A comunidade internacional exigiu nesta quinta-feira uma recontagem dos votos das eleições presidenciais de 14 de abril realizadas na Venezuela.
O secretário de Estado norte-americano John Kerry disse que o país ainda não decidiu se reconhecerá Maduro como presidente e acredita que deve haver uma recontagem dos votos.
“Esta reavaliação tem de ser feita e ainda não foi”, disse Kerry ao Comitê de Relações Exteriores da Câmara, segundo a Reuters. “Obviamente, se há grandes irregularidades, teremos sérias dúvidas sobre a viabilidade do governo. […] Acreditamos que deve haver a recontagem dos votos”, afirmou Kerry.
Enquanto se espera uma decisão, Jay Carney, o porta-voz da Casa Branca, exortou as partes que se abstenham da violência que tem ocorrido nas ruas. “Apelamos ao governo da Venezuela que respeite os direitos dos cidadãos venezuelanos de reunião pacífica e de liberdade de expressão”, disse Carney num comunicado.
O governo da Venezuela recusou-se a contar os votos como solicitado pela oposição mesmo diante da estreita margem anunciada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que concedeu a vitória a Nicolás Maduro e que criou fortes reações no país. Por sua vez, o CNE bloqueou o acesso a seu website, gerando mais interrogações.
“É prudente recontar rapidamente e com total transparência”, disse um comunicado divulgado pela Chancelaria do governo paraguaio de Federico Franco, informou o Infobae.
O presidente colombiano Andrés Pastrana disse à mídia Caracol que acha que se deve realizar a recontagem dos votos e que a atitude de Maduro é de alguém que cometeu fraude. Ele também criticou o chanceler colombiano Holguin por sua posição ambígua ao felicitar Maduro enquanto pedia a recontagem dos votos.
Ismael García, deputado do bloco parlamentar Movimento de Unidade, denunciou uma luta interna no oficialismo entre Nicolás Maduro e Diosdado Cabello. Ele observou que 80% da população quer a contagem das assinaturas, informou a Globovision.
Diversos artistas, como Ricardo Montaner e Willie Colón, e organizações, como a Internacional Socialista, a ONG Expressão Livre e o Observatório Eleitoral Venezuelano, mostraram posição radical exigindo a recontagem dos votos.
Venezuelanos ao redor do mundo levantaram suas vozes em protesto e, em Lima, Cancun, Miami, Nova York e Madri, eles saíram às ruas com panelas e cartazes em apoio à recontagem dos votos e para expressar sua rejeição ao governo de Maduro, que consideram ilegítimo.
Antonio Ledezma, prefeito de Caracas, disse à Rádio Caracol que a oposição identificou mais de 5 mil incidentes que justificam a recontagem, mas que foram rejeitados pelo CNE. Ledezma disse que o povo venezuelano está lutando, porque agora a oposição é a maioria, segundo ‘La hora’.
O candidato presidencial Henrique Capriles destacou em sua rede social que “temos discutido nas últimas horas com vários chefes de Estado e ministros das Relações Exteriores, todos muito receptivos e de acordo com a recontagem dos votos”.
Em declarações citadas pela mídia Caracol, ele disse que em “alguns mesas de votação, Maduro disse que obteve 1.000% mais votos do que Chávez; quem pode acreditar nisso?”
Os presidentes que compõem a União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) chegaram a Lima na quarta-feira para ter uma reunião urgente e abordar a questão da eleição de Maduro. A presidente brasileira Dilma Rousseff, a argentina Cristina Fernandez, o uruguaio José Mujica e o peruano Ollanta Humala deverão decidir que posição tomar em relação ao acontecido na Venezuela.
Até o momento, a UNASUL mantem a declaração oficial de 15 de abril em que “estes resultados devem ser respeitados por emanarem do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a única autoridade competente na matéria de acordo com as disposições constitucionais e legais da República Bolivariana da Venezuela. Qualquer reclamação, dúvida ou procedimento extraordinário que solicite algum dos participantes do processo eleitoral deverá ser canalizado e resolvido dentro do ordenamento legal existente”.
Henry Ramos, secretário-geral da Ação Democrática (AD) na Venezuela, disse que este problema é muito simples de resolver. “Qual é o interesse de Maduro em não recontar os votos? O que ele esconde?”, questionou Ramos e ressaltou que o pedaço de papel emitido pelas máquinas eleitorais não é um adorno, serve justamente para dirimir essas dúvidas. Por sua vez, ele explicou que ninguém pode negar o que se vê, que o chavismo perdeu um milhão de votos e 700 mil destes migraram para a oposição, segundo a Globovision.
Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel da Literatura de 2010, numa entrevista com a mídia Globo, declarou que a situação na Venezuela reflete apenas “o começo do fim do populismo na América Latina” e pediu aos países que solicitarem a recontagem, informou a mídia venezuelana El Comercio.
Vargas Llosa uma vez criticou os intelectuais latino-americanos de hoje por sua falta de compromisso com seus países ao não participarem na vida política e social da região.
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