Finalizando a série de artigos sobre o Método Bates, hoje vamos falar sobre algumas técnicas que o compõem.
Todos podem alcançar alguma melhora em distúrbios visuais simples, já que podemos relaxar naturalmente em certas circunstâncias. Porém, segundo Bates, “Para garantir o relaxamento permanente, algumas vezes, requer-se um tempo considerável e muito engenho (…) Seja qual for o método que traga mais ajuda, entretanto, a finalidade é sempre a mesma, ou seja, o relaxamento [dos olhos e da mente]”.
Devemos lembrar que os óculos ou as lentes de contato não melhoram a visão, mas são apenas ferramentas externas que possibilitam o uso da visão defeituosa, sem jamais torná-la saudável. Por isso, “… os óculos devem ser descartados no início do tratamento. Quando isto não pode ser feito sem um enorme desconforto, ou quando o paciente tiver que continuar o seu trabalho durante o tratamento e não puder fazê-lo sem óculos, deve ser permitido o seu uso por um tempo, mas isso sempre atrasa a cura”.
Ou seja, para a recuperação da visão através do Método Bates, os óculos são desnecessários e até um sério obstáculo, pois ao serem usados depois dos exercícios curativos, fazem a visão recair em seu estado condicionado anterior, levando o globo ocular a reassumir o seu formato defeituoso para adaptar-se novamente às lentes corretivas.
Os exercícios e meios que serão apresentados não são rígidos e nem devem ser feitos como simples exercícios físicos: a melhora depende de uma atenção interessada e inteligente para que se percebam os estados de tensão e o mau uso dos olhos que estão comprometendo a sua visão.
Embora essas técnicas e exercícios pareçam, às vezes, simples demais para poderem melhorar os distúrbios visuais, os resultados práticos obtidos por milhares de pessoas demonstram sua eficácia de modo inquestionável.
Antes de passarmos aos exercícios, temos uma recomendação a fazer. Apesar de tentarmos explicitar algumas técnicas do Método Bates, aconselhamos a leitura do livro Perfect Sight Without Glasses, de W. H. Bates. Neste artigo, apenas abordaremos alguns exercícios e técnicas, como forma de introdução geral aos meios curativos do Método Bates. As explicações e orientações diretas do Dr. Bates são imprescindíveis para o sucesso na recuperação da visão.
Empalmar
“Este é um dos métodos mais eficazes para a obtenção de relaxamento de todos os nervos sensoriais”. Esfregue as mãos, para aquecê-las um pouco, e coloque ambas as mãos em concha sobre os olhos, mantendo a base da palma de cada mão apoiada normalmente sobre o maxilar, e os dedos apoiados na testa, acima das sobrancelhas. Porém, as mãos devem estar relaxadas, em leve forma de concha, com o centro da palma das mãos exatamente sobre a região dos globos oculares. Podem-se usar livros ou outros apoios sobre uma mesa, para apoiarmos os cotovelos.
Os olhos se mantêm abertos e piscando naturalmente, sem forçar. É melhor estar num aposento totalmente escuro. Se houver dificuldade em sentir os olhos imersos numa escuridão bem profunda, deve-se imaginar o maior escuro possível, como se tudo estivesse envolvido numa profunda escuridão. Outra opção é escolher um objeto totalmente preto, olhá-lo e sentir o seu profundo preto, e depois fechar os olhos, tentando manter essa imagem em todo o seu campo visual.
Porém, nada pode ser forçado ou feito com tensão, e é preciso deixar que imagens de coisas muito pretas (tinta preta, veludo preto, carvão, móvel preto, letras muito pretas etc) sejam relembradas aos poucos. Desta forma, vamos nos aprofundando cada vez mais na memória e na sensação do preto, até que, com o tempo, chega-se ao preto perfeito.
A ausência total de luz promove um relaxamento extraordinário das células visuais, do nervo óptico e dos centros nervosos, levando a um profundo descanso dessas estruturas, possibilitando a sua renovação saudável e sua regeneração. “Quando o relaxamento perfeito é obtido desse modo, como é indicado pela capacidade de ver um preto perfeito, ele é totalmente retido quando os olhos estão abertos, e o paciente ficará permanentemente curado”.
