Congressistas canadenses sintonizam com agitação na China

03/06/2012 03:00 Atualizado: 03/06/2012 03:00

A premiada jornalista e ativista da democracia Sheng Xue (esquerda) ouve enquanto Yiyang Xia, diretor sênior de política e pesquisa da Fundação Legal de Direitos Humanos baseada em Washington DC, fala numa reunião entre congressistas sobre um segundo centro de poder dentro do regime chinês. (Matthew Little/The Epoch Times)Fórum lotado discute crise enfrentada pelo regime chinês

Deputados, senadores e assessores políticos canadenses lotaram um fórum na Colina do Parlamento para ouvir sobre os tremores que ocorrem na China, em que oficiais superiores foram removidos e vazaram documentos descrevendo um acordo para dissolver o Partido Comunista Chinês (PCC).

“Um buraco foi aberto no véu que encobre o funcionamento interno da liderança chinesa”, disse a ativista da democracia Sheng Xue, “fazendo disputas políticas dentro do Partido visíveis para o mundo exterior pela primeira vez nos 60 anos de governo do regime.”

O que foi revelado, observou cada um dos três copalestrantes de Xue, é como um segundo centro de poder criado no âmbito do regime e este se tornou o ponto focal das forças em conflito.

Desafio do CAPL

Esse segundo centro de poder é o Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), anteriormente dirigido pelo czar da segurança chinesa Zhou Yongkang. O CAPL preside sobre os tribunais chineses, a polícia, a vigilância doméstica e a polícia paramilitar, com um orçamento que ultrapassa o dos militares chineses.

David Matas, um advogado de direitos humanos e candidato ao prêmio Nobel da Paz, disse que o CAPL ganhou poder com a perseguição ao Falun Gong. (Matthew Little/The Epoch Times)Xue, uma jornalista premiada, foi acompanhada no fórum pelo advogado de direitos humanos e candidato ao prêmio Nobel da Paz, David Matas, um membro da Ordem do Canadá.

Matas observou como o CAPL ganhou poder com a perseguição ao Falun Gong, uma prática tradicional e espiritual chinesa que se tornou muito popular entre o povo chinês.

Os praticantes do Falun Gong calculados em cerca de 100 milhões, segundo estimativas do regime, vêm de todos os níveis dentro do PCC. A prática era popular mesmo entre os membros da família dos então sete membros do Comitê Permanente do Politburo, o órgão que governa a China, e que desde então foi expandido para nove membros.

Quando o CAPL foi criado no início de 1980, ele não era mais poderoso do que outros departamentos do Comitê Central do PCC, disse o palestrante Yiyang Xia, diretor sênior de política e pesquisa da Fundação Legal de Direitos Humanos baseada em Washington DC.

“Ao perseguir o Falun Gong, um grupo composto por dezenas de milhões de pessoas de todas as províncias, idades e profissões, o CAPL acumulou o poder e a experiência para realizar vigilância e repressão em grande escala.”

Agora que o mesmo mecanismo está sendo usado contra todo o povo chinês, as queixas contra o regime se acumulam, disse Yiyang. Com a agitação na China atingindo níveis sem precedentes, o CAPL ganhou um poder significativo.

O embaixador dos EUA para a China, Gary Locke, descreveu a situação na China com a agitação popular como “muito, muito delicada”, numa entrevista à Rádio Pública Nacional em janeiro, destacando o problema enfrentado pelo regime.

Luta pelo poder

Atualmente, o regime chinês está dividido sobre como lidar com os problemas que enfrenta. A agitação social deixa ao regime duas opções: reforma-se ou reprimir a dissidência. O primeiro-ministro Wen Jiabao e o atual líder Hu Jintao apoiam as reformas, enquanto o outro lado, liderado por Zhou Yongkang, quer que o regime mantenha e fortaleça seu domínio com mão de ferro.

Mas o cerne da questão é realmente como lidar com o Falun Gong, observou Matas, que copublicou um relatório sobre a extração forçada de órgãos de praticantes presos do Falun Gong.

Manter o controle rígido é a única maneira da facção de Zhou garantir que não será responsabilizada por seus inúmeros crimes, em especial a violenta repressão ao Falun Gong. O primeiro-ministro Wen, entretanto, está usando esses crimes para purgar Zhou e seus asseclas.

“Um lado busca a impunidade. O outro usa as violações para desacreditar seus oponentes”, disse Matas.

O deputado conservador Terrance Young participa do fórum sobre a crise enfrentada regime chinês. (Matthew Little/The Epoch Times)“No entanto, uma luta pelo poder é sempre mais do que apenas isso. Há valores em jogo. O lado de Bo Xilai tem medo e inveja de um popular sistema de crença moral e espiritual. O lado do primeiro-ministro Wen Jiabao aprecia a conexão do Falun Gong com as antigas tradições chinesas e sua valorização da moralidade.”

O tumulto começou na China assim que o primeiro-ministro Stephen Harper deixou o Canadá para visitar a China em 6 de fevereiro. Esse foi o dia em que Wang Lijun, o chefe de polícia da cidade de Chongqing, tentou sem sucesso desertar no consulado dos EUA na cidade de Chengdu.

Wang trabalhou sob Bo Xilai, o ex-secretário do PCC em Chongqing e ex-ministro do Comércio da China, muito querido entre a elite empresarial do Canadá. Bo, uma vez considerado uma estrela em ascensão dentro do regime chinês, foi removido logo após sua reunião com Harper.

Transplantes ilícitos de órgãos

Wang, ex-braço direito de Bo em sucessivas posições no governo chinês, ganhou destaque nacional na China por presidir milhares de transplantes de órgãos ao vivo.

Em 2006, Wang recebeu o Prêmio de Contribuição Especial e Inovação da Fundação de Ciência e Tecnologia de Guanghua por testar uma injeção letal de efeito lento que permitia que os órgãos fossem colhidos antes do falecimento da vítima, mantendo assim a qualidade dos órgãos.

“Em seu discurso, ele falou sobre os ‘milhares’ de casos de transplantes de órgãos ao vivo de prisioneiros injetados em que ele e sua equipe participaram”, disse Matas.

“Wang disse que ‘ver alguém ser morto e ver os órgãos dessa pessoa serem transplantados para corpos de diversas outras pessoas é profundamente excitante’, uma frase digna de Josef Mengele.”, comentou Matas.

Mengele foi um oficial alemão da SS e um médico em Auschwitz.

Jason Loftus, editor-adjunto da edição canadense do Epoch Times, disse que oficiais superiores na China disseram ao Epoch Times que Zhou e Bo conspiraram para derrubar Xi Jinping do poder depois que ele sucedesse Hu Jintao durante o 18º Congresso Nacional do PCC marcado para o final deste ano ou início do próximo. (Matthew Little/The Epoch Times)A tentativa de deserção de Wang foi a fagulha que levou à queda de Bo Xilai, e, posteriormente, a de Zhou Yongkang, ambas as quais foram previstas pelos analistas do Epoch Times, observou Jason Loftus, editor-adjunto da edição canadense do Epoch Times, que também falou no fórum.

Loftus descreveu como oficiais seniores na China revelaram ao Epoch Times que Zhou e Bo conspiraram para derrubar Xi Jinping do poder depois que ele sucedesse Hu Jintao durante o 18º Congresso Nacional do PCC marcado para o final deste ano ou início do próximo.

Recompensados pela perseguição

Zhou e Bo ascenderam no poder sob Jiang Zemin por aderirem zelosamente em sua campanha contra o Falun Gong. Foi Jiang que deu autoridade especial ao CAPL e colocou Zhou em sua chefia.

Loftus observou como Jiang precisava garantir que seus aliados permanecessem no poder de qualquer forma ou seriam responsabilizados por seus crimes por adversários políticos.

“Jiang tinha de assegurar que a perseguição continuaria. Caso contrário, Jiang teria razão para temer seu legado, sua liberdade, e até mesmo sua vida podia estar em risco. Se o PCC uma vez parasse a perseguição, então, a grande parte da população que foi prejudicada exigiria que uma prestação de contas fosse feita”, disse Loftus.

Wang, Bo e Zhou estão atualmente sob investigação. Sua queda termina o fim da proeminência da facção de Jiang e marca uma mudança fundamental no regime.

Com essa mudança vem a oportunidade e responsabilidade para o Canadá, disse Matas.

“Enquanto as lutas internas de poder são normalmente assuntos de interesse apenas interno, a perseguição ao Falun Gong e a preocupação com o abuso do transplante de órgãos diz respeito a toda a humanidade. São crimes contra a humanidade, crimes contra nós”, disse ele.

“Devemos aproveitar a oportunidade que esta luta pelo poder oferece para apoiar o lado que defende o fim da perseguição ao Falun Gong, e pôr um fim ao abuso do transplante de órgãos. Na atual transição chinesa, o Canadá tem um interesse, pela democracia, liberdade e direitos humanos, que deve incentivar.”