Debate se agita sobre a propriedade das areias de petróleo
A empresa chinesa CNOOC (China National Offshore Oil Company Ltd.) anunciou a aquisição da Nexen Inc., uma das maiores empresas de petróleo do Canadá, por 15,1 bilhões de dólares em dinheiro na segunda-feira. Enquanto a aprovação de acionistas e do governo canadense é aguardada, o negócio despertou um debate sobre a propriedade estrangeira das areias betuminosas de Alberta, no Canadá.
A CNOOC está oferecendo 27,50 dólares por ação, um ágio de 61% no preço das ações da Nexen no ‘New York Stock Exchange’ (NYSE) após o fechamento em 20 de julho. Isso também representa um prêmio de 66% por 20 dias do preço do volume médio ponderado das ações negociadas da Nexen.
As ações da Nexen subiram mais de 50% na segunda-feira (dia 23) após o anúncio e desde então oscilaram um ou dois dólares abaixo do preço de oferta da CNOOC.
A CNOOC é uma empresa estatal e afirma ser a maior produtora de petróleo em águas profundas da China. A Nexen tem participações nas areias petrolíferas de Alberta, no Mar do Norte, na África Ocidental e no Golfo do México.
Analistas têm interpretado este negócio como uma combinação do plano da CNOOC de adquirir ativos e o desejo da Nexen por dinheiro depois que problemas atormentaram suas operações nas areias petrolíferas em Long Lake.
Decisão do governo pode definir precedente monumental
A Indústria do Canadá confirmou que reverá a aquisição da CNOOC.
O ministro da Indústria canadense Christian Paradis disse num comunicado na segunda-feira que o acordo está sujeito à revisão sob a Lei de Investimento do Canadá e que ele daria sua aprovação se for “suscetível de ser lucrativo para o Canadá”.
Isso é determinado por fatores como o efeito sobre a atividade econômica do Canadá, o nível e a natureza da participação canadense no negócio e o efeito sobre as indústrias do Canadá.
O primeiro-ministro Stephen Harper disse a repórteres em Oshawa na quarta-feira que não faria qualquer comentário que “prejudicasse a decisão do governo”, exceto para dizer que o investimento será “cuidadosamente examinado”.
Até agora, o governo conservador não fez indicações de aprovação ou desaprovação sobre o negócio da CNOOC-Nexen.
A resposta do governo à aquisição não determina apenas a abertura do Canadá ao comércio, mas também sua atitude em relação a empresas controladas pelo Estado, especialmente empresas de um regime autoritário.
Em 2010, o governo federal bloqueou uma aquisição hostil da gigante de fertilizantes Potash Corp. do Saskatchewan no Canadá pela mineradora australiana BHP Billiton Ltd., que ofereceu 39 bilhões de dólares.
No entanto, a recuperação vagarosa dos EUA e os problemas na zona do euro estão forçando o Canadá a procurarem parceiros comerciais através do Pacífico. Isso inclui negociar acordos comerciais com a Índia e Japão, e incentivar o investimento da China.
Possivelmente aprendendo com o fracasso da BHP e sua própria oferta mal sucedida pela produtora de petróleo californiana Unocal Corp. em 2005, a CNOOC planejou bem esta aquisição. O generoso ágio quase garante o apoio dos acionistas e a empresa já garantiu a aprovação do conselho de diretores da Nexen e do governo de Alberta.
A CNOOC prometeu estabelecer seu escritório da América do Norte e Central em Calgary, para listar suas ações na Bolsa de Toronto e manter a equipe de gestão atual e força de trabalho da Nexen.
O MarketWatch comentou que a situação é “embaraçosa porque o Canadá prefere ver a China como um grande mercado para seu excesso de petróleo, enquanto a China claramente quer ser mais do que apenas um comprador de petróleo. Ela também quer ter a propriedade dos campos de petróleo.”
Richard Dixon, o diretor-executivo do Centro de Investigação Aplicada em Negócios de Energia e Meio Ambiente da Universidade de Alberta, disse que o maior impacto da transação será a discussão que se desencadeará sobre a propriedade das areias betuminosas.
Ele disse que acredita que este é apenas o começo de aquisições chinesas, pois o Canadá é “um dos lugares mais seguros para investir em petróleo”.
Dixon citou uma estatística da Agência Internacional de Energia que 75% do petróleo do mundo está nas mãos de empresas estatais, com a metade restante dos 25% em Alberta.
A aprovação do governo federal “virá, mas provavelmente haverá condições”, observou Dixon.
Partidos da oposição pedem diligência
Tanto o Novo Partido Democrático (NDP) e a líder do Partido Verde, Elizabeth May, estão pedindo uma revisão completa da transação, incluindo uma revisão e clarificação da Lei de Investimento do Canadá.
“Gostaríamos de ter um processo de revisão mais transparente para que possamos saber mais sobre o futuro dos empregos e empresas canadenses”, disse Hélène LeBlanc, uma analista da indústria do NDP.
Ela disse que empresas estatais estrangeiras como a CNOOC estão “comprando recursos naturais ou outros tipos de indústrias” a fim de perseguir seus próprios interesses enquanto o governo conservador não faz nada.
O NDP não apenas quer um desenvolvimento sustentável dos recursos naturais, mas também empregos sustentáveis que constroem comunidades, disse ela.
LeBlanc esperava por um processo de revisão que “colocará as condições que devem ser respeitadas no futuro” a respeito do emprego canadense. Ela observou que não há maneira de saber se a CNOOC está empenhada em manter os atuais funcionários da Nexen em longo prazo ou se é apenas uma estratégia em curto prazo.
Peter Julian, um analista de energia e recursos naturais do NDP disse em comunicado que “muitas vezes temos visto garantias de emprego anteriores de empresas estrangeiras falharem, sem qualquer consequência dos conservadores.”
Elizabeth May, a líder do Partido Verde, também expressou preocupações, “Nós simplesmente não podemos permitir que os recursos energéticos estratégicos desapareçam do controle canadense em tal ritmo e nível sem supervisão real”, disse ela num comunicado.
“O investimento chinês nas areias de petróleo do Canadá não é tanto sobre a abertura de novos mercados na China para produtos canadenses tanto quanto se trata de nossos recursos valiosos serem nacionalizados por Pequim.”
Elizabeth May observou uma pesquisa da Harris-Decima que mostrou que apenas 10% dos canadenses se sentem positivos sobre empresas chinesas adquirirem “participação majoritária do controle” de empresas canadenses. Segundo a pesquisa, 71% dos canadenses acham o controle chinês “uma coisa ruim”, enquanto 13% são indiferentes.
O NDP e o Partido Verde também estão preocupados com o meio ambiente. O NDP apontou a falta de promessas ambientais concretas da CNOOC, enquanto May acrescentou que a ânsia do primeiro-ministro por incentivar o investimento chinês já levou à “evisceração das leis ambientais no projeto de lei C-38”.
Com arquivos de Joan Delaney.