Colômbia: as FARC e a teoria da capitulação de Juan Manuel Santos

27/05/2015 08:00 Atualizado: 27/05/2015 08:43

Ante o mistério que encerra o entreguismo de Santos ante as FARC, ante a impossibilidade de saber, no momento, o que é que há por trás da obstinação de fazer concessões sem contraprestação a esse perigoso bando armado e aos cubanos, resta o recurso de fazer, ao menos, o inventário das motivações intelectuais que poderiam explicar essa particular atitude.

Pois deve haver teorias que incendeiam essa mente. Só a loucura gasosa do Prêmio Nobel que lhe prometeram não dá para tanto. Examinemos pois uma dessas teorias, que tem a vantagem de aparecer a cada certo tempo nos discursos do presidente. Juan Manuel Santos, de vez em quando, diz ser partidário da “terceira via”, sem explicar a qual das numerosas variantes dessa construção ele é adepto.

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Como se sabe, essa fórmula serve para designar programas e visões do campo político e social muito diversas. A frase foi lançada pela primeira vez pelo Papa Pio XI, em sua encíclica Quadragesimo Anno (1931), a qual procurava um caminho entre o socialismo e o capitalismo.

O líder trabalhista britânico Blair e o presidente Clinton adotaram depois essa fórmula para ilustrar outros combates políticos, como haviam feito o sociólogo norte-americano Wright Mills, o teórico comunista Ota Sik, e como farão o primeiro ministro holandês Win Kok, o chanceler alemão Gerhard Schröder e até o nefasto ditador Muamar Kadhafi.

Outro partidário da “terceira via” foi o social-democrata Olof Palme, primeiro ministro da Suécia de 1982 a 1986 [1]. Os soviéticos tentavam nesses anos dividir a aliança atlântica. Em vez de denunciar isso, Palme tratava de apaziguar Moscou. Por isso atacava violentamente a política exterior dos Estados Unidos no Vietnã e no Oriente Médio, e financiava as guerrilhas centro-americanas, o que não impedia a Suécia de desfrutar, ao mesmo tempo, da proteção militar dos Estados Unidos e da OTAN.

Palme estimava que ante a impossibilidade de derrotar um vizinho agressivo como a URSS, a única política era fazer-lhe vênias, pois uma linha de firmeza, por exemplo, como a que seguia Ronald Reagan, seria um fracasso. A vida demonstrou quão equivocado Palme estava, pois a política de Reagan contra o império expansionista soviético acabou por dar frutos espetaculares em 1990: a Alemanha foi reunificada, a URSS foi derrubada e o comunismo, ao menos na Europa, ficou reduzido a pó.

Com sua linha branda, Palme conseguiu que as incursões de submarinos soviéticos em águas do Mar Báltico, em vez de decrescer, aumentaram. É o affaire “Whisky on the rocks”. As forças navais suecas gastaram em 14 anos 4 bilhões de coroas (dois bilhões de dólares) em novas instalações de radar e em operações, o que incluiu bombardeios ar/mar, para tratar de caçar os submarinos intrusos. Nunca conseguiu nada e se algo acabou com essa história, foi o desmoronamento do ogro soviético e não as lamentáveis políticas de capitulação de Palme ante o bloco do Leste.

O presidente Santos defende uma teoria similar à de Palme: como não é possível, diz ele, derrotar as FARC, deve-se capitular ante as FARC. Essa teoria de que as FARC não são derrotáveis é falsa e os dois governos do presidente Uribe provaram o contrário. Entretanto, a teoria da capitulação voltou ao poder e seus resultados são desastrosos: as FARC se reorganizaram, cresceu sua agressividade e a mesa de Havana resultou ser uma vulgar janelinha por onde Timochenko passa suas exigências e Santos obedece.

O último capítulo da rajada de aceitações humilhantes ocorreu na segunda-feira (25) quando Santos nomeou um novo ministro da Defesa. Tirou Juan Carlos Pinzón que, apesar de ser um soldado disciplinado de Santos, não deixava de assinalar o caráter criminoso das ações das FARC e até criticou certos aspectos do “processo de paz”. Pinzón, filho de uma família militar, pronunciou-se sempre contra a pretensão das FARC de “reduzir” as Forças Armadas da Colômbia. Ele foi substituído por um advogado de ampla trajetória no setor privado, Luis Carlos Villegas, que foi vítima das FARC: sua filha foi sequestrada no ano 2000 e mantida em cativeiro durante três meses.

Embaixador até a próxima semana em Washington, Villegas intercambiará seu posto com Juan Carlos Pinzón. A imprensa santista assegura que Villegas é o homem ideal para fazer a “reconversão para um cenário de término do conflito”. As FARC, de novo, ganharam uma partida.

“A paz não pode ser um caminho para que os violentos alcancem o poder”, advertiu Pinzón ao se despedir na Escola Militar. Como interpretar essa frase tão importante? Ele era um obstáculo para a aceleração das capitulações? Pinzón se felicita de ter dado golpes severos às FARC e aos outros bandos criminosos, e de haver criado 9 forças-tarefa, 18 brigadas móveis e duas brigadas de infantaria de Marinha em seus 44 meses à frente do ministério. O que restará dessas estruturas se a linha de debilitar a força pública se impõe ao todo? A rajada de destituições de altos oficiais, o de deixar em terra a força aérea, e abolir a aspersão aérea dos cultivos ilícitos é só o começo? O próximo passo será o cessar fogo bilateral?

A “terceira via” de Santos nos está levando a becos sem saída como ocorreu a outros.

Nota do autor:

[1] Palme foi assassinado numa rua de Estocolmo em 28 de fevereiro de 1986. Esse crime não foi elucidado. Um dependente de drogas foi detido mas em 2011 a revista alemã Focus afirmou que o pistoleiro era um membro do serviço secreto da Iugoslávia que vive tranquilamente na Croácia

Tradução: Graça Salgueiro