelo hidroelétrico ou “petrolífero” (queimar óleo caro em termoelétricas). Na distribuição, onde temos evidentes cartéis por regiões, somos piores ainda.
O emprego dos recursos hídricos é outra enxurrada de besteiras ou inações. Não temos uma política efetiva de conservação dos mananciais, apesar da legislação ambiental restritiva, excelente nas aplicações de multas e outras punições idiotas, sem definir práticas que efetivamente protejam os mananciais. Nos tempos de seca, agimos como nos tempos de fartura. Desperdício de água, na qual gastamos fortunas para tratar. Sem falar nas perdas gigantescas na distribuição. Para piorar, sistemas de coleta e tratamento de esgotos são exceção. Logo, falar em reuso de água tratada é quase utopia, e não um procedimento padrão.
Por tudo isso, o Brasil não funciona. Tudo fruto de uma sociedade historicamente induzida a dar errado. Como a maioria ainda não tem força em rede para romper com tal tragédia civilizatória, riscos de apagões energéticos ou de falta de água para consumo ou geração energética são tratados da forma mais simplória pelo governo incompetente, corrupto e perdulário: enfiando a mão no bolso dos cidadãos, a fim de “socializar os prejuízos”. Eis o Capimunismo Tupiniquim com toda energia.
Editado pelo Epoch Times