Compreendendo a crise política da China

28/06/2012 03:00 Atualizado: 28/06/2012 03:00

Jason Loftus, editor-adjunto do Epoch Times Canadá, disse que oficiais seniores na China informaram ao Epoch Times que Zhou Yongkang e Bo Xilai conspiraram para expulsar Xi Jinping do poder depois que ele sucedesse Hu Jintao no 18º Congresso Nacional do PCC marcado para o final deste ano ou início do próximo. (Matthew Little/The Epoch Times)Se você for um leitor regular do Epoch Times, você saberá que nossos colunistas predisseram com precisão os eventos dramáticos que vêm ocorrendo recentemente na China. Há uma questão subjacente compreendida por nossos jornalistas que os permite ver a atual situação com clareza. Isso explica a queda súbita e dramática do oficial chinês Bo Xilai. Também oferece compreensão sobre como e por que o Google foi forçado a sair da China.

Eu farei o que pode soar como uma afirmação ousada: que o Falun Gong, incluindo sua perseguição, é a questão central por trás dos acontecimentos políticos extraordinários que vemos hoje se desenrolando na China. Nossa incapacidade de entender o impacto do Falun Gong e considerá-lo em nossas relações com a China não significaria apenas colocar os direitos humanos em segundo plano. Isso significaria lidar com a China de olhos fechados.

Primeiro, sob risco de ser interpretado subestimando a importância de outros gravíssimos problemas de direitos humanos dentro da China, eu quero ressaltar que meu copalestrante Yiyang Xia descreverá como o aparato repressivo desenvolvido ao longo dos 13 anos de perseguição ao Falun Gong tem sido utilizado mais recentemente para atingir defensores dos direitos humanos de todos os tipos.

Eu tenho quatro pontos que eu gostaria de comentar.

1. Há uma facção no Partido Comunista Chinês (PCC) que tem procurado derrubar arranjos estabelecidos e tomar o poder.

O Epoch Times soube disso em fevereiro. Wang Lijun era o chefe de polícia de Bo Xilai, que por sua vez governou a megacidade de Chongqing no centro-oeste da China. Wang fugiu de carro para o consulado norte-americano em Chengdu, que fica a várias horas de distância. Wang estava sob investigação da Central do PCC, Bo temia o que Wang poderia revelar e, então, Bo se virou contra Wang. Wang fugiu para salvar sua vida e não apenas para compartilhar evidências que implicavam a mulher de seu chefe num assassinato. (Depois de ouvir meu copalestrante David Matas sobre o papel de Wang no enorme crescimento da extração forçada de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong, podemos ver que é altamente improvável que Wang de repente teve consciência e quis se levantar contra a Bo sobre a morte do empresário britânico Neil Heywood).

Bill Gertz, um repórter de segurança nacional dos EUA, logo informou que Wang Lijun havia revelado a oficiais dos EUA que Bo Xilai e Zhou Yongkang estavam conspirando para impedir a ascensão ao poder de Xi Jinping, que supostamente assumirá a liderança do PCC no fim deste ano (ou início do próximo, se o Congresso do PCC atrasar).

A aliança entre Bo e Zhou era bem conhecida. Zhou é o chefe maior da segurança pública da China e tinha publicamente articulado para Bo ser nomeado para o Comitê Permanente, o grupo de nove homens que governam o PCC e a China e para substituí-lo na administração de tudo relacionado à aplicação da lei na China. Wang revelou que havia mais nessa aliança do que os olhos podem ver: após Xi assumir o cargo, Bo e Zhou planejavam pôr Xi de lado e promover Bo ao topo.

O Epoch Times tinha suas próprias fontes chinesas que afirmaram o que Gertz reportou e assim fizeram as mídias dissidentes em língua chinesa que, como o Epoch Times, têm noticiado com precisão o desenrolar dos acontecimentos no drama político atual.

Mais corroboração surgiu numa história que o Epoch Times revelou sobre por que o Google foi forçado a sair da China. Bo e Zhou quiseram manipular as pesquisas na internet para que informação embaraçosa a Xi Jinping, bem como ao primeiro-ministro Wen Jiabao e o atual líder chinês Hu Jintao, fosse apresentada. Eles queriam usar a internet para enfraquecê-los. A fim de controlar as pesquisas na internet, eles fizeram um acordo com o Baidu, o principal concorrente de busca do Google na China na época. Eles forçariam o Google a sair, o Baidu abarcaria sua fatia do mercado e, em seguida, o Baidu manipularia as buscas na internet para atenderem a agenda de Bo e Zhou.

Na verdade, Zhou e Bo conseguiram expulsar o Google e os resultados de busca do Baidu para “XiJinping”, “HuJintao” e “WenJiabao” começaram a mostrar artigos com títulos como “Filho de Hu Jintao é terrivelmente corrupto; Jiang Zemin quer chegar ao fundo da questão”, “Xi Jinping é um devasso, brinca com as mulheres na província de Zhejiang por trás de sua segunda esposa” e assim por diante.

Para resumir, Bo e Zhou tentaram tomar o poder através de meios extraordinários. A mídia frequentemente relatou sobre a “luta interna” na China. A expressão é enganosa. Isto não é manobra parlamentar. É muito sério. Antes de isso acabar poderemos muito bem ver execuções ocorrerem.

2. A decisão de perseguir o Falun Gong forçou Jiang Zemin a construir uma estrutura de poder alternativa dentro do Partido Comunista.

Em 1999, Jiang Zemin começou a perseguição o Falun Gong. Isso foi algo muito controverso e divisionista e, no final, saiu completamente pela culatra, transformando-se num pesadelo para o PCC.

Vale a pena olhar para trás para rever algo escrito logo depois que aquilo começou. Em novembro de 1999, John Pomfret do Washington Post escreveu, “A campanha revelou dissidência nos altos escalões do poder, minando a imagem de liderança da China como unida e pragmática. Fontes do Partido Comunista disseram que o Comitê Permanente do Politburo não apoiou por unanimidade a repressão e que o presidente Jiang Zemin decidiu sozinho que o Falun Gong deveria ser eliminado.”

Considere a enormidade do que Jiang decidiu fazer por conta própria. Entre 70 e 100 milhões de pessoas praticavam o Falun Gong em 1999. Cada uma dessas pessoas tinha família, amigos, vizinhos e colegas. De fato, Jiang colocou o Partido Comunista em guerra contra uma enorme fração do povo chinês.

Jiang pensou que sua campanha estaria acabada em três meses. Quando ele descobriu que não era este o caso, ele teve que improvisar. Porque sua campanha não era popular, Jiang teve de recrutar oficiais para realizá-la, o que ele fez com suborno, chantagem e coerção e, assim, criando uma facção que tem laços diretos e pessoais com ele.

Jiang teve de assegurar que a perseguição continuaria. Caso contrário, ele teria razão para temer seu legado, sua liberdade e até mesmo sua vida poderia estar em risco. Se alguma vez o PCC parasse a perseguição, então, aquela grande parte da população que foi prejudicada exigiria que uma prestação de contas fosse feita.

Em 2002, quando Jiang estava programado para se aposentar como chefe do Partido Comunista, ele expandiu o Comitê Permanente, colocando dois de seus asseclas nele. Além disso, ele mudou a regra segundo a qual o Comitê Permanente operava. Sob seu comando, a regra foi “obedecer ao secretário-geral”. Depois que ele se aposentou, a regra era “trabalhar por consenso”. Como o pessoal de Jiang dominava o Comitê, o efeito dessas mudanças foi assegurar que Jiang nunca deixaria o poder.

Além desses passos, Jiang construiu o Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), tornando-o um segundo centro de poder dentro do PCC. O CAPL controla todos os aspectos da aplicação da lei na China, desde a polícia até os juízes, advogados, campos de trabalho e a vigilância. Sua polícia armada possui 1,5 milhões de componentes, o tamanho de um exército. Jiang assegurou que todos os meios de coerção fora dos militares estivessem sob o comando de seus aliados, dando a ele e sua facção uma espécie de independência em relação ao próprio Partido Comunista.

Vale a pena parar para refletir sobre o custo total de um aparato capaz de reprimir esse número de pessoas, um tópico que meu copalestrante Yiyang Xia aprofundará ainda mais.

3. Os crimes cometidos na perseguição ao Falun Gong irão, uma vez conhecidos, ameaçar a existência do Partido Comunista.

Bo Xilai foi processado em mais de uma dúzia de países por crimes contra a humanidade e genocídio. Ele foi indiciado pela Corte Nacional espanhola em 2009 por acusações de genocídio e tortura.

O melhor palpite é que dezenas de milhares de praticantes morreram devido à tortura e abusos. Estima-se que 450 mil a 1 milhão de praticantes do Falun Gong estejam trancafiados em campos de trabalho agora, onde sofrem abusos, lavagem cerebral e tortura. Por toda a China, famílias foram destruídas. Há toda uma geração de órfãos que perderam um ou ambos os pais devido à perseguição.

Por mais horrível que tudo isso seja, há algo mais assustador: o mal da extração forçada de órgãos de pessoas vivas que acontece na China. Dezenas de milhares de praticantes do Falun Gong foram mortos por seus órgãos enquanto ainda vivos. Isto foi organizado pelo CAPL. E os principais membros da facção de Jiang estão profundamente envolvidos.

Wang Lijun se gabou num discurso por fiscalizar milhares de operações de colheita de órgãos. A cidade de Shenyang, na província de Liaoning, sob a chefia de Bo Xilai, parece ter sido o ponto inicial para o desenvolvimento desta atrocidade. Zhou Yongkang também está grandemente envolvido.

Nosso jornal foi o primeiro a revelar essa história e continua a cobri-la de perto. No mês passado, nós informamos sobre telefonemas feitos aos principais líderes do Partido Comunista perguntando sobre a colheita de órgãos. Nenhum negou conhecimento da colheita de órgãos de praticantes do Falun Gong.

Há muito escrito sobre se o PCC pode cair, devido a problemas financeiros, corrupção, desigualdade e assim por diante. Qual será o efeito para o Partido Comunista com a publicação dos fatos sobre as atrocidades da colheita de órgãos?

Temos um exemplo instrutivo da história.

Em 1940, a polícia secreta soviética matou mais de 20 mil oficiais poloneses na Floresta de Katyn na Rússia. Stalin culpou os nazistas e o regime manteve a mentira pelos próximos 50 anos. Em 1989, a verdade surgiu, em 1990, Gorbachev admitiu o que aconteceu. O massacre também foi usado na luta pelo poder entre Yeltsin e Gorbachev; isso fortaleceu a resistência polonesa e esmagou a autoridade moral do restante da linha dura soviética.

Uma vez que algo assim é revelado, não há como voltar atrás. O mesmo será verdade para a China e o enorme crime da colheita de órgãos virá para definir o Partido Comunista Chinês.

Vamos voltar à trama planejada por Bo e Zhou. No mês passado, Bo foi despojado de todos os seus postos no PCC. Ele foi purgado e está sendo investigado.

A remoção de Bo é um duro golpe para a facção que Jiang formou para perseguir o Falun Gong. Sem Bo para assumir as poderosas posições de Zhou no Comitê Permanente e como chefe do CAPL, a estrutura de poder alternativa construída para proteger Jiang e sua facção sucumbirá.

O futuro da China está aberto agora de uma maneira não vista há um longo tempo. Isto me leva ao meu quarto e último ponto.

4. O Canadá não precisa temer o colapso do Partido Comunista Chinês.

Assim como Jiang temia por seu legado, assim também o primeiro-ministro Wen Jiabao e líder chinês Hu Jintao.

Wen e Hu estão programados para se aposentarem no 18º Congresso do Partido, que provavelmente será em outubro. Se eles não acabarem com a perseguição ao Falun Gong, eles serão taxados para sempre de terem sido cúmplices na mesma.

Mas acabar com a perseguição requer que Hu e Wen enfrentem a força do segundo centro de poder criado por Jiang, o CAPL.

Os países ocidentais abordarem a questão do Falun Gong pode fortalecer as mãos de Hu e Wen, enquanto eles lutam contra as ações de retaguarda da facção de Jiang. Um vazamento do governo dos EUA disponibilizado pelo Wikileaks apoia isso, mostrando que Bo Xilai pode ter sido mantido fora do cargo de vice-primeiro-ministro que ele disputava em 2007 por causa das ações do Falun Gong que ele enfrentava no exterior.

Claro, se Hu e Wen acabarem com a perseguição e os crimes cometidos contra o Falun Gong forem admitidos, o Partido Comunista pode acabar também.

Houve muita coisa escrita sobre a necessidade de o PCC assegurar a estabilidade na China, isto é um grande assunto que eu não posso fazer justiça hoje. Basta considerar o seguinte:

Em vários discursos, Wen disse que o governo da China deve ser independente do Partido Comunista. Esta é uma heresia para aqueles que acreditam que o Partido Comunista deve governar a China, o PCC só pode governar se tiver o monopólio do poder. Quando Qiao Shi era o chefe do Congresso Nacional Popular na década de 1990, ele costumava dizer que o PCC deve estar sujeito às leis da China.

Se Wen Jiabao e Qiao Shi podem falar e conceber uma China em que o Partido Comunista não tem poder sobre tudo, não deveríamos ter medo da mesma perspectiva.

Desde que começou a crise, o tráfego no website do Epoch Times de língua chinesa tem visto um salto significativo, recebendo agora 6 milhões de visualizações de página por dia.

Eu acredito que os chineses estão migrando para nosso website não só porque oferecemos um raro olhar sem censura em língua chinesa sobre a China, mas também por causa da percepção que oferecemos e que faz todo o sentido sobre o que se desenrola lá hoje.

Somos capazes de oferecer esse discernimento porque entendemos o que eu esbocei aqui hoje: A crise na China gira em torno do mal da perseguição ao Falun Gong e sua resolução depende da posição assumida em relação a esse mal.

Nota do Editor: Quando o ex-chefe de polícia de Chongqing, Wang Lijun, fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu em 6 de fevereiro, ele colocou em movimento uma tempestade política que não tem amenizado. A batalha nos bastidores gira em torno da postura tomada pelos oficiais em relação à perseguição ao Falun Gong. A facção das mãos ensanguentadas, composta pelos oficiais que o ex-líder chinês Jiang Zemin promoveu para realizarem a perseguição ao Falun Gong, tenta evitar ser responsabilizada por seus crimes e continuar a campanha genocida. Outros oficiais têm se recusado a continuar a participar da perseguição. Esses eventos apresentam uma escolha clara para os oficiais e cidadãos chineses, bem como para as pessoas em todo o mundo: apoiar ou opor-se à perseguição ao Falun Gong. A história registrará a escolha de cada pessoa.