Desde a antiguidade, o homem estabelece um envolvimento com a natureza. Para tratar da pintura de paisagem, consideramos que a conceituação de paisagem está ligada a essa relação e, embora a definição que discutimos hoje não seja rígida, desde os tempos antigos a natureza já era considerada como o ambiente que está em volta.
Na história da pintura, a paisagem passou de segundo plano e de cenário para uma cena narrativa a gênero tradicional, ganhando maior importância no século XIX. Na Grécia antiga, não havia o conceito de paisagem como conhecemos atualmente. Havia sim, a ideia de natureza, vista como “ecônoma”, um conceito de Aristóteles. Essa definição a classifica como um sistema organizado, onde tudo é produzido e consumido na medida certa. Nem mesmo as descrições formavam uma definição consistente, pois eram bastante objetivas.
Já no período medieval, com o pensamento baseado na filosofia cristã, a natureza foi vista como parte do ciclo da vida. Sendo um ambiente terreno e pecaminoso, não deveria ser absorvido. Porém, aos poucos a natureza começou a representar o divino. A facilidade de simbolizar característica da mentalidade medieval permitiu ao homem a atribuição de significados a objetos por meio de símbolos (no caso, cristãos). Os objetos eram apreendidos em suas unidades, cada um referindo-se a qualidades divinas; até que reunidos, formariam um todo, simbolizando a perfeição.
É possível que a ideia de paisagem tenha surgido com um poeta, Francisco Petrarca, ao subir o Monte Ventoux (em 1336, na Provence), onde experimentou o prazer do olhar, encarando a natureza de uma forma distinta em relação aos medievais, sendo considerado o primeiro homem moderno. Entretanto, reconhecia ainda que o que era importante como reflexão eram os mistérios ligados à existência humana.
As primeiras paisagens modernas são as holandesas (entre 1414 e 1417), feitas no manuscrito Horas de Turim, atribuídas a Hubert van Eyck. Com uma nova concepção de luz e espaço, a paisagem pôde ser apreendida em sua totalidade. A luz permite que todo o ambiente seja percebido e a perspectiva facilita o posicionamento dos elementos em relação ao seu contexto físico. Em meio a algumas dificuldades em associar as duas maneiras de representação, o que realmente importava era colocar a prova a ocupação de uma posição no espaço. A invenção da perspectiva permitiu que a ordem de apresentação e os meios de realizá-la fossem modificados, o que justifica o aparecimento da paisagem no quadro.
Maryella Sobrinho é graduada em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília e mestranda de Teoria e História da Arte pela mesma Universidade. Cursou Metodologia da História da Arte no Instituto Superior del Arte neste ano em Madri