Todas as correntes do jihadismo islâmico querem Estado. Não algumas, mas todas.
Para citar apenas alguns exemplos (de organizações sunitas) – da Irmandade Muçulmana, passando pelo Hamas – que é a mesma Irmandade Muçulmana na Palestina, pelo Boko Haram até o Califado Islâmico – todas querem erigir Estados (e isso quando já não se intitulam Estados).
Não é curioso? Será que ninguém presta a devida atenção a esse “pequeno detalhe”?
Eles não poderiam simplesmente organizar associações da sociedade civil? Não! Não poderiam. Até porque, onde estabelecem sua hegemonia, destroem ou impedem a formação de qualquer coisa que se possa chamar de sociedade civil (uma realidade social que só pode florescer plenamente na paz).
Por que? Ora, porque jihadismo = guerra e guerra = Estado. Salvo os Estados democráticos de direito que, mais ou menos domesticados pela democracia, não costumam guerrear entre si (ainda que, em todos os casos, pratiquem alguma forma de guerra fria contra outros Estados e internamente pervertam a política como uma continuação da guerra por outros meios).
Na sua origem, mesmo a forma atual de Estado-nação foi um fruto da guerra e a democratização que sofreu foi tardia e incompleta. Mas o mundo político não quer ver nada disso. Os atores políticos e até mesmo boa parte dos teóricos da política acham que o Estado é uma realidade inexorável. Imaginam que na sua ausência os seres humanos teriam uma vida “solitária, miserável, sórdida, brutal e curta” (como pensava o autocrata Hobbes, falsificando a simples observação dos povos que não se organizam sob Estados).
Foi justamente sob o Estado – nas várias formas que assumiu na civilização patriarcal – que mais de 90% do período de vida humana no planeta ocorreu assim. A guerra foi – de longe – a principal responsável pela brutalidade da vida. Sem guerra – quente ou fria ou praticada como política adversarial – não é possível erigir e reproduzir sistemas de dominação. Sem guerra não há Estado (e nenhuma forma de Estado surgida até hoje – do Estado-Templo sumeriano, passando pelos proto-Estados das hordas de predadores que rumaram para oeste a partir das margens setentrionais do Mar Cáspio, pelos Estados associados ao despotismo oriental, pelas cidades-Estado monárquicas da antiguidade, pelos Estados feudais antigos e medievais, pelos Estados reais e principescos, até chegar ao Estado-nação moderno – erigiu-se em função de qualquer coisa que não fosse a guerra).
O comportamento guerreiro é apenas um culto macabro do Estado. Mas vá-se lá dizer-lhes!
Augusto de Franco é escritor, palestrante e consultor
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