Congresso argentino aprova acordo polêmico com Irã

01/03/2013 14:03 Atualizado: 01/03/2013 14:03
Câmara dos Deputados ratifica acordo para investigar os atentados à AMIA, provocando forte rejeição da comunidade judia e da oposição
A comunidade judia se manifestou em frente ao Congresso da Nação Argentina para demonstrar sua oposição ao polêmico acordo com o Irã (Juan Mabromata/AFP/Getty Images)

Após 14 horas de debate, a Câmara dos Deputados da Argentina aprovou ontem um acordo controverso com o Irã que criará a “Comissão da Verdade”, que terá como objetivo rever as investigações sobre o ataque à Associação Mútua Israelita-Argentina (AMIA), ocorrido em Buenos Aires em 18 de julho de 1994.

Com 131 votos a favor, 113 contra e após muito debate, o bloco governista conseguiu a aprovação. O acordo foi assinado pelos governos da Argentina e do Irã em janeiro e o Senado o aprovou na semana passada. A medida entrará em vigor quando aprovada pelo gabinete presidencial.

Antes da aprovação, alguns deputados falaram com o Epoch Times para expressar sua posição.

Carlos Comi, da Coalizão Cívica ARI, disse, “Consideramos que é inconstitucional, que o governo se arrogou funções judiciais que são expressamente proibidas pela Constituição em vários artigos, o que viola a independência do Poder Judiciário.”

Ele acrescentou, “Consideramos que o próprio tratado é rude, porque é um gesto em direção a um país que está praticamente isolado na comunidade internacional, que ignora ou nega o Holocausto, que envergonha a condição humana universal. E a Argentina está negociando com resultados que não há como serem positivos. Porque nada disso fará com que os responsáveis sejam punidos ou os trará para a Argentina para serem finalmente julgados e condenados.”

No que diz respeito a manter laços estreitos com o Irã e outros países questionados por seus abusos de direitos humanos, o deputado Comi acrescentou, “[o Irã] é um país com o qual não temos relações formais, mas também não queremos nos tornar parceiros ou amigos privilegiados, isso nos envergonha. A verdade que envergonha é que a Argentina se passe por ditaduras como há na África ou em outros lugares ao selar acordos comerciais. Parece-nos que o mundo está cheio de oportunidades, mas não com países que violam a condição humana.”

Por sua parte, o deputado Carlos Kunkel, da Frente para a Vitória, defendeu a posição oficial. “Vamos votar em disponibilizar ao Judiciário uma ferramenta que o Judiciário avaliará em que medida autorizada ou não, na pendência de progredir na decisão de esclarecer o atentado à AMIA, mas também temos preocupações sobre a ausência de progresso na investigação do atentado à embaixada de Israel.”

Sobre as críticas da comunidade judaica e do Estado de Israel em relação a este acordo, Kunkel disse, “O que me chama a atenção é que o Estado de Israel pretenda que nós não tenhamos chegado a um acordo para descobrir a verdade neste tema com o Irã, porque o Estado israelense nega o Holocausto.”

“A pergunta que faço é: por que o Estado de Israel tem relações diplomáticas com a Alemanha, que foi o Estado que protagonizou o holocausto? Ah, porque dizem que não houve, mas os outros disseram. Então, colocar as coisas nestes termos é absolutamente absurdo. É perfeitamente razoável que o Estado de Israel tenha relação com todos os Estados que considere necessário e conveniente para sua política e para o bem-estar de seu povo.”

“O que não é possível é que pretenda nos incluir. Porque quando o Estado de Israel assina um acordo ou não com qualquer outro Estado, eles não nos consultam e não tem por que fazer isso, isso está absolutamente claro.”

Enquanto isso, o atual presidente da AMIA, Guillermo Borger, anunciou que a associação contestará o acordo diante do Supremo Tribunal de Justiça e de outras agências internacionais.

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