A conferência de imprensa do primeiro-ministro chinês Li Keqiang na conclusão do Congresso Popular Nacional em 13 de março durou 1 hora e 50 minutos. Todo o processo foi muito simples e não teve qualquer pergunta desafiadora.
Subtraindo o tempo ocupado pela tradução e perguntas, Li usou menos de uma hora para responder a perguntas que tocavam em temas como meio ambiente, política externa, questões civis e economia.
As perguntas apenas forneceram uma plataforma para Li anunciar as políticas. Ninguém levantou questões sobre tópicos sensíveis, mas que estavam na mente de todos, como sobre o ex-chefe da segurança Zhou Yongkang – nem poderiam perguntar sobre isso. Os jornalistas foram avisados por oficiais para não levantarem questões a Li, ou eles teriam seu acesso imediatamente revogado.
A questão foi abordada, ainda que obliquamente, em 1º de março por Lü Xinhua, o porta-voz da Conferência Consultiva Política Popular, um organismo consultivo oficial. Lü respondeu a pergunta de um repórter do Diário da Manhã do Sul da China, sediado em Hong Kong, de forma que todos puderam confirmar que Zhou seria punido.
Depois de salientar que o regime puniria severamente quem violasse a disciplina do Partido Comunista Chinês e a lei, não importando quão alta sua posição fosse, a conclusão de Lü foi a parte que não deixou dúvidas na mente de ninguém. “Eu só posso responder-lhe desta forma”, disse ele ao repórter. “Você sabe de quem eu estou falando.”
Na verdade, as perguntas feitas a Li Keqiang na conferência de imprensa foram todas importantes, mas as respostas de Li já haviam sido expostas na conferência. Ele não daria ou sequer poderia dar uma resposta diferente que desviasse do tom e substância do Congresso.
Em outras palavras, ele não poderia oferecer nada de novo. Os jornalistas encontrariam as respostas-padrão na Agência de Notícias Xinhua, no Diário do Povo ou na emissora nacional China Central de Televisão (CCTV).
Raiz dos problemas
Olhando por outro ângulo, todos esses problemas no meio ambiente, na economia, e assim por diante são causados pelo sistema político da China, ou, para ser franco, pelo Partido Comunista Chinês (PCC).
Na China, todos os principais problemas estão relacionados à política. Embora isto também seja verdade em países democráticos, há uma grande diferença. Se o partido no governo não é bem-sucedido, ele perderá na próxima eleição e as coisas podem mudar em alguns anos. O partido poderia voltar novamente, e os problemas econômicos dificilmente fariam com que o partido fosse dissolvido ou que o líder político perdesse sua vida.
É um caso diferente em países comunistas. A dissolução da União Soviética e a mudança nos países da Europa Oriental tinham laços diretos com a situação econômica na época.
Esta é a razão por que o PCC coloca tanta ênfase no desenvolvimento econômico, mesmo à custa da devastação ambiental, do sacrifício dos direitos civis e do conflito diplomático. Todos estes são comprometidos a fim de garantir a permanente ditadura de partido único do PCC.
Uma ditadura de partido único não é apenas uma oportunidade para a corrupção, é também o meio de escorar a segurança do PCC. Crimes e pecados podem ser encobertos apenas pelo poder, as pessoas podem sofrer lavagem cerebral apenas pela máquina de propaganda estatal sob o poder e a rebelião e oposição podem ser esmagadas apenas pelo poder.
Caso contrário, o Partido, que criou montanhas de injustiça e genocídios brutais em seus mais de 60 anos de governo, perderia sua posição de controle. O Partido seria dissolvido, e seus vários níveis de líderes teriam de pagar por seus crimes.
Camarilha e desdobramentos
Como os jornalistas podem ter entendido na conferência de imprensa de Li, é preciso primeiro prestar atenção à direção indicada pelo regime. E o fator-chave que afeta essa direção é muito óbvio agora desde que o caso de Wang Lijun expôs Bo Xilai e Zhou Yongkang. Isso resultou na primeira grande divisão no alto escalão do PCC em seus 60 anos de regime.
Sim, coisas semelhantes ocorreram antes: o Partido nomeou algumas figuras como constituidores de uma “camarilha anti-Partido” ou rotulou alguns membros de alto escalão como “divisionistas do Partido”, mas estes que foram derrubados, como Liu Shaoqi (outrora a mão esquerda de Mao), Lin Biao (ex-sucessor oficial de Mao) e Zhao Ziyang (ex-líder chinês em nome, no governo de Deng Xiaoping).
Todos estes tinham muito menos poder em comparação com seus adversários Mao e Deng. Então, classificá-los como “anti-Partido” ou “divisionistas do Partido” serve apenas a um propósito político. Na verdade, eles não representaram uma ameaça real ou um desafio para o Partido.
Duelo que abala as fundações
No entanto, os casos mais graves desencadeados por Wang Lijun são diferentes. Wang era o braço-direito de Bo Xilai, cujo julgamento altamente divulgado no ano passado levou-o à prisão.
A luta que está agitando os fundamentos do regime do PCC é o duelo entre a facção do atual líder chinês Xi Jinping e a facção do ex-líder chinês Jiang Zemin, incluídos nesta Bo Xilai e Zhou Yongkang.
Zhou Yongkang controlava mais de 1 milhão de policiais militares e tinha recursos financeiros sólidos gerados por corrupção massiva e um fundo anual de “manutenção da estabilidade social” de 700 bilhões de yuanes. Jiang Zemin, Zeng Qinghong e Bo Xilai têm amplas relações nos altos escalões das forças armadas e controlam o aparato de segurança secreta e o sistema de propaganda coordenado por Li Changchun e Liu Yunshan.
Com todos esses recursos, esta facção de Jiang, que planejou um golpe malsucedido, controla um poder sem precedentes. Portanto, a ameaça enfrentada por Xi Jinping e Li Keqiang não tem precedentes. O caso de Zhou Yongkang é fundamental na luta entre as duas facções.
O Congresso Nacional terminou a pouco, e o caso de Zhou Yongkang será finalmente revelado em breve. Acredito que quando o caso de Zhou se tornar a manchete principal de toda a mídia mundial, os jornalistas que participaram da conferência de imprensa de Li Keqiang perceberão que a história deveria ter sido rastreada naquele momento.
Zhang Tianliang, PhD, escreve sobre a história e política da China. Ele contribui para uma variedade de publicações, incluindo emissora nova-iorquina NTDTV e o serviço chinês da Voz do América.