Conheça a tecnologia que fez paraplégico dar pontapé inicial da Copa
O Projeto Andar de Novo (Walk Again) permitiu que um paciente paraplégico voltasse a mover a perna para chutar uma bola durante a abertura oficial da Copa do Mundo. O movimento foi possível com o uso de um exoesqueleto acoplado a um computador e ao cérebro de Juliano Pinto, 29 anos, que tem paraplegia completa de tronco inferior e membros inferiores.
Anteriormente, Nicolelis teria anunciado que o paciente daria alguns passos no campo, o que não aconteceu. Contudo, a maior crítica de internautas nas redes sociais refere-se ao tempo de exibição da atividade, que se resumiu a alguns segundos. O paraplégico que participou do projeto e vestiu a roupa comentou a sensação que teve em vídeo postado no perfil do Facebook de Nicolelis. “Estou impressionado, eu não acreditava, só tenho a agradecer”, relata.
O projeto desenvolveu uma espécie de armadura robótica que traz um computador conectado ao cérebro do paciente por meio de eletrôdos. O exoesqueleto ganhou o apelido de BRA-Santos Dumont 1, em homenagem a um dos percursores da aviação, o brasileiro Santos Dummont.
Entenda
O projeto Andar de Novo envolve um grupo de pesquisadores de 25 nacionalidades. Os detalhes foram mantidos em segredo e recebem críticas de outros cientistas devido à exposição em excesso da pesquisa e pelo fato de Nicolelis nunca ter publicado um estudo científico que envolvesse humanos e o controle de robôs a partir do cérebro. Nicolelis é reconhecido mundialmente por seus trabalhos envolvendo macacos, ratos e controle de mecanismos a partir de sensores neuronais.
Os testes do protótipo que foi apresentado ao mundo hoje aconteceram com oito pacientes da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), em São Paulo (SP). No dia 29 de abril de 2014 um dos pacientes conseguiu dar os primeiros passos com a veste robótica, usando somente o cérebro para os comandos. Até o dia 20 de maio, os pacientes já tinham dado, em média, 120 passos com o exoesqueleto cada um.
Dez curiosidades que explicam o funcionamento do exoesqueleto
1) O projeto Andar de Novo realiza testes com oito pacientes adultos com idade entre 20 e 35 anos. Um deles foi escolhido para usar o exoesqueleto para dar o pontapé inicial na abertura da Copa.
2) O equipamento é controlado por atividades do cérebro do paciente, que também recebe sinais sensoriais da máquina.
3) O paciente usa um capacete que transmite os sinais do cérebro para um computador guardado em uma mochila. O computador, por sua vez, dá comando para pistões hidráulicos responsáveis pelo movimento das pernas mecânicas.
4) O exoesqueleto usa uma bateria com autonomia de até 2 horas.
5) Um sensor na parte externa da roupa robótica vai captar o ambiente ao redor de forma parecida a de um ser humano.
6) Existem sensores de pressão, temperatura e de vibração. Mas não se sabe ainda se a pessoa sentirá todos esses dados.
7) Ao tocar o chão, o exoesqueleto aciona um vibrador conectado ao braço do paciente. A ideia é que o cérebro associe essas vibrações ao movimento das pernas para que a pessoa volte a ter impressão de sentir as suas pernas, dando comandos para andar ao equipamento.
8) O material do exoesqueleto foi construído em diferentes países com materiais feitos em impressoras 3D, plástico resistente, metais e alumínio. O protótipo pesa cerca de 70 kg.
9) As pesquisas do exoesqueleto são realizadas no Instituto Internacional de Neurociência de Natal (IINN) e na Universidade de Duke, nos Estados Unidos, onde Nicolellis trabalha com ajuda de financiamentos externos.
10) Outros pesquisadores de neurociência criticam o projeto ou preferem não analisá-lo. Entre as críticas, citam que o excesso de exposição vai criar a sensação de que a tecnologia estará pronta para uso em breve. Contudo, Nicolelis prevê mais 20 anos antes de colocá-la em uso médico.
Pesquisas de Nicolelis
Atuando como neurocientista desde 1984, Miguel Nicolelis começou a pesquisar formas de reestabelecer o controle motor e a sensibilidade tátil em pacientes com lesões medulares ou neurológicas em 2001, quando cientistas de várias partes já vinham tentando desenvolver uma veste robótica semelhante a BRA-Santos Dumont 1. Ao longo de mais de dez anos de pesquisa junto com vários outros especialistas, o grupo de Nicolelis conseguiu criar um mecanismo tecnológico que permite que uma pessoa emita sinais elétricos cerebrais que acionem um artefato robótico. Essa chamada interface cérebro-máquina foi a primeira etapa para o desenvolvimento do exoesqueleto.