Alguns dias atrás, foi divulgado um vídeo do economista Jonathan Gruber no qual ele chama o povo americano de “estúpido” e fala, comemorando, que o sistema político do país não era transparente. Até aí, só a opinião de um economista. Só que Gruber não era um qualquer. Ele foi um dos arquitetos do Affordable Care Act, apelidado de Obamacare, a lei que mudou por completo o sistema de saúde americano. No contexto do vídeo, Gruber disse que a lei só foi aprovada porque o sistema político não possuía transparência e porque o povo americano não tinha conhecimento sobre as minúcias da economia.
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Os canais de notícias a cabo (Fox News, CNN e MSNBC) cobriram, cada um com uma intensidade, essa revelação. Prontamente, Gruber se desculpou:
“Eu falei de maneira inapropriada, e me arrependo de ter feito aqueles comentários.”
Quando tudo parecia ter se acalmado, novos vídeos apareceram. Neles, Gruber repete que a lei só passou porque enganou o povo americano e pelo projeto ter sido escrito de maneira confusa de propósito.
A líder do Partido Democrata na câmara, Nancy Pelosi, disse: “Eu não o conheço, ele não nos ajudou a escrever o projeto”. Outros do partido de Obama disseram que ele tinha uma importância pequena, que foi apenas um consultor qualquer. Mas, óbvio, ele não era um qualquer. Foi um dos grandes nomes por trás da alteração do sistema de saúde e participou de reuniões na Casa Branca, incluindo uma com o presidente Obama.
Já existe vídeo compilando os absurdos falados por Gruber e os comentários dos democratas: antes, dizendo que ele era um grande economista e que participava do Obamacare, e, agora, que ele é um zé ninguém. Mais um escândalo que ocorre na administração que tenta, ininterruptamente, “mudar a essência dos EUA”.
A CNN e a MSNBC cobriram esse tema discretamente. Já a Fox News deu a real importância para o caso. A cobertura das outras não chega a 10% da feita pela Fox.
Mas muito pior que isso é a cobertura dos canais abertos: ela não existe. Dias e dias sem repercussão nos canais abertos. O site NewsBuster está acompanhando a cobertura nesses canais (ABC, CBS, NBC). Até mesmo um apresentador da CNN reconheceu o problema. E como foi dito em um dos programas da Fox News:
“Se você depender apenas da grande mídia, teria dificuldades em ouvir falar sobre a polêmica envolvendo um dos arquitetos da lei [Obamacare]. Por dias, ABC, CBS e NBC ignoraram a história.”
Mas, se a mídia não dá atenção para os vídeos, como eles foram levados a público?
Foi um cidadão comum, Rich Weinstein, um consultor financeiro da Filadélfia quem achou as falas de Gruber. Após achar o vídeo em que o economista admite a estratégia mentirosa para aprovar o Obamacare, Rich entrou em contato com vários veículos midiáticos (Fox News, Glenn Beck, Forbes, etc), mas nenhum se interessou pela história. Então, Rich postou o vídeo no Youtube e compartilhou-o em um comentário no Washington Post, onde um ativista conservador teve conhecimento da história e a divulgou para a mídia.
E no Brasil? Algum jornal ou revista comentou sobre o assunto?
Óbvio que não. Nada no Estadão, nada em O Globo e muito menos na Folha. Mas, nesses casos, é compreensível. A ignorância da cobertura brasileira sobre política americana é cavalar. Existiu alguma eleição americana em que a mídia brasileira não tratou o candidato democrata como a re-encarnação de Jesus e o candidato republicano como o diabo em forma humana?
Inclusive, sobre o Obamacare, a Folha teve publicada uma coluna de Paul Krugman de 2012 com o título “Viva a reforma da saúde” em que ele cita Gruber com a devida importância que os democratas davam a ele antes das revelações recentes. Em uma reportagem da Folha, o jornalista Raul Juste Lores, enviado especial a Boston, disse sobre as críticas e toda polêmica envolvendo a aprovação da lei que o “Sistema de saúde é vítima do sistema partidário“. Nesta reportagem o “economista que desenhou o novo plano de saúde nacional” é entrevistado. Quem? Jonathan Gruber.
O primeiro brasileiro que deu destaque sobre o assunto foi Alexandre Borges, colunista do portal Reaçonaria. No texto, ele fala:
É esse tipo de gente que o povo americano está começando a entender quem é. Credenciais intelectuais e acadêmicas não tem nada a ver com moralidade e a política, antes de ser uma escolha entre brilhantes e ignorantes, começa com a separação entre decentes e indecentes.
Quem acompanha política americana pela mídia brasileira está condenado a ouvir apenas a pregação esquerdista, clara ou disfarçada. O americano que só acompanha as notícias pelos canais abertos ficará na mão de jornalistas democratas que se escondem sob o mito da imparcialidade (destaque para o ex-funcionário da administração Clinton, George Stephanopoulos).
Cada vez mais, pessoas fora da mídia quebram a falsa isenção dos jornalistas com opiniões, descobertas, investigações e críticas. O jornalismo perderá a ilusão de que é um fenômeno que não é influenciado pelo habitat. E, assim, chegará ao ponto de maior honestidade e imparcialidade real, quando os lados forem evidentes.