O vice-presidente da República Popular da China, Xi Jinping, encontrou-se com o Presidente Obama na Casa Branca na terça-feira, 15 de fevereiro, nos Estados Unidos. Os líderes norte-americanos estão começando a conhecer o homem que é o indicado para comandar o Partido Comunista Chinês (PCCh) pela próxima década.
O Ocidente normalmente conhece relativamente muito pouco sobre os líderes do PCCh enquanto chegam ao poder, pois suas ações mais reveladoras normalmente ocorrem fora da vista. A personalidade pública desses líderes é cuidadosamente preparada para sustentar a propaganda do regime.
No caso de Xi, ele não aparenta ser um defensor de nenhum programa claro para o PCCh ou a China, e sua aparentemente ficha limpa pode ser o que o torna atraente para os líderes do Partido, divididos em facções concorrentes. A ficha de Xi sugere qualidades que parecem não se encaixar muito bem juntas, ele é um ideólogo e um pragmático, e dá sugestão antiamericanista enquanto possui fortes conexões norte-americanas.
Talvez a característica mais clara de Xi seja sua ambição, como descrito num canal diplomático escrito por Jon Huntsman, ex-embaixador norte-americano na China, e um candidato republicano desistente à presidência deste ano. O escrito foi redigido no final de 2009 e publicado em 2010 pelo Wikileaks.
Baseado em entrevista com pessoas que conheciam Xi, o texto descreve Xi como “excepcionalmente ambicioso”, tendo procurado um posto no topo do Partido desde a juventude. Na Revolução Cultural, Xi se tornou “mais vermelho que o vermelho” para sobreviver ao expurgo político, e fez grandes esforços para aderir ao Partido Comunista.
Essa ambição imperiosa pode ter sido decisiva em 2009, quando Xi foi escalado para o “Projeto 6521”, uma força tarefa para suprimir os praticantes do Falun Gong, Tibetanos, e ativistas da democracia, de acordo com documentos oficiais e grupos ativistas. Os líderes do alto escalão não tinham dúvida quanto ao desejo de implicar Xi diretamente na campanha, como condição para sua ascensão ao ápice do Partido, pois, desta forma, ele não seria capaz de responsabilizar outros por conduzirem campanhas similares.
Xi acredita que governar por meio de uma “liderança do Partido Comunista comprometida é a chave para persistir a estabilidade social e a força nacional”, de acordo com o informe do Wikileaks. Como filho de um líder revolucionário da primeira geração do Partido Comunista, Xi se vê como um “herdeiro legítimo” ao trono do Partido. Ele acredita que merece governar a China, de acordo com o informe.
Atualmente, Xi é vice-presidente da Comissão Central Militar, chefe da Escola Central do Partido, e vice-presidente da República Popular da China. No 18º Congresso do Partido, ainda este ano, ele provavelmente se tornará o secretário-geral do Partido Comunista Chinês. Seu estado formal e seus títulos militares serão posteriormente elevados de acordo com os costumes e rituais do Partido.
Como líder da Escola do Partido, Xi é uma espécie de capataz ideológico do regime. Ele regularmente faz discursos exortando jovens recrutas comunistas a estudarem as teorias de Karl Marx; na maioria das ocasiões, ele se refere às contribuições ideológicas de ex-líderes do Partido para reforçar seu ponto. Seus discursos são feitos para glorificar o PCCh e seu governo sobre a China, o qual invariavelmente é descrito como “magnífico e glorioso”.
Num discurso recente, ele encoraja o estudo da história como crucial para os novos membros do Partido. Essa história, claro, é a versão sancionada pelo regime, que em grande parte omite a campanha política e a fome que matou 80 milhões de pessoas sob o domínio do PCCh.
Mas apesar da ênfase na importância da história, como chefe da Escola do Partido, Xi não deixa os fatos históricos ficarem no caminho de um bom discurso. Quando discursando no 60º Aniversário do Simpósio da Guerra da Coreia, por exemplo, Xi culpou os Estados Unidos por começarem a Guerra da Coreia: “As tropas [norte-americanas] ignoraram múltiplos avisos do governo chinês […] lançaram ataques aéreos para bombardear nossas cidades e vilas do nordeste, e trouxeram a guerra para o território da recém-estabelecida República Popular da China.”
Essa insinuação antiamericana tem sido ecoada por Xi quando fala de questões contemporâneas. Seu nome chamou a atenção dos comentaristas ocidentais em fevereiro de 2009, quando ele disse a um grupo de chineses estrangeiros reunidos no México, “Há alguns estrangeiros de barriga cheia e nada melhor para fazer, que nos apontam os dedos e nos dizem o que fazer. Primeiro, a China não exporta revolução; segundo, não exporta fome nem pobreza; terceiro, não causa problemas a vocês. O que mais há para se dizer?”
Seus comentários circularam amplamente nos Estados Unidos. A ideia que se criou é que Xi é alguém que contra-argumentará quando confrontado por oficiais dos Estados Unidos, por exemplo, a crítica do abuso dos direitos humanos do regime chinês.
Apesar de suas convicções ideológicas aparentemente sinceras, Xi é visto como um pragmático. Ele diz apoiar empreendimentos privados, tendo sido chefe do Partido na província de Zhejiang de 2002 a 2007, que é conhecida por ter um mercado financeiro e empresarial ativo sustentado por pequenas e médias empresas. A filha de Xi estuda na Universidade de Harvard.
O segundo casamento de Xi Jinping foi com a cantora chinesa Peng Liyuan, cuja fortuna é um barômetro para a carreira política do marido. Peng é diretora da trupe de música e dança do Departamento Político Geral do Exército da Liberação Popular, e sua patente é de major-general.
Logo após Xi ser elevado ao Comitê Permanente do Politburo e nomeado para uma série de atividades internas do Partido “liderando pequenos grupos” em 2007, Peng apareceu como destaque no programa Prêmio Chineses Famosos, uma cerimônia oficial para estrelas populares com forte aval oficial. (Experientes observadores políticos notaram que Song Zuying, a concubina do ex-líder do regime Jiang Zemin e ex-cantora das manchetes, começou a desaparecer da vista pública enquanto Peng se destacava.)
Enfim, o que Xi traz para a liderança do Partido Comunista Chinês não está exatamente claro. Ele frequentemente é referido como um candidato “comprometido”, comprometido com ambas as facções opostas do ex-líder Jiang Zemin e do atual Hu Jintao. Ele terá de achar soluções para satisfazer o interesse de vários grupos dentro e fora do Partido. Isso pode se tornar cada vez mais difícil enquanto o modelo de crescimento econômico do Partido de maciço investimento, particularmente em infraestrutura, e exportações altamente subsidiadas estejam sobre pressão cada vez maior.
Redes de oficiais do PCCh, muitas vezes através de recursos estatais e monopólios de mercado, têm dominado e manipulado a economia chinesa, levando a um perfil distorcido de distribuição de renda e a uma miríade de outros problemas, dizem especialistas. O desenvolvimento econômico contínuo da China e o crescimento genuíno do consumo doméstico proporcional ao Produto Interno Bruto exigirá uma política que desmonte estes grupos de interesses instalados. Xi, no entanto, foi escolhido porque iria manter o status quo.