Conselhos dos antigos juízes chineses para harmonizar o povo

12/02/2014 09:00 Atualizado: 12/02/2014 10:05

Kong Mie era sobrinho de Confúcio e Mi Zijian, seu discípulo. Anos mais tarde ambos se tornaram juízes chineses de seus respectivos condados.

Certo dia, Confúcio visitou o condado onde Kong Mie era juiz. Era primavera, uma temporada muito propícia para a agricultura. Entretanto, por todos os lados se viam campos abandonados com agricultores deprimidos de pé ao lado do que uma vez foram cultivos florescentes.

Surpreso, Confúcio perguntou: “Por que você não cultiva suas terras?” O camponês respondeu: “Me ordenaram que não cultivasse mais, como castigo por não poder pagar todos os impostos nos últimos seis meses.” Confúcio ficou desgostoso ao ouvir isto.

Aproveitando sua visita ao condado, Confúcio passou pela residência de seu sobrinho Kong Mie e lhe fez uma pergunta: “Visto que foste nomeado magistrado da província, quais são tuas perdas e ganhos?”

“Tenho três perdas, porém nenhum ganho”, respondeu Kong Mie. “Há tantas atribuições de funcionários de alto nível que estou sempre ocupado e ansioso o dia todo. Como posso encontrar tempo para estudar? Inclusive, se leio de vez em quando, não posso me iluminar; esta é a primeira perda. Meu salário é muito baixo e não posso guardar para meus familiares e nossa relação piora cada vez mais; esta é a segunda perda. Devido a minha agenda cheia, não tenho sido capaz de estar à altura de um comportamento virtuoso, particularmente em visitar os enfermos. Como resultado, as pessoas não me compreendem; esta é a minha terceira perda.”

Confúcio pensou por um momento e lhe respondeu: “Escutei dizer que um bom juiz, graças a seu bondoso coração, é virtuoso e não gosta de aplicar castigos. Usar a política como guia e reforçar esta política com castigos vai forçar as pessoas a evitarem os castigos, porém não vai permitir que elas se deem conta do que está errado. Fazendo uso da virtude como guia e reforçando o que é virtuoso através do exemplo, e estando à altura, as pessoas saberão o que é bom e o que está errado e restringirão a si mesmas, e o castigo será desnecessário. Através do uso correto das coisas, um funcionário ganhará a compreensão dos demais e o povo o apoiará.”

Kong Mie agradeceu ao seu tio e considerou o conselho.

Em outra ocasião, Confúcio foi ao condado de seu aluno Mi Zijian. Passou pelo povo e se encontrou com pessoas ricas e muito honradas. Seus comportamentos eram virtuosos e seguiam um padrão reto em tudo o que faziam.

De visita a Mi Zijian, Confúcio perguntou-lhe o mesmo que havia perguntado a seu sobrinho. “Visto que foste nomeado magistrado da província, quais são suas perdas e ganhos?”

“Tenho três ganhos, e nenhuma perda”, respondeu Mi Zijian. “Sem me importar com o que há, inclusive quando estou ocupado com o trabalho, eu sou capaz de seguir as palavras dos sábios e dos homens virtuosos. Aplico estes princípios na vida diária e cada dia entendo muito mais; este é o primeiro ganho. Ainda que meu salário não seja alto, divido o que posso com meus familiares, por isso nossa relação é muito harmoniosa; este é o meu segundo ganho. Ainda que eu esteja muito ocupado com o trabalho, eu procuro me conduzir de forma virtuosa, inclusive visitando os enfermos. Por isso, as pessoas me apoiam; este é o meu terceiro ganho.”

Enquanto falavam, começaram a tocar suaves melodias e belas canções. Confúcio sorriu: “Também usam a música para educar as pessoas daqui? Parece que as pessoas são felizes e têm vidas agradáveis. Como chegaram a isto?”

Mi Zijian respondeu: “Você nos ensinou que um homem bondoso, além de receber os conhecimentos, deve se preocupar com os demais. Uma vez que você me ensinou sobre a música, decidi por isto em prática. Trato os mais velhos como meus próprios pais e às crianças pequenas como se fossem minhas. Estou procurando reduzir os impostos e ajudar aos pobres. Respeito às pessoas e também procuro pessoas virtuosas e sábias. Se as pessoas são melhores que eu, humildemente peço-lhes conselho.”

Confúcio estava muito impressionado e pensou em voz alta: “Zijian é verdadeiramente nobre: guia as pessoas com bondade e mantém a ordem social com virtude e música. Obedecendo a lei celestial, as pessoas o seguirão e os deuses o ajudarão. Ainda que o lugar pelo qual seja responsável não seja grande, o caminho que percorre é um caminho grandioso! Adotar um enfoque reto é benéfico não somente para um condado, mas inclusive para toda uma nação!”

Este artigo pertence a série “Histórias da antiga China”; para ler outros artigos da série, clique aqui.

Montanha, Ponte e Cabana (Zhang Cuiying/Zhangcuiying.net)