Por mais de vinte anos, os cientistas efetuam experiências que consistem em imitar os efeitos do aumento de temperaturas sobre as primeiras foliações e sobre a floração de espécies vegetais no mundo inteiro.
Um estudo mostrou as conclusões dos pesquisadores, podendo ser um assunto de inquietação. Os especialistas tinham como objetivo observar o ciclo de vida das plantas sobre os quatro continentes, tendo 1.634 espécies selecionadas e analisadas.
O estudo foi realizado nos EUA e conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego e outras instituições americanas e publicado na revista Nature no início de maio.
O objetivo final da matéria “é de prever a resposta das espécies a mudanças climáticas, um desafio importante em matéria de ecologia”, dizem os cientistas. “Nós também mostramos por esses experimentos que o impacto do aquecimento global foi, até o presente, subestimado em relação a sua taxa de crescimento, a floração é superior a 8,5 vezes e a foliação é superior a 4,0 vezes, isso em relação ao normal da natureza”. Sabendo que o período de referência foi estabelecido em 1875 seguindo os levantamentos sistemáticos das datas de floração feitas na Grã-Bretanha naquele ano. O estudo revelou que, em média, cada degrau suplementar por ano fará desabrochar os brotos cinco ou seis dias mais cedo que no passado.
Efeitos negativos sobre a cadeia alimentar e os ecossistemas
Segundo o estudo, as consequências do aquecimento global podem afetar as espécies, com grandes implicações para o abastecimento de água, a polinização das culturas e dos ecossistemas. Seria um grande impacto sobre centenas de espécies de plantas e de animais no mundo, modificando os modelos de reprodução, de migração e de alimentação, o que indica os cientistas. A doutora Elizabeth Wolkovich, uma ecologista da Universidade da Colúmbia Britânica que dirigiu uma equipe interdisciplinar de cientistas comenta: “Isso sugere mudanças nos ecossistemas, novidades, mas também perdas na maior parte do globo, talvez muito mais significativas que as estimativas atuais baseadas em dados provenientes de experiências”.
Na verdade, as plantas são indispensáveis para a vida na Terra. Elas são a base da cadeia alimentar, elas produzem açúcar a partir de dióxido de carbono e de água, utilizando a fotossíntese. Assim, elas liberam oxigênio essencial a quase todos os organismos viventes sobre a Terra.
Os limites do estudo e o aquecimento global
Segundo os autores do estudo, uma diferença pode ser compreendida e explicada, pois os experimentos foram feitas por simulação. Na verdade, os métodos de experimentação talvez estivessem incorretos, porque diminuem a luz, o vento e a umidade do sol, provocando a maturidade sazonal das plantas. “Até aqui, partimos do princípio de que os sistemas experimentados respondem da mesma maneira que os sistemas naturais, mas não é o caso”, explica o coautor do estudo, Benjamin Cook, do Observatório da Terra Lamont-Doherty da Universidade de Colúmbia, Nova York.
Para exemplificar, os pesquisadores citam a floração das cerejeiras em Washington, a capital dos EUA, que ocasiona tradicionais festividades. Essas festas estão cada vez mais precoces e, desde 1970 elas avançaram uma semana. Se a tendência continuar, de acordo com os estudos simulados, daqui a 2080, as árvores florescerão em fevereiro. Da mesma forma, no Japão, a floração precoce das cerejeiras inquieta os japoneses. A “linha de floração” situa-se geralmente na data de 1° de abril há quatro décadas, ela está agora, depois desses últimos anos, situada mais ao norte, cerca de 200 quilômetros. O impacto da mudança climática e da forte urbanização está visível na floração.
Os cientistas estimam que a temperatura média mundial aumentou cerca de 0,8°C desde 1900, e quase 0,2°C por década desde 1979. Até agora, os esforços que visam reduzir as emissões de gases de efeito estufa e o aquecimento global não são considerados como suficientes para impedir a Terra de aquecer-se acima de 2°C durante este século. Este é o limite avaliado, além dos riscos não serem mais controláveis, o clima será instável, e os fenômenos meteorológicos serão extremos, o que conduzirá a secas, a inundações, a más colheitas e à elevação do nível dos mares.