Como não se tornar um espião

24/04/2014 11:49 Atualizado: 24/04/2014 11:52

Glenn Shriver entrou em pânico. Ele estava na sede da CIA para uma entrevista de emprego em maio de 2010. Ele estava sentado numa cadeira passando por um detector de mentiras. As perguntas eram simples: Alguma vez você já se reuniu com um representante do regime chinês? Deram-lhe dinheiro?

Shriver mentiu. Então ele fez uma pausa, se voltou para a pessoa que conduzia a entrevista e disse que não estava mais interessado no trabalho. Em seguida, ele pegou o primeiro avião para a China e foi preso no embarque do voo.

A história de Glenn Duffie Shriver é agora usada pelo FBI para educar as pessoas sobre como não ser recrutado como espião quando viajando no estrangeiro.

O FBI costumava apresentar em universidades ou palestras um vídeo reencenando a história de Shriver. Esse vídeo, “Jogo de Peões”, já está disponível (ver abaixo) para que todos possam assistir no canal do FBI no YouTube. O FBI acompanhou o lançamento com uma nova informação pública sobre como agências de espionagem estrangeiras visam estudantes que estudam no exterior.

“Eu acho que é muito louvável. Estou satisfeito que o FBI tenha feito isso”, disse Edward T. Timperlake, ex-funcionário do Departamento de Defesa para o Comitê Executivo Nacional de Contrainteligência, em entrevista por telefone. “O jovem explicou muito bem: Você tem uma vida protegida na sociedade americana. Você pode ter sucesso sendo brilhante e qualificado, e nunca ver as má-intenções e malícia de um governo estrangeiro dirigidas a você, para explorá-lo como um ser humano para sua agenda política. É um despertar.”

Mais de 280 mil alunos americanos estudaram no exterior no ano passado, diz o website do FBI, e esses alunos muitas vezes estão desenvolvendo habilidades que indústrias privadas dos EUA e contratados do governo está interessados. O interesse do governo e de corporações nesses estudantes os torna alvos de agentes de inteligência estrangeiros que procuram candidatos que possam se transformar em fontes de informação em indústrias específicas ou agências governamentais.

Segundo o website do FBI, a agência “aumentou os esforços para educar estudantes universitários norte-americanos que se preparam para estudar no exterior sobre os perigos de se envolver consciente e/ou inconscientemente em atividades de espionagem.”

Além deste novo esforço, eles lançaram um vídeo recontando a história de Shriver (ver abaixo) e observam: “Gostaríamos que estudantes americanos que viajam para o exterior vissem este vídeo antes de deixar os EUA, pois assim eles serão capazes de reconhecer quando são visados e/ou recrutados.” Shriver se declarou culpado em 22 de outubro de 2010, por conspirar para fornecer informações de defesa nacional aos espiões do regime chinês. O jovem de 28 anos foi mais tarde condenado a quatro anos numa prisão federal.

Shriver estudou no estrangeiro em Shanghai em 2004, quando começou a se reunir com três pessoas que afirmavam ser do governo chinês. Elas o elogiaram. Deram-lhe mais de US$ 70 mil em três pagamentos separados e disseram que queriam ajudá-lo em seus estudos.

Então, elas lhe instruíram que se candidatasse a um emprego na CIA, o que resultou em sua prisão. Foi descoberto que os “novos amigos” de Shriver eram agentes de inteligência do Partido Comunista Chinês. Se Shriver saísse da linha, eles estavam preparados para chantageá-lo.

O vídeo do FBI termina com uma gravação do verdadeiro Shriver na prisão. “Dizem que todos têm seu preço”, diz ele para a câmera. “Quando lhe é dito que você não tem de fazer nada a respeito e lhe dizem: ‘Apenas queremos ser seus amigos. Aqui estão US$ 10 mil. Não é nada demais.’ É difícil dizer não.”

Timperlake, o ex-funcionário de contraespionagem da Defesa, disse que a ameaça da atividade de espionagem chinesa é “significativa” para os Estados Unidos, em parte por causa da natureza da espionagem chinesa. “Não é a velha Guerra Fria. É nebuloso e abrangente. É onipresente, e eles simplesmente continuam fazendo isso.”

A América é uma “sociedade muito confiante”, disse Timperlake. “Temos isso em nosso DNA, como uma sociedade aberta e livre, pensando o melhor das pessoas. A educação é o caminho para inocular as pessoas contra a ameaça.” A mensagem final é simples: não se torne um peão de um regime estrangeiro no jogo de espionagem global.