Como censores da internet tornam as mensagens virais na China

09/12/2013 13:16 Atualizado: 09/12/2013 13:16

Uma postagem online cheia de apelos ao patriotismo e que aconselhava o povo chinês a ficar alerta sobre os “poderes ocidentais anti-China” se tornou viral, ou seja, tornou-se popular muito rápido, na internet chinesa recentemente.

A mensagem, intitulada “Você não é ninguém sem a pátria”, se tornou viral num momento em que a China está envolvida em disputas territoriais, especialmente no Mar do Leste da China, onde ao regime chinês estabeleceu uma zona de defesa aérea sobre águas internacionais no dia 23 de novembro. A mensagem descreve os EUA como um “iniciador de conspirações” que tenta derrubar o regime chinês e convida o povo chinês a apoiar as políticas do regime comunista e a defender o novo líder chinês Xi Jinping.

Várias mídias chinesas publicaram comentários sobre a mensagem, incluindo o Diário do Exército da Libertação Popular (ELP) e o Diário Guangming, alimentando sua popularidade nas discussões online.

Internautas chineses ridicularizaram em massa a postagem. Um zombou o título, dizendo: “Escravos não têm pátria.” Outro questionou a legitimidade do regime chinês, dizendo: “Por que eles não dizem que, depois do caos, ela [a China] seria como Taiwan.” – Taiwan tem um governo democrático, sem a repressão política ou o complexo de patologias que afligem a China continental.

A mídia estatal chinesa Xinhua não se intimidou e elogiou o artigo por “ganhar o apoio e a simpatia dos internautas”. Num país onde a internet é fortemente censurada e a mídia é estatal, o efeito “viral” podem não ser o que parece.

A mídia chinesa recebe diretivas sobre o que cobrir, como fazê-lo e o que não deve ser abordado. Essas diretivas foram vazadas ao público depois que um carro colidiu com uma multidão de pessoas e depois pegou fogo na Praça da Paz Celestial no dia 28 de outubro. A orientação dizia à mídia chinesa para “minimizar a história; não especular a respeito… e fortalecer a vigilância nos blogues do Weibo de todas as mídias e do pessoal da mídia”.

Discussões online também são controladas por meio de diretivas para celebridades e outras pessoas influentes na sociedade chinesa.

Em março, as autoridades tentaram promover uma campanha utilizando-se de celebridades na blogosfera chinesa do Sina Weibo para atacar a Apple e a Volkswagen. Mas a campanha saiu pela culatra quando Peter Ho, uma estrela de cinema de Hong Kong, escreveu: “É inacreditável que a Apple esteja dando tantos golpes baixos no atendimento ao cliente”, e acidentalmente postou a mensagem junto com a diretiva: “Precisa ser postada às 20h20.”

Há também o “Exército dos 50 Centavos”, que são comentaristas da internet chinesa contratados pelo Partido Comunista Chinês (PCC) para moldar discussões online. Eles espalham propaganda do regime, enquanto atacam os que se opõem a ela. Seu nome é baseado em sua renda. Eles recebem 50 centavos de yuan por cada postagem.

Uma internet diferente

No Ocidente, o conteúdo normalmente se torna viral de duas maneiras. Ele pode receber muitas visualizações por meio de mídias sociais e as pessoas o compartilharão amplamente. A cobertura da mídia também pode fazer o conteúdo se tornar viral. Quanto mais a mídia cobre o assunto, mais pessoas o discutem em mídias sociais.

O processo do conteúdo se tornar viral na China é totalmente diferente. O conteúdo visado pode se tornar viral se o Partido Comunista assim ordenar as mídias, pagar celebridades e pagar comentadores para promovê-lo. Por outro lado, conteúdo indesejável pode ser impedido de se propagar por censores chineses e pela autocensura dos internautas chineses devido a um ambiente de medo.

No entanto, embora a internet seja fortemente censurada, ela ainda oferece aos blogueiros chineses a chance de compartilhar informações paralelamente as linhas estabelecidas pelos censores do regime. “Não é inteiramente preto e branco”, disse Sarah Cook, analista-sênior de pesquisa para a Ásia Oriental da Freedom House, em entrevista por telefone.

“A maneira como as pessoas usam a internet é muito diferente”, disse Cook, referindo-se a China. “Há um grande número de pessoas que usam os blogues para substituir a mídia, porque não confiam na grande mídia. Tem-se então esse efeito em que as pessoas são muito mais ativas nessas plataformas de redes sociais do que em sociedades abertas”, disse ela.

Há mais de 500 milhões de internautas chineses. Entre 200 e 300 milhões desses internautas são também blogueiros e este exército de comentadores muitas vezes pode manter viva a discussão sobre temas que não estariam disponíveis de outra forma no ambiente de estrita censura da China.

Cook referiu-se a uma carta de 2 de dezembro escrita por Wang Qinglei, um ex-produtor da emissora estatal China Central de Televisão (CCTV). A carta critica a estrita censura da mídia na China, afirmando: “As vozes que esperamos apresentar e as atitudes que esperamos expressar foram silenciadas repetidamente.”

A carta de Wang foi rapidamente eliminada pelos censores estatais, mas os blogueiros chineses a mantiveram viva republicando-a sucessivamente. A carta acabou sendo abordada pela mídia ocidental.

A definição de se tornar viral é muito diferente na China. Nos países ocidentais, o conteúdo que recebe 30 mil visualizações online pode ser considerado viral. Na China – devido ao grande número de blogueiros e à utilização dos blogues pela sociedade como fonte de informação sem censura – 30 mil visualizações pode não ser muito.

As autoridades chinesas estão plenamente cientes de como um blogue pode decolar. Uma nova lei para impedir a “difusão de rumores” pode condenar blogueiros a três anos de prisão se uma postagem que as autoridades não gostem for compartilhada 500 vezes ou mais, ou for visualizada por pelo menos 5 mil pessoas.

Cook disse que a nova lei “tem um efeito muito assustador” e isso tem afetado que notícias se propagam. “As pessoas com muitos seguidores têm medo de republicar coisas que possam ser sensíveis”, disse ela, e isso fortalece a capacidade do regime de controlar que notícia pode se tornar popular.