No dia 31 de agosto, a emissora de televisão oficial do Partido Comunista Chinês, a China Central Television (CCTV), anunciou que o regime havia detido ou punido 197 cidadãos e bloqueado 165 contas on-line, por terem “espalhado boatos” na Internet.
O jornalista da CCTV afirmou que os comentários se retratavam principalmente às recentes explosões em Tianjin que mataram centenas de pessoas, e sobre a contínua queda da bolsa chinesa, concluindo que serviram para “enfeitiçar as pessoas, mexendo com o sentimento público, criando pânico e enganando as massas, resultando em interferência grave da ordem do mercado financeiro e da ordem social”.
Contudo, uma análise feita Epoch Times em relação aos comentários salientados no relatório da CCTV, indica que eles não pedem uma revolução na China. Em vez disso, muitos expressam tristeza ou sarcasmo.
A repressão de cidadãos chineses por compartilharem seus pensamentos pessoais na mídia social chinesa, se dá em um contexto de um mercado de ações que vem decaindo desde julho, e uma explosão apocalíptica na cidade portuária de Tianjin em agosto, que matou pelo menos 158 pessoas e feriu centenas de outras pessoas.
A recente repressão antecede um grande desfile militar que será realizado hoje (3), para comemorar a vitória da China na Segunda Guerra Mundial. Este evento é amplamente considerado como um esforço do Partido Comunista Chinês para projetar o poderio da nação em relação ao mundo, e reforçar a sua imagem pública cada vez menos favorável.
Leia também:
• Idosa de 68 anos é presa na China devido à sua crença
• O que a desvalorização do yuan significa para o mundo
• Esgotada munição financeira, China usa táticas opressoras para tentar salvar mercado
Castigos servem de aviso
“Depois do acidente em Tianjin, muitos fizeram oferendas aos mortos, mas estes não podem voltar. Milhares de pessoas morreram, mas os meios de comunicação informaram que apenas algumas dezenas de mortes ocorreram”, escreveu o usuário “I Want to Cycle the Heart by Walking”, no site de microblogs chinês Sina Weibo.
O usuário da Sina Weibo, “Lgftom”, escreveu sobre o pânico no mercado de ações: “Uma força política pouco conhecida deve estar por trás da queda do mercado de ações; será que a elite, os ‘tigres’ corruptos que têm sido especialmente atacados na campanha anticorrupção, vão esperar sentados até que sejam eliminados? … Os cidadãos comuns se tornaram vítimas de lutas políticas.”
As autoridades não publicaram uma lista completa dos indivíduos que foram punidos por “espalhar boatos”, nem definiram o que exatamente eles querem dizer com o termo.
“Eu deduziria que a intenção do relatório da CCTV é alertar as pessoas para não discutir estes temas específicos usando suas próprias palavras ou quaisquer pontos de vista independentes da linha do Partido Comunista, pois não são bem-vindos quando se trata de assuntos potencialmente questionáveis”, escreveu Madeline Earp, pesquisadora da Freedom House, uma ONG que defende os direitos humanos.
“Uma das razões da censura na China ser tão eficaz é que é muito difícil prever qual conteúdo estará sujeito a punição”, continuou ela.
Muitos dos comentários descobertos pelo Epoch Times – que procurou em mensagens do Sina Weibo por palavras chave destacadas durante a transmissão da CCTV – nem sequer relatavam muita informação. Em vez disso, expressavam frustração com as convulsões do mercado de ações, ou angústia pela morte dos bombeiros durante o incêndio das explosões.
Alguns fizeram reivindicações e especulações sobre o número de mortos nas explosões de Tianjin, que na realidade, eram comentários esperados depois de uma catástrofe em larga escala em que a informação é escassa.
“Foi uma grande explosão, as pessoas que presenciaram disseram que havia cadáveres e partes de corpos mortos por todos os lados”, escreveu o usuário “Weibo Lu Xin Ou Ni”. “Os noticiários chineses estão realmente tentando suprimir o impacto deste incidente, recusando-se a relatar o número real de mortes. Se você quer saber o número real de vítimas, você deve assistir aos relatos da imprensa estrangeira. Notícias chinesas são simplesmente absurdas.”
Jornalistas perseguidos
Além de usuários de Internet, jornalistas profissionais também estavam entre os detidos.
Durante a mesma repressão, o jornalista Wang Xiaolu, da Caijing, também foi punido, supostamente por espalhar informações falsas sobre o mercado de ações da China. As autoridades consideraram seu artigo como um relatório fabricado. Wang disse que não deveria ter lançado seu artigo “em um momento tão sensível”, no dia 31 de agosto, quando sua confissão foi transmitida na CCTV.
Leia também:
• Ministro austríaco demonstra preocupação por direitos humanos na China
• Explosões na China podem ter ocorrido por negligência das normas de segurança
• Queda da Bolsa de Valores chinesa mostra que autoridades abandonaram mercado
Detido devido a um tópico na Internet
Uma das primeiras pessoas a ser punida por “espalhar informações falsas” sobre Tianjin foi Shen Liangqin. Ele estava fazendo compras de supermercado quando foi detido pela polícia local.
Shen Liangqin havia publicado nas mídias sociais um artigo sobre a explosão, originalmente publicado no site de notícias estrangeiro Boxun, com o tópico “Grande explosão em Tianjin”. Shen foi libertado nove dias depois.
O regime chinês é conhecido por censurar os meios de comunicação e da Internet chinesa após grandes desastres, como foi o caso do surto do SARS em 2003, os terremotos em 2008 e 2011, e o mortífero acidente do trem de alta velocidade em 2011.
Shen disse a um repórter do Epoch Times em uma troca no Twitter que, em sua opinião, em comparação com outros abusos na China, “minha punição pode ser considerada relativamente leve”.