Normalmente, o Fundo Monetário Internacional entusiasma-se apenas quando se trata de prevenir que a Argentina ou a Grécia deixem de pagar a dívida. Depois de cinco anos de hibernação, uma área mais obscura da instituição financeira pode vir a esclarecer outro mistério: as reservas de ouro da China.
Dada a sua usual tendência para a falta de transparência, os chineses não atualizaram oficialmente a sua reserva de ouro desde 2009, quando a mesma marcava 1,054 toneladas métricas, bem abaixo dos Estados Unidos, do próprio FMI e de nações europeias como a Alemanha, França e Itália.
As reservas de ouro chinesas podem ter um grande peso frente ao comércio internacional. Diante da falta de credibilidade de Pequim no cenário internacional das finanças, o regime acredita que uma grande reserva de ouro poderia compensar isso. Pensam também que podem melhorar a posição do yuan enquanto moeda de reserva e de uso corrente nas transações comerciais entre os países. O ouro também ajuda a China e diversificar as suas reservas de dólar americano e a diminuir a sua dependência dos Estados Unidos.
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Devido ao ouro sempre ter sido usado como dinheiro mundialmente, é um bem mais respeitado que o dólar ou o yuan. Também parece que Pequim acredita na versão satírica da Regra de Ouro: “Quem tem o ouro, faz as regras”.
Dados de mercado indicam que Pequim tem acumulado ouro em um ritmo mais acelerado desde 2009, com estimativas que variam entre 3 mil e 10 mil toneladas. Ainda que Pequim esteja longe de ditar as regras no mundo da finança global, um aumento das reservas de ouro irá ajudar a China a ganhar mais influência junto ao FMI.
O FMI está realizando uma revisão técnica da sua moeda de reserva, que denominado este ano como “Special Drawing Right” (Direito Especial de Saque – SDR, sigla em inglês). Até agora, apenas o dólar, o euro, o yen e a libra fizeram parte do SDR. Entretanto, este ano, Pequim indicou que pretende incluir o yuan no SDR. Se isso acontecer, poderemos testemunhar um aumento nos direitos de voto da China e, subsequentemente, de sua influência no palco internacional. Até agora, a China tem acesso a apenas 3.81% de voto no FMI. Em comparação, os Estados Unidos possuem 16.75%.
Se a China realmente for em frente com a candidatura oficial, terá de publicar as suas reservas oficiais de ouro, que de momento correspondem a uns escassos 1.1% do total de moeda estrangeira de reserva.
Para o ouro, este fato pode significar um aumento mútuo da confiança. O preço do metal amarelo tem baixado continuamente, e o sinal de que um grande comprador vai entrar no mercado deverá dar confiança a negociantes e investidores.
Se a China desejar possuir uma percentagem de ouro em reserva semelhante à Alemanha ou aos Estados Unidos (cerca de 70% do total das reservas), terá de comprar outras 79 mil toneladas a preços correntes.