Como o Falun Gong começou a mudar a China em 25 de abril de 1999

26/04/2010 00:00 Atualizado: 04/09/2013 15:35
Praticantes do Falun Gong se reúnem ao redor de Zhongnanhai para apelar silenciosa e pacificamente por um acordo justo em 25 de abril de 1999 (Clearwisdom.net)
Praticantes do Falun Gong se reúnem ao redor de Zhongnanhai para apelar silenciosa e pacificamente por um acordo justo em 25 de abril de 1999 (Clearwisdom.net)

Quando dezenas de milhares de praticantes do Falun Gong se reuniram pacificamente em 25 de abril de 1999 em Pequim para pedir ao governo do Partido Comunista Chinês (PCCh) parar de assediar o Falun Gong injustamente, eles deram o primeiro passo no que seria o maior movimento de desobediência civil na China moderna. Os praticantes também começaram a mudar a forma como a sociedade chinesa se relaciona com o governo do PCCh, segundo afirmam os principais dissidentes chineses.

Estes dissidentes dizem que através do poder do exemplo de desobediência civil dramaticamente demonstrado em 25 de abril e, posteriormente, empregado diariamente após o início da perseguição em 20 de julho de 1999, os praticantes do Falun Gong demonstraram aos dissidentes como se opor ao regime chinês, enquanto os inspiravam, dando-lhes esperança e apoio.

O Sr. Zhong Weiguang é um especialista em totalitarismo que reside agora na Alemanha. Ele conta que após a apelação pacífica de 25 de abril, “Eu comecei a pensar sobre quão aterradora é a sociedade chinesa. O Partido Comunista Chinês, como todos os partidos comunistas, utiliza a mentira e o terror para governar o país.”

Sem ser praticante do Falun Gong, o Sr. Zhong desenvolveu grande admiração pelo efeito que os praticantes desta disciplina estão tendo na China; uma admiração que começou a partir dos acontecimentos de 25 de abril de 1999. Onze anos mais tarde, o Sr. Zhong disse ter-se dado conta que o significado desta apelação “é muito mais profundo” do que acreditou inicialmente. “Entre os movimentos dissidentes chineses nunca houve um como este”, diz ele.

O Sr. Gui Guoting, um advogado chinês de direitos humanos exilado, e que agora vive no Canadá, tampouco é praticante do Falun Gong. Como o Sr. Zhong, ele vê o Falun Gong como algo único na sociedade chinesa. “Sob o totalmente violento e totalitário Partido Comunista Chinês, houve onda após onda de violenta perseguição e ataque, mas nunca houve uma organização ou grupo que abertamente se levantou e protegeu seus direitos legais”, afirmou ele.

Segundo o Sr. Guo: “O significado do 25 de abril é justamente o espírito da desobediência civil.” Ele comenta que desde que o partido comunista tomou o poder em 1949 (e inclusive antes), o PCCh realizou campanhas políticas mediante a propaganda, a reforma do pensamento, a engenharia linguística, a pressão social, a violência e o puro terror; um segmento da população é rotulado e marcado pelo partido e o resto da população deve supostamente “lutar” contra eles.

O mesmo modelo, disse Guo, foi utilizado para estigmatizar, atacar e tentar quebrar o Falun Gong.

De acordo com o Sr. Guo, anteriormente, nenhum dos grupos ou profissões atacados desta maneira se atreveu ou soube como defender seus direitos. “Assim, quando o Falun Gong começou a fazer isto, cada chinês foi pego de surpresa”, comenta ele. “A perseverança em não se deixar intimidar pelo PCCh é, em parte, o que faz os esforços do Falun Gong serem tão incomuns”, opinou ele.

“O outro ponto é que não foi uma resistência impulsiva que termina logo. Foi um processo contínuo, um processo extraordinariamente tenaz de proteção dos seus direitos e crenças, uma amostra de persistência e intrepidez.”

Praticantes do Falun Gong reunidos no extremo norte do completo de Zhongnanhai próximo ao lago Beihai (Clearwisdom.net)
Praticantes do Falun Gong reunidos no extremo norte do completo de Zhongnanhai próximo ao lago Beihai (Clearwisdom.net)

Um marco

Segundo o Sr. Zhong, os métodos pacíficos e racionais utilizados em 25 de abril deram aos ativistas chineses um grande modelo a seguir, que é tanto um marco quanto uma inspiração.

O Sr. Zhong disse que os praticantes do Falun Gong contribuíram fazendo o possível para que os dissidentes chineses fossem escutados. Segundo ele, os praticantes do Falun Gong deram aos dissidentes chineses uma plataforma da qual podem projetar suas próprias vozes mediante o estabelecimento de companhias de meios de comunicação independentes.

Além disso, o exemplo do Falun Gong pode ajudar os ativistas pela democracia a compreenderem melhor seu próprio movimento.

Segundo o Sr. Zhong, “devido a nossa própria desordem e conflitos internos, e nossa incapacidade de trabalhar duro em longo prazo até um objetivo, o movimento pela democracia no estrangeiro se moveu pouco a pouco até o ponto da ineficiência.”

O exemplo do trabalho persistente dos praticantes do Falun Gong para defender seus direitos serviu de espelho ao movimento democrático chinês para que possa examinar seu comportamento com maior clareza, opinou o Sr. Zhong.

Praticantes do Falun Gong próximos a Zhongnanhai em 25 de abril de 1999 (Clearwisdom.net)
Praticantes do Falun Gong próximos a Zhongnanhai em 25 de abril de 1999 (Clearwisdom.net)

Movimento em defesa dos direitos

Durante os últimos anos, se desenvolveu na China um movimento em defesa dos direitos. Incluindo os protestos dos camponeses cujas terras foram expropriadas, os trabalhadores despedidos e as pessoas cujas casas foram arrebatadas. Também inclui advogados de direitos humanos que tentaram criar o Estado de Direito na China exigindo na corte que o PCCh obedeça a Constituição e as leis da China.

“De muitos ângulos, pode-se dizer que se não houvesse existido a resistência dos praticantes do Falun Gong, hoje, não haveria tantos chineses defendendo seus direitos e não existiria este movimento em defesa dos direitos”, disse o Sr. Zhong.

O Sr. Guo disse que assim como Martin Luther King e Gandhi promoveram a resistência não violenta, “Na China, este movimento de desobediência civil não violenta é, precisamente, o Falun Gong. E esta desobediência começou justo em 25 de abril. Creio que foi dado a todos os setores da sociedade chinesa um caminho sumamente significativo e eficaz: um protesto e uma apelação pacífica; uma não cooperação pacífica.”

O Sr. Guo vê no caminho da desobediência civil aberta dos praticantes do Falun Gong a esperança para o futuro da China. “Este movimento, eu penso, este tipo de coisas, é o que finalmente pode pôr fim ao violento governo do PCCh. E isto pode evitar que toda a sociedade caia no caos ou desça à barbaridade, à violência ou ao massacre, ou que ‘o sangue corra como rios’”.

Praticantes do Falun Gong se reúnem em 25 de abril de 1999 ao redor de Zhongnanhai para apelar silenciosa e pacificamente por um acordo justo (Clearwisdom.net)
Praticantes do Falun Gong se reúnem em 25 de abril de 1999 ao redor de Zhongnanhai para apelar silenciosa e pacificamente por um acordo justo (Clearwisdom.net)

O significado moral e cultural

O modelo estabelecido pelos praticantes do Falun Gong vai além de um exemplo de ação social eficaz sobre questões do espírito humano e da cultura da China.

“Antes que começasse a desobediência civil do Falun Gong, como um intelectual chinês, eu sentia que estávamos muito sós”, disse o Sr. Zhong. “Em termos da cultura comunista, tudo referente ao PCCh, a forma de vida que nos impôs, eu não posso aceitar isto. E se alguém não aceita isto na sociedade chinesa, fica muito só.”

“Mas depois que apareceram os praticantes do Falun Gong, devido a suas crenças se desviarem naturalmente do PCCh, eles levavam consigo um novo tipo de cultura; e devido a sua integridade e significado interno, dei enorme apoio ao movimento dissidente”, diz o Sr. Zhong.

“Cada pessoa chinesa, todos sabem que a vida cotidiana na sociedade chinesa, nas relações entre as pessoas, a ética e os costumes das pessoas, a moral da sociedade, e a ética dos que vão para o estrangeiro, tudo isto já está podre”, continuou dizendo.

“A questão do governo do PCCh não se restringe somente ao seu governo, mas ao fato de que isto fez que cada chinês não só se acostumasse à mentira, como também os fizesse coparticipantes das mentiras. Assim, vemos que na existência do Falun Gong na sociedade chinesa há honestidade e retidão. Que há pessoas que seguem os valores éticos tradicionais e que vivem suas vidas desta maneira”, afirma ele.

O advogado chinês de direitos humanos Gao Zhisheng disse em uma carta aberta em dezembro de 2005 ao líder supremo da China, Hu Jintao, e ao ministro de Estado, Wen Jiabao: “Em contraste à situação atual onde a humanidade, a consciência, a moralidade, a compaixão e a responsabilidade de nossa sociedade estão sofrendo uma deterioração geral, estes cultivadores [do Falun Gong], como um grupo renascido da antiga nação, influenciou em todas as áreas de forma positiva. Pode-se sentir a poderosa forma na que a fé pode mudar nossa alma. De fato, isto me permitiu ver uma faísca de esperança para resgatar a nossa nação de seu depravado estado atual.”