Como ler a mídia do Partido Comunista Chinês

18/09/2013 15:55 Atualizado: 18/09/2013 15:55
Jornalistas chineses cobrem uma comitiva de imprensa da Conferência Consultiva Política Popular no Grande Salão do Povo em Pequim (Mark Ralston/AFP/Getty Images)
Jornalistas chineses cobrem uma comitiva de imprensa da Conferência Consultiva Política Popular no Grande Salão do Povo em Pequim (Mark Ralston/AFP/Getty Images)

He Qinglian, uma especialista norte-americana sobre a China, está sempre investigando, especialmente o tema da mídia chinesa. Ela trabalhou por oito anos na China como jornalista e escreveu um livro sobre o controle no regime comunista sobre os meios de comunicação (publicado em 2008 em inglês como “The Fog of Censorship”), bem como inúmeros artigos sobre o tema da mídia na China. Aqui estão algumas preciosidades extraídas dos escritos da Sra. He.

Dois pontos fundamentais delineados pela Sra. He ajudarão a entender como ler a mídia do Partido Comunista Chinês (PCC).

Em primeiro lugar, para qualquer coisa que possa ser considerada “má notícia”, como desastres, histórias que envolvam a segurança pública ou corrupção, a realidade é geralmente muito pior do que o que é relatado. A regra do PCC é contar apenas a notícia de forma que sempre soe bem.

Por exemplo, sempre que houver um desastre ou incidente grave, o PCC controla rigorosamente a situação real, reduzindo o número de mortos e minimizando os relatórios de danos, a fim de demonstrar que o PCC está diligentemente cuidando das pessoas.

Em segundo lugar, a notícia é sempre relatada do ponto de vista do PCC. Por exemplo, quando a notícia é sobre um elevado número de trabalhadores sendo demitidos, o problema é relatado como se o PCC estivesse preocupado com a grave situação do desemprego.

Ou quando um líder local fala sobre os problemas dos agricultores, a história não se concentra na questão substantiva. Pelo contrário, a história privilegiará a promoção do oficial local que ficou assoberbado pela dimensão do problema e foi forçado a prestar atenção no assunto.

Mesmo quando a corrupção de um alto oficial do PCC é revelada, a história é sobre o sucesso do PCC em reprimir a corrupção, em vez de como lidar com a causa fundamental do problema.

Controle do PCC

De acordo com He Qinglian, o controle do PCC sobre a mídia é “sistematizado” por meio das leis, regulamentos e documentos estatutários. No controle dos meios de comunicação, o poder do Departamento de Propaganda do PCC supera o da Administração Estatal de Imprensa e Publicação, diz a especialista.

O PCC lida com questões políticas como se fossem questões apolíticas. Nenhum documento é emitido, em vez disso, as comunicações são feitas por meio de ligações telefônicas ou reuniões internas. O conteúdo das reuniões nunca é escrito, registrado ou exposto.

Quando se trata de relatos da mídia, diz He Qinglian, a mídia estatal não ficará em silêncio sobre certas questões como fazia antes. Em vez disso, eles confundirão o público intencionalmente por meio da publicação de “algumas mentiras misturadas com fatos parciais”. Esse tipo de propaganda emaranhada com fatos parciais é de fato mais interessante do que a pura mentira.

A “China” construída pelos meios de comunicação afiliados ao PCC está muito longe da China percebida pelos moradores rurais ou de cidades de médio porte, diz a Sra. He. A “China” exposta para a comunidade internacional é propositalmente moldada na mídia pelo regime comunista.

As agências de inteligência do PCC na Secretaria de Segurança Pública monitoram a internet e seguem as ordens de alguns departamentos de segurança do Estado para prender os que são acusados de ameaçar a segurança do Estado por espalhar boatos prejudiciais.

Com a popularização da internet, o PCC tem desenvolvido os maiores firewalls do mundo, como o extraordinariamente caro “Projeto Escudo Dourado”, que tem como objetivo monitorar o comportamento do público.

Porque o PCC usa a propaganda e a censura para controlar as opiniões e os pensamentos das pessoas, o povo chinês tem conceitos completamente diferentes dos valores universais, como direitos humanos, liberdade e democracia, diz a Sra. He.

Por exemplo, muitos estudantes chineses no estrangeiro, especialmente aqueles nascidos depois de 1989, adotam atitudes céticas em relação à descrição ocidental dos acontecimentos históricos na China, como a Guerra da Coreia, o massacre da Praça da Paz Celestial, a Revolução Cultural, a relação entre a China e o Ocidente e a história do PCC.