Documentário e discussões destacam a necessidade de conscientização e solidariedade pelo povo chinês
OTTAWA – A Sociedade Cinematográfica do Pensamento Livre destacou as implicações de fazer negócios com a China numa série de documentários e discussões na noite de segunda-feira passada na Biblioteca e Arquivos do Canadá.
O filme “Quando a China encontra a África” analisou a exploração da Zâmbia na voz do então ministro do Comércio, Felix Mutati, e de dois cidadãos chineses que trabalham na Zâmbia.
O fazendeiro Liu contrata homens e mulheres locais para fazer trabalho manual em suas fazendas, mas só lhes paga parte dos salários devidos e ignora sua promessa de comprar tendas para os zambianos viverem. Mutati gosta do jeito rápido de construir estradas do administrador do projeto Li Jianguo, mas parece ignorar o custo físico para os trabalhadores zambianos.
Em geral, a China parece estar colonizando a Zâmbia e mantendo o equilíbrio de poder quando acordos, empréstimos, e a promessa de uma subvenção são assinados com representantes da Zâmbia.
Investimentos estatais chineses no Canadá
Uma discussão após o filme trouxe estas questões mais perto de casa, focalizando as implicações dos investimentos de empresas estatais chinesas no Canadá.
Os palestrantes incluíram (esquerda-direita) Jason Loftus, editor-adjunto do Epoch Times do Canadá; o ex-ministro David Kilgour; Scott Simon, professor da Universidade de Ottawa e presidente dos Estudos de Taiwan; David Harris, um especialista em segurança e terrorismo; e Terry Glavin, um jornalista premiado.
O painel discutiu o movimento expansivo da China sobre a indústria de petróleo e gás do Canadá e advertiu que Ottawa não está fazendo o suficiente para manter a propriedade e controle dos recursos canadenses.
Citando o déficit comercial do Canadá de 31 bilhões de dólares com a China que só continua a crescer, Kilgour se referiu a uma pesquisa da Fundação Ásia-Pacífico do Canadá, que descobriu que 75% dos canadenses se opõem as empresas estatais chinesas ganharem controle acionário de empresas canadenses. “Nós não deveríamos estar vendendo a propriedade de nossas areias de petróleo para o governo totalitário de Pequim. Isso é um ponto crítico”, disse Kilgour.
Harris disse, “Nós temos de estar muitíssimo claros sobre essas possíveis vendas de bens canadenses que podem encurralar nossa segurança e interesse nacional.”
Influência do regime totalitário e ‘ameaça’
Harris se referiu ao aviso do diretor do Serviço de Inteligência e Segurança Canadense, Richard Fadden, sobre as tentativas de espiões estrangeiros influenciarem decisões governamentais propícias a Pequim. Os oficiais do governo precisam de “regras apropriadas […] para garantir que não se tornem demasiado acolhedores ao que é, afinal de contas, um regime totalitário e estrangeiro”, disse ele.
Que tipo de influência chinesa os canadenses precisam se preocupar no Canadá? Loftus destacou duas histórias que o jornal Epoch Times apresentava naquele dia em que tal influência tinha lugar proeminente.
O partido da oposição de Alberta levantou preocupações sobre o cancelamento do governo provincial de apresentações de dança chinesa da companhia Shen Yun Performing Arts em dois grandes teatros administrados pelo governo na província. A oposição questionou se o governo estava “ameaçando” o grupo, cujos shows são apresentados por associações locais do Falun Dafa, também conhecido como Falun Gong, uma crença espiritual chinesa atualmente perseguida na China. Loftus disse que já em 2009 houve menção da gerência do teatro de que o governo provincial havia sido pressionado pelo consulado chinês em Calgary para não alugar o teatro para o Shen Yun.
Em outra notícia naquele dia, uma ex-professora do Instituto Confúcio da Universidade McMaster, tinha acabado de dar entrada numa queixa de direitos humanos contra a universidade. Ela apresentou um documento que foi forçada a assinar para obter sua posição concordando que não praticaria o Falun Gong enquanto lecionasse na McMaster.
“Estamos falando de um regime que está envolvido nesses tipos de atividades que estão nitidamente em conflito com alguns de nossos valores fundamentais”, disse Loftus.
Ausência ou deficiente Estado de Direito
Harris acrescentou que “a ausência ou o fracasso do Estado de Direito na China [é] um problema fundamental que o Canadá tem de levar em conta em suas relações com a China.” “Isso implica que as empresas canadenses não podem confiar em resultados previsíveis e apropriados em alguns de seus próprios acordos comerciais”, disse Harris.
Simon pediu cautela ao acesso à energia por países estrangeiros. “Garantir que os nossos produtos de energia acabem na China, ao invés do mercado global, contribuirá para a ascensão militar da China”, disse ele. “Por isso, penso que devemos contribuir para a segurança energética e a prosperidade econômica de nossos aliados mais próximos.”
Glavin falou sobre o tremendo crescimento no transporte de madeira bruta e na exportação de carvão para a China, e da maneira como a gigante chinesa do petróleo PetroChina “está nacionalizando a indústria de petróleo e gás”, ao adquirir propriedade total de um dos projetos das areias de petróleo de Alberta.
Ele pediu aos países democráticos como o Canadá para não venderem “o último resquício de sua decência e seu sentido de solidariedade pelo povo da China”, onde “milhares e milhares de pequenas primaveras árabes estão surgindo agora […] a cada semana.”