O empalmar pode ser realizado por cinco, dez ou quinze minutos, de uma a algumas vezes ao dia. Recomenda-se que seja feito entre os demais exercícios, para aliviar, descansar e estabilizar a mente e os olhos. Quando você começar a sentir os benefícios e entender o processo, cada vez que o fizer, alcançará mais recuperação da visão e saúde dos olhos.
Imaginar
Segundo Bates, “Nós vemos em grande parte com a mente, e somente parcialmente com os olhos”. Nós interpretamos mentalmente as impressões luminosas dos objetos que chegam na retina. As imagens que vemos dos objetos dependem dos conceitos, memórias e informações sobre o mundo que temos em nossa mente.
O indivíduo que tem uma visão imperfeita, retém imagens imperfeitas em sua memória, e sempre as reproduz quando olha para as coisas. Assim, as imagens dos objetos sempre tendem a serem vistas de forma imperfeita quando o indivíduo olha para as coisas com a sua memória visual habitual. “Resumindo: quando o olho está fora de foco, a mente também está fora de foco.”
O Dr. Bates ensinava as pessoas a verem letras perfeitamente pretas sobre um fundo totalmente branco (usando, em geral uma Tabela de Snellen – aquela usada nos consultórios oftalmológicos para testar a visão), da distância que proporcionasse a visão mais nítida para a pessoa. A pessoa olha para as letras e fecha os olhos, tentando retê-las na sua memória. Ela faz isso tantas vezes quantas forem necessárias, até obter uma memória muito boa das letras bastante pretas.
Depois são feitas novas leituras na Tabela de Snellen, até o ponto em que a nitidez se faz total e a acuidade melhora drasticamente; ao ponto de enxergar completamente bem, ou até melhor do que uma visão comum, podendo chegar a uma visão 20/10. Recomenda-se adquirir uma Tabela de Snellen; o Dr. Bates ensina vários outros métodos curativos através dela.
Piscar
Embora pareça uma coisa insignificante, piscar é fundamental para a saúde dos olhos. Além de lubrificar a córnea, piscar é um movimento natural para reduzir a tensão dos olhos. O Dr. Bates notou que as pessoas que têm distúrbios visuais, normalmente piscam muito menos do que as que não têm. Devido à rigidez mental e visual, as pessoas tendem a manter os olhos fixos e piscarem muito pouco. Isso vai tornando os olhos cronicamente cansados e mais ressecados do que o normal.
Antes de tudo, é preciso recuperar a função e o hábito natural de piscar. Por isso, é preciso lembrar, em diferentes momentos do dia, de observar se estamos com os olhos rígidos e sem piscar. Além disso, uma das técnicas curativas simples e bastante relaxantes da visão é piscar suave, relaxada e repetidamente por 1 ou 2 minutos. Isso pode ser feito em qualquer lugar e várias vezes ao dia.
Pequeno balanço
O pequeno balanço consiste em girar a cabeça suavemente, e sem tensões, indo de um ombro para o outro. Ou seja, olhar para o lado direito e depois para o esquerdo, e vice-versa, através de um movimento contínuo, relaxado e numa velocidade média. Os olhos estão abertos e relaxados, piscando naturalmente. Escolhe-se um ponto ou objeto no início do lado direito e outro no fim do lado esquerdo, traçando-se uma linha imaginária que une ambos os pontos.
Os olhos não tentam ver nada: deixe que as imagens cheguem aos olhos naturalmente. Porém, não divague. Mantenha atenção normal no que está fazendo. Perceba se existe alguma tensão nos olhos, no rosto, na boca, no pescoço ou nos ombros e relaxe o que encontrar tenso. Esse exercício descondiciona as tensões gerais da cabeça, do pescoço, dos ombros e dos olhos, e reeduca a visão para receber as imagens naturalmente, sem esforço.
Faça esse exercício sentado, num ambiente iluminado naturalmente ou por luz elétrica. Opte pelas lâmpadas incandescentes, porque são muito melhores do que as fluorescentes para a visão. Este exercício pode ser feito por alguns minutos, algumas vezes ao dia.
Grande balanço
O grande balanço é semelhante ao pequeno balanço, mas é feito em pé e tem um efeito relaxante em todo o organismo. Fique em pé, com as pernas abertas na largura dos ombros. Deixe o corpo relaxado, com os braços soltos. Gire o tronco para um lado e depois para o outro, alcançando sempre o máximo da amplitude no movimento, mas sem forçar.
Ao girar para um lado, o calcanhar do pé do lado oposto levanta-se, mantendo-se a parte da frente do pé no chão. Isso promove uma maior amplitude no movimento. Enquanto gira-se o tronco para um lado e para o outro, a cabeça e os braços são levados juntos no movimento. Os olhos estão relaxados, sem fixar a visão em nada, mas deixando a visão das coisas serem percebidas pelos olhos naturalmente.
Não fique disperso, com a mente em seus pensamentos, mas esteja naturalmente atento ao aparente movimento produzido nas coisas, devido ao movimento do teu corpo: observe passivamente a imagem dos objetos passando claramente pelos teus olhos, inclusive quando eles estão se afastando da sua visão.
Esse exercício descondiciona eficazmente a rigidez visual, melhora o cansaço dos olhos e relaxa toda a musculatura e as tensões não saudáveis. Também reeduca a visão para receber a imagem dos objetos, ao invés de forçar para vê-los. O Dr. Bates indica também o uso da Tabela de Snellen nesse exercício, colocando-a no campo de visão da pessoa, para que ela observe as letras relaxada e naturalmente enquanto passa por elas, para recuperar a nitidez e o foco visual.
Ensolar
A luz do sol é tão fundamental para os olhos e para a visão saudável, que pessoas que são privadas da luz natural sempre desenvolverão distúrbios visuais, inclusive muito graves, como é o caso de pessoas ou animais que trabalham em minas subterrâneas. Ensolar significa fazer incidir suave e paulatinamente a luz do sol nos olhos, até que estes se tornem capazes de assimilar a luz tão bem e saudavelmente, que nenhum tipo de claridade será mais um problema para a pessoa.
Muitas pessoas têm fotofobia – dificuldade de entrar em contato visual com a luz solar, ou extrema sensibilidade a ela – e usam óculos escuros ou outros recursos para evitarem a luz. Isso torna seus olhos sempre mais fracos, doentes e sensíveis à luz. Para todas as pessoas, em geral, ensolar é muito benéfico, e especialmente para as que apresentam fotofobia.
Para praticar o ensolar, pode-se sentar numa cadeira e praticar o pequeno balanço, fazendo com que a linha de giro da cabeça passe pelo sol num determinado ponto. No início, faz-se esse exercício com os olhos fechados e relaxados, passando suavemente pela linha do sol, num vai e vem de um ombro a outro, durante 5 ou 10 minutos. Faz-se deste modo até que os olhos sintam-se bastante confortáveis recebendo a luz.
Depois de alguns dias ou semanas, este exercício pode ser realizado com os olhos abertos, piscando suave e naturalmente durante o movimento. Pode-se acostumar paulatinamente à luz do sol que será vista, começando, nesse caso, descrevendo uma linha de giro inferior à posição do sol e ir subindo até alcançar uma linha que passe pelo sol. Com o passar do tempo, praticando cotidianamente este exercício, será cada vez mais fácil e confortável receber a luz do sol nos olhos, e isso beneficiará enormemente a sua visão.
…………….
Como regra geral, os exercícios podem ser feitos de maneira intercalada, escolhendo os que melhor convêm à pessoa no momento. Porém, evitar os exercícios que possam causar alguns desconfortos iniciais pode impedir o melhoramento da visão, que provavelmente virá através desses mesmos exercícios. As sensações desconfortáveis que podem surgir ao fazermos um determinado exercício, como tontura, enjoo, dor de cabeça e outras, tendem a indicar que tocamos em pontos chaves de nossos entraves visuais.
Persistindo inteligentemente nesses mesmos exercícios, entendendo o que há por trás desses incômodos, pode levar à dissoluções de padrões inconscientes não-saudáveis muito importantes para a recuperação da visão. No entanto, também pode ocorrer de estarmos fazendo algum exercício de forma errada, colocando muito esforço e tensão, ou aplicando a técnica de forma errada. Então, atenção, inteligência e bom senso sempre são valiosos.
Esperamos que aqueles que buscam melhorar a sua visão, possam receber algum benefício desta introdução ao Método Bates. E, especialmente, recomendamos novamente o acesso direto aos ensinamentos e terapias contidas no livro do Dr. Bates citado acima.
Alberto Fiaschitello é terapeuta naturalista e cientista social