O julgamento de Ratko Mladic, o ex-comandante do exército sérvio-bósnio acusado de cometer crimes contra a humanidade e genocídio durante a guerra da Bósnia em meados dos anos 90, começou na quarta-feira.
O procurador Dermot Groome disse na abertura do julgamento em Haia que Mladic, que foi preso no ano passado depois de foragido por 15 anos, intentava realizar uma “limpeza étnica” na Bósnia de pessoas que não eram de origem sérvia, incluindo muçulmanos e croatas, de acordo com um vídeo do processo. O ex-comandante militar de 70 anos, que enfrenta 11 acusações de crimes contra a humanidade e crimes de guerra, incluindo genocídio, negou qualquer transgressão.
A promotoria alegou que Mladic foi o cérebro por trás do massacre de Srebrenica de mais de 7 mil homens e meninos muçulmanos bósnios em julho de 1995, bem como de um cerco de quase três anos à capital de Sarajevo. Durante o cerco, a cidade foi constantemente bombardeada e alvejada por atiradores de elite, e teve seu suprimento de alimentos, água, medicamentos e eletricidade cortados para cerca de 400 mil habitantes.
Ele também é acusado de crimes cometidos no leste e noroeste da Bósnia e Herzegovina, incluindo tortura, execuções extrajudiciais, estupro e outras irregularidades. “As mãos de Ratko Mladic estão visíveis em todos os crimes contra não-sérvios na Bósnia, de Markale a Srebrenica”, disse Groome, de acordo com a emissora B92 baseada na Sérvia.
Groome disse que os documentos e declarações feitas por Mladic e outros altos funcionários durante o período fornecem prova além de qualquer dúvida que o ex-chefe-militar sabia dos crimes cometidos. Ele citou as entradas de um diário que foi encontrado na casa onde Mladic estava hospedado em Belgrado, e onde ele foi encontrado no ano passado.
Sob Mladic, “líderes sérvio-bósnios começaram a atacar seus concidadãos na Bósnia só porque pertenciam a outra religião ou nação”, disse Groome. “As forças sérvio-bósnias se tornaram bem experientes pelo fim da guerra e especialistas em matar pessoas”, acrescentou ele.
Sobreviventes da guerra participaram da abertura do julgamento. “É a primeira vez que eu vi esse homem, hoje, o homem responsável por genocídio e crimes de guerra na Bósnia-Herzegovina junto com o líder político Karadzic”, disse Satko Mujagic, um sobrevivente dos centros de detenção de Omarska e Manjaca dirigidos pelos sérvio-bósnios, à BBC. “Para ser capaz de ver onde ele pertence e, especialmente, por causa da minha própria história de ser detido de forma totalmente ilegal como um jovem civil em Omarska e Manjaca por 200 dias”, acrescentou ele.