O mundo ainda está debatendo as consequências do gesto de Obama pela normalização das relações diplomáticas com a ditadura mais duradoura do planeta. A National Review, revista conservadora dos EUA, fez um excelente editorial sobre o assunto que decidimos traduzir para ajudar você a melhor compreender a dimensão deste equívoco:
Quatro nomes, já esquecidos, que devem ser relembrados hoje: Armando Alejandre, Carlos Costa, Pablo Morales e Mario de laPeña. Três cidadãos americanos e um residente. Eles eram pilotos da Brothers to the Rescue (Irmãos ao Resgate), a organização que procura por cubanos refugiados que ficam a deriva no meio do mar.
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No dia 24 de fevereiro de 1996, os quatro pilotos foram abatidos pelas forças ditatoriais cubanas. Na ocasião, os aviões estavam em espaço aéreo internacional. O governo dos Castros matou esses homens porque eles tentavam salvar cubanos inocentes.
Os Castros foram auxiliados por uma rede de espionagem dentro dos EUA. As autoridades americanas prenderam cinco deles, que receberam todos os benefícios e direitos do sistema judicial, incluindo o de inúmeras apelações. No final, eles foram condenados por espionagem e conspiração para cometer assassinato.
Esses rapazes, conhecidos como “O Quinteto Cubano”, foram por muito tempo uma causa célebre para a esquerda. Cartazes “Libertem o quinteto cubano!” eram vistos por todo EUA e pela Europa, especialmente Europa. Em outubro de 2011, o primeiro deles foi libertado, após ter cumprido sua pena. Ele fez um pronunciamento provocativo: “Nós ainda temos quatro irmãos que temos de resgatar.”. “Irmãos a resgatar” – entendeu?
Um segundo espião cubano terminou sua pena em fevereiro de 2014. Restou então o “Trio Cubano”.
Há anos, o governo Obama jurou que nunca trocaria esses espiões cubanos por Alan Gross, o voluntário americano que foi feito refém pela ditadura cubana em dezembro de 2009. As implicações morais de tal equivalência seriam ofensivas, assessores de Obama disseram. O Secretário de Estado John Kerry repetiu o mesmo ano passado.
Isso foi o que o governo Obama acabou de fazer, no entanto: trocou os espiões cubanos por Alan Gross. Mas teve mais: um espião nosso, um cubano que, ao contrário dos espiões cubanos, trabalhou pelo lado da democracia e da liberdade.
Além disso, a ditadura cubana aparentemente libertou, ou concordou em libertar, 53 dos seus prisioneiros políticos. Isto pode chocar ou constranger certas pessoas na esquerda que por muito tempo negaram que os Castros tinham prisioneiros políticos. No começo desse ano, Jorge Dominguez, o famoso professor de Harvard, negou à CNN que os Castros tenham qualquer preso político**.
Há outros de onde esses 53 vieram.
Se o presidente Obama tivesse apenas trocado os espiões cubanos por Gross e nosso agente, nós poderíamos aceitar. E mais, poderíamos defender isso. Mas Obama tomou uma ação significativa de normalizar as relações com a Cuba dos Castros. Assim, realizou o sonho da esquerda que começou no dia 1º de janeiro de 1959, o primeiro dia da ditadura.
A administração anterior, a de George W. Bush, ofereceu um programa de “punições e recompensas”: flexibilização das políticas americanas em troca da liberalização cubana. Obama agiu unilateralmente, dando para a ditadura cubana algo além da flexibilização, mas o objetivo principal: relações diplomáticas normais.
E é uma ditadura, lembre-se bem, que ainda mata seus oponentes democráticos. Dois anos atrás, o líder democrático Oswaldo Payá foi quase certamente assassinado pelo regime, em um daqueles acidentes de carro que não são acidentes. (Stálin costumava ordenar essas coisas também).
Obama, como todos ao seu lado, gosta de dizer que a política americana com relação a Cuba não “funcionou”. A palavra “funcionou” é interessante. Em 2003, Jay Nordlinger, da National Review, perguntou para um dissidente, René Montes de Oca: “O que você diz aos americanos que argumentam que as políticas não ‘funcionaram’? O regime comunista ainda está de pé”. Montes respondeu: “Pelo menos vocês não o ajudaram“. Ao contrário do que muitos países europeus fazem, por exemplo.
A nova política americana significará dólares para o regime (em oposição aos cidadãos cubanos). A ditadura dos Castros é uma ditadura incrivelmente sortuda. Quando seu patrocinador, a União Soviética, partiu-se em 1991, a União Europeia correu para preencher o vazio. Nos últimos 15 anos a ditadura vinha sendo sustentada pela Venezuela chavista, com sua enorme riqueza de petróleo.
Agora, no entanto, a Venezuela está à beira de um colapso econômico e político. E lá vamos nós, favorecendo o regime cubano com normalização, que traz benefícios adicionais.
Além do mais, o governo está pronto para riscar Cuba da lista do Departamento de Estado que traz os patrocinadores do terrorismo. Se Cuba for retirada – quando for retirada – que seja porque os Castros não estão mais patrocinando o terror, e não porque Obama está se sujeitando. As relações muito próximas dos Castros com a Coreia do Norte não sugerem nenhuma mudança na arena global.
O sequestro de Alan Gross em dezembro de 2009 acabou se tornando uma ótima iniciativa do regime cubano. Como qualquer outro sequestrador, os Castros usaram-no como moeda de troca, e conseguiram, com isso, provavelmente muito mais do que imaginaram: relações diplomáticas totais com os EUA. Obama, contudo, teria dado essas relações de qualquer jeito. A libertação de Gross serviu como pretexto.
Fica uma preocupação: outros regimes tratantes aprenderão com essa experiência? Concluirão que se pegarem algum refém americano, conseguirão o que quiser de Washington? Certamente de Obama?
O governo cubano não é legítimo e nunca foi. É uma ditadura de partido único com um gulag, um arquipélago de prisões no qual dissidentes e democratas são jogados. Esperamos que a nova política americana – a política de Obama – não beneficie a ditadura cubana e prejudique os democratas cubanos. Tememos que ontem tenha sido um ótimo dia para os Castros, mas um dia horrível para o povo cubano, e também para a política externa americana.