Como a ‘democracia’ comunista chinesa realmente se parece

12/11/2012 09:00 Atualizado: 11/11/2012 22:02
Censores políticos, estudo ideológico forçado, espionagem e vigilância severa
O líder chinês Hu Jintao durante a sessão de abertura do 18º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês no Grande Salão do Povo em Pequim em 8 de novembro. (Feng Li/Getty Images)

A ideia de que um regime comunista tenha qualquer tipo de processo democrático interno parece, à primeira vista, bastante contraditório. Mas um tipo peculiar de votação ocorre nos congressos do regime chinês, embora seja bem diferente do que os ocidentais em geral tenham ouvido falar.

Essas votações envolvem monitores políticos, estudo ideológico forçado, espionagem, cotas de voto cuidadosamente alocadas e vigilância acirrada regularmente comunicada a superiores.

Cheng Xiaonong conhece isso bem: ele foi encarregado de supervisionar uma delegação da província de Hubei em 1987 para o 13º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (PCC). Cheng Xiaonong é um economista que agora vive nos Estados Unidos e no passado foi assessor de Zhao Ziyang. Em 1987, Deng Xiaoping ia se aposentar (no papel, pelo menos) do cargo supremo do PCC e Zhao Ziyang foi feito secretário-geral do PCC.

“Eu fiquei no hotel junto com a delegação. Jantamos juntos e eu me juntei a suas discussões diariamente. Meu trabalho era apenas ouvir. Eu não tinha que falar, mas tinha que me lembrar de cada rosto e do histórico de cada pessoa”, disse Cheng Xiaonong numa entrevista recente. “Se alguém dissesse algo que o PCC não gostasse, isso deveria ser comunicado ao topo.”

Todas as noites, às 23h, um carro ia ao hotel para receber o relatório escrito de Cheng Xiaonong. Este seria levado ao Grande Salão do Povo, processado e compilado num relatório maior. Os relatórios eram impressos às 5h da manhã e entregues nas mesas dos vinte e poucos membros do Politburo antes das 7h.

“Deng Rong, a filha de Deng Xiaoping, explicou isso para nós”, disse ele. Cheng Xiaonong tinha sido transferido do departamento de pesquisa econômica do Congresso Nacional Popular, a Assembleia Legislativa do PCC.

Havia cerca de 30 outras delegações como a que Cheng Xiaonong monitorava, uma para cada província chinesa. Há atualmente 40 delegações que são enviadas ao Congresso Nacional do PCC, que é realizado a cada cinco anos. Os delegados, em número de 2.268 (eram 2.270, mas dois faleceram), representariam os vários constituintes do PCC.

Cada delegação era atribuída um monitor político como ele, disse Cheng Xiaonong. As delegações se hospedavam num hotel isolado do mundo exterior. “Ninguém era autorizado a fazer visitas a amigos ou familiares. Dia e noite, todas as suas atividades eram monitoradas”, disse ele.

O congresso dura uma semana. Depois das reuniões políticas no Grande Salão do Povo, os delegados receberiam relatórios e documentos do PCC para estudar quando voltassem ao hotel. Como na China maoísta, eles estavam passando por doutrinação ideológica, estudando os mais recentes avanços dos teóricos do Partido Comunista. “Eles tinham de ler e expressar seu apoio”, disse Cheng Xiaonong. Um estudo político comunista clássico.

Junto com o trabalho ideológico, os delegados eram informados como votar, muitas vezes com grande especificidade. “As quotas eram distribuídas e as pessoas recebiam trabalhos diferentes. Você deve votar no Marechal A e outro grupo deve votar no Marechal B. Para cada delegação a quota de votos é muito clara.”

Cada delegação tinha um líder do PCC que era pessoalmente responsável por garantir que sua delegação satisfizesse suas tarefas de voto. Seu pescoço estava na reta se houvesse irregularidades políticas entre os delegados. E o PCC tinha muitas maneiras de pegá-los.

“Desde meados de 1980, equipamento de votação eletrônica foi instalado. A máquina de votar é também uma máquina de monitoramento”, disse Cheng Xiaonong. “Todos são designados a um assento para que a máquina em que você vote também monitore você e, se você pressionar o botão errado, você está em apuros.”

De acordo com um relatório elaborado pela empresa de consultoria Practel Inc., as medidas se tornam mais high-tech conforme o tempo passa. Um relatório diz, “Em maio de 2003, os delegados do Congresso do PCC eram obrigados a usar um crachá equipado com RFID [identificação por radiofrequência] o tempo todo para que seus movimentos pudessem ser monitorados e gravados.”

Não foi possível localizar outro monitor político que tenha realizado uma tarefa semelhante à de Cheng Xiaonong, mas relatos contemporâneos indicam que tais práticas continuam e tenham até mesmo se intensificado.

Um artigo recente de Willy Lam, um observador político de Pequim de longa data, observa um conjunto semelhante de restrições às descritas por Cheng Xiaonong. “Os delegados devem ler documentos do PCC e participar de reuniões nos limites de um hotel bem guardado, não podem encontrar a família e amigos ou até mesmo falar ao telefone por longos períodos de tempo para que não vazem segredos, segundo conversas que tive com delegados no passado.”

Há até mesmo guardas para monitorar os guardas. “Atrás de mim, no mesmo quarto de hotel, havia outra pessoa do Ministério da Segurança do Estado. Ele estava à paisana. Seu trabalho era me monitorar”, disse Cheng Xiaonong.

“Onde quer que eu fosse, ele estava atrás de mim. Seu trabalho era descobrir se eu escondi alguma informação que deveria ser relatada”, disse ele.

“Por exemplo, se dois delegados conversassem no banheiro e falassem mal de algum líder, eu deveria estar lá, ouvir e então voltar a meu quarto e tomar nota. Se eu não fizesse isso, então, ele me denunciaria.”

